Mudanças no Bitcoin? Não é uma boa ideia

💥️Por Jamil Civitarese/ysoke.com & Recentemente, houve um salto positivo no preço das criptomoedas. Puxado pelas altcoins, a alta reflete boas notícias. Após algum tempo sem grandes novidades tecnológicas, o Litecoin anunciou a adoção da tecnologia Mimblewimble, uma ferramenta que ao mesmo tempo resolve privacidade e leva a maior escalabilidade.

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Mesmo projetos que já possuem soluções para privacidade têm considerado adotar algumas partes desse novo protocolo, como recentemente anunciou Ricardo Spagni da Monero. Houve, enfim, a primeira boa notícia real do ano. Esse protocolo tem potencial para se espalhar por parte considerável do ecossistema. Há novos ares de maior privacidade, velocidade nas transações e possibilidade de adoção real das criptomoedas como meio de pagamento.

A beleza das criptomoedas passa por esse caráter experimental que elas trazem. Recentemente, ao ler o livro “The Bitcoin Standard” de Saifedean Ammous, me percebi com certa antipatia a defesas muito passionais de que uma determinada será claramente a maior criptomoeda no futuro. Estamos com uma tecnologia de apenas dez anos, é difícil arriscar um vencedor quando ainda há novos protocolos e ideias surgindo em alta velocidade. Uma inovação passível de ser implementada por vários protocolos tende a favorecer o Bitcoin, por ele ter maior segurança dada por tempo de existência e maior hash rate.

Se ele for igual a todas as outras na adoção de uma novidade, ele continuará com essas vantagens comparativas em todo caso. O que removeria o Bitcoin de sua privilegiada posição seria uma tecnologia que o desbancasse ou uma falha inesperada. Isso não parece trivial e possivelmente não acontecerá.

Entretanto, uma luz amarela se acendeu para mim nessa semana. Houve no twitter uma discussão sobre eventual redução do tamanho do bloco do Bitcoin para incentivar a adoção da Lightning Network, rede que opera sobre a blockchain do Bitcoin pequenas transações em altíssima velocidade. A lógica econômica parece parcialmente correta: menores blocos implicariam em maiores taxas de transação para transacionar Bitcoins. Se o custo da Lightning é menor, há uma redução do preço relativo e mais pessoas migrariam para suas transações para essa nova estrutura.

O problema é que há impactos da redução do tamanho do bloco na segurança a longo prazo. Isso pode ser considerado uma falha “inesperada”, pela falta de conhecimento sobre como agentes por vezes decidem. A lógica é baseada na escolha racional dos mineradores na blockchain do Bitcoin, que se financiam via a emissão de novas moedas (inflação) e via custos de transação que usuários pagam. Conforme o tempo passa, a inflação diminui — haverá mais uma redução em 2023, as chamadas reward halvings — e a resiliência da rede depende mais das transações.

A redução do tamanho dos blocos em prol da Lightning Network pode descontentar mineradores que desejam lucros a longo prazo e terão menor volume de transação sem, possivelmente, um aumento no preço que seja grande o suficiente para compensar essa perda. Conforme o veterano do debate em criptomoedas Cobra afirmou: propor isso seria quase que necessariamente causar um cisma na comunidade Bitcoin.

A mudança no bloco por conjuntura seria uma quebra também na ideia de imutabilidade que permeia toda a cultura Bitcoin: só mudar o código por razões técnicas extremamente fortes. Essa cultura favorece a confiança na moeda e, de certa maneira, é favorável a ela por afastar novidades que podem vir acompanhadas de bugs.

Por fim, duvido bastante que essa mudança seja implementada. Em todo o caso, esse tipo de discussão mostra como ainda é instável a liderança de uma moeda nesse mercado. Inovações podem ser contextualizadas num ambiente evolutivo e, com tantos projetos já existentes, e entrantes com novas tecnologias, ainda é cedo para dizer como as coisas se desdobrarão.

Creio que o Bitcoin possui uma grande vantagem por ser o primeiro e por sua cultura, mas muita coisa ainda pode mudar. Nesses últimos dias mudou para melhor, com mais uma grande criptomoeda se voltando para resistência, privacidade e maior capacidade de transações. No processo de mercado, inovações negativas podem acontecer, mas, até agora, há poucos indícios que elas ocorrerão sistematicamente para as criptomoedas. Com a competição viva, contudo, acompanhar diversos projetos ainda é fundamental, mais do que apenas torcer ou defender um maximalismo em particular.

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