Felipe Miranda: Paideia financeira
💥️Por Felipe Miranda, CEO da Empiricus Research
Pela ordem. O primeiro assunto é questão de justiça, o elemento existente para organizar a desordem, permitindo assim a harmonia na busca do Bem – o conceito mais Absoluto na Paideia de Platão. A educação e a formação ética do homem requerem uma abordagem ampla e completa – o escopo da educação financeira é só um pedacinho de uma composição de ginástica, gramática, retórica, música, matemática, história, filosofia.
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Ontem, voltei a questionar os COEs oferecidos por bancos e corretoras e a falta de transparência a eles associada. A essência dos comentários da véspera está preservada intacta. Algumas ponderações, porém, são necessárias.
A primeira delas é que, embora haja claramente problemas no segmento, existem também coisas boas e gente séria trabalhando para oferecer bons produtos. De fato, o COE é um produto de margem alta para bancos e corretoras, mas virou uma espécie de clichê, disfarçado de discurso sofisticado e politicamente correto, falar mal desse negócio. Agora, muita gente resolveu tecer críticas superficiais sobre os COEs sem sequer entender o que está ali dentro.
Em outras palavras, há bons COEs no mercado. A mim, sempre interessou a matriz de retornos potenciais que caracteriza o produto. Perdas limitadas no caso negativo (por vezes, até sem perdas potenciais nominalmente), ganhos grandes no cenário positivo.
Preciso também ser justo com a estruturação dos COEs. Ontem, especificamente, falei do produto alavancado sobre o fundo Pimco Income. É necessário apresentar o outro lado da moeda. Se o Morgan Stanley, na montagem do COE, acessasse o fundo de menor taxa, poderia até cobrar menos do investidor, mas não poderia alavancar tantas vezes o patrimônio, o que retiraria parte da atratividade do produto e de seus retornos potenciais.
Também é louvável a regra interna do compliance do Morgan Stanley de impedir custos maiores de 2% ao ano para o investidor num produto desse, sendo que o banco fica com 0,35%.
Isso resulta em alguns produtos bons, como, por exemplo, o que o próprio Morgan Stanley fez para o fundo Global Opportunities, com resultados bem interessantes.
Juntando as histórias de ontem e de hoje num resumo com proposta pragmática: vamos dar total transparência às taxas. Isso resolve o problema. Separamos o joio do trigo e mostramos ao investidor quem realmente está ao seu lado.
Agora podemos mudar de assunto?
“Em economia, as coisas demoram mais tempo para acontecer do que você pensa (que demorariam) e, então, elas acontecem mais rápido do que você pensava que elas poderiam acontecer.” A frase é de Rudi Dornbusch e serve para vários contextos.
Gosto dela pois se alinha a uma de minhas maiores bandeiras: a de que os movimentos dos ativos financeiros não acontecem em trajetória linear, previsível, bem-comportada. As coisas andam em grandes saltos súbitos. Se o Ibovespa sobe, sei lá, 40% num ano, não é um comportamento de 3% todo mês.
Rola uma disparada de 15 purça em janeiro, depois fica de lado, cai uns dois meses, sobe mais 10% em 20 dias, daí para. Vamos numa caminhada errática e imprevisível até que se componha o retorno anual – depois, sob o benefício do olhar em retrospectiva, parece simples e gradual, como se uma espécie de materialismo histórico obrigasse o curso das cotações àquela concreta trajetória passada.
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Em tempo: não há nada mais idiota do que “materialismo histórico”. Antes de nascer, Hitler tinha 50% de chance de ser mulher. A História se monta muito mais por reunião de forças e acontecimentos aleatórios do que por condições materiais inexoráveis.
Daí inferem-se dois corolários importantes para o investidor, que na verdade poderiam ser sintetizados num único, pois em essência são a mesma coisa: i) você precisa ficar alocado para capturar os grandes saltos; e ii) não há como fazer “market timing”, apertar o gatilho um dia antes de uma grande disparada ou ejetar seu assento numa determinada posição na véspera de uma grande queda.
Você vai ficar lá à espera da visita do estrangeiro à B3 por meses e meses. Nossa obsessão por um futuro previsível, linear e controlado (a razão é uma grande emoção, é o desejo de controle) vai imaginar que o capital gringo chegará de mansinho, aos poucos, testando o terreno, supostamente permitindo uma entrada simultânea dos locais, para que ambos participem do bailinho dançando música lenta bem grudados.
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