Sidnei Nehme: não é ousada projeção com o preço do dólar quase inelástico até maio
💥️Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO
Temos a forte convicção de que o preço da moeda americana no nosso mercado terá um comportamento linear e absolutamente estável ou estagnada ao longo do próximo trimestre (março-maio), que será totalmente absorvido pelo absoluto foco nas discussões políticas, corporativas e ideológicas em torno do andamento da Reforma da Previdência.
Deixando evidente o nosso ponto de vista. Entendemos que o preço do dólar flutuará no intervalo de R$ 3,70 a R$ 3,75, com discreta volatilidade com frágeis fundamentos, centrado no Brasil e seu problema central é insensível ao contexto do cenário externo.
Naturalmente haverá quem identifique num ou noutro fato externo as razões da volatilidade, mas acreditamos que isto será sempre um “pano de fundo” de baixa consistência, servindo, contudo, para justificar a volatilidade.
Por exemplo, atribui-se impactos de idas e vindas ao embate entre China e USA, repercutindo internamente os avanços como fato positivo para o Brasil, quando na realidade o que é bom para China e USA não é rigorosamente bom para o Brasil, são nossos concorrentes em inúmeros itens de exportação, e na medida em que se alinhem teremos reflexos negativos na nossa balança comercial e isto impactará no nosso déficit em transações correntes.
Este ambiente deverá causar certa “paralisia” na tomada de decisões dos principais setores da economia brasileira, já que mantido como está o contexto binário das perspectivas, embora inquietante será inevitável que iniba iniciativas mais contundentes, em especial nos investimentos em conta capital, e também pela ausência de fundamentos sólidos no mercado acionário.
Desta forma não há como se aguardar mudança de comportamento dos investidores estrangeiros até que se tenha evidência concreta sobre a resultante da proposta de Reforma da Previdência apresentada pelo governo e que é considerada fundamental para que ocorra o “destravamento” da economia no sentido de retomada consistente da sua atividade.
Enquanto prevalecer a perspectiva binária não acreditamos que os investidores estrangeiros mudem a postura em relação ao Brasil, e como, nossa expectativa, a aprovação final deve ocorrer no segundo semestre e não se sabe com que grau de diluição e desidratação, já é razoável diminuir as perspectivas de volumes imaginados de fluxos de investimentos estrangeiros para o Brasil neste ano.
O tempo que será despendido nos debates e embates em torno da Reforma da Previdência vai muito além das expectativas, e isto é negativo para um país que tem pressa e necessidade de se articular para superar seus problemas maiores e focar no desenvolvimento.
Esta percepção não é nova de nossa parte sobre a morosidade e dificuldades na trajetória da proposta da Reforma da Previdência, e, por vezes, salientamos que este fato impactaria nas projeções do PIB para este ano, assim como colocaria a curva inflacionária em declínio, fomentando a perspectiva de redução da taxa SELIC.
Cresce e ganha eco agora está percepção.
O ambiente persiste otimista, embora tendo presente perspectiva ainda binária, o que não permite que se estabeleçam tendências sustentáveis. Há ainda muitas dúvidas e inseguranças quanto ao grau de desidratação que a Reforma possa vir a sofrer, e isto é relevante dada à grandeza da crise fiscal do país.
A Bovespa cujo fundamento maior é a perspectiva da atividade econômica tem um viés de alta contido, revelando insustentabilidade para avanço maior neste cenário atual e é carente de perspectivas econômicas sustentáveis e de aportes dos investidores estrangeiros, em especial, por isso não tem conseguido atingir os 100 mil pontos.
O câmbio é um setor onde o país tem situação de conforto, bem defendido pela situação das contas externas, polpudas reservas cambiais, déficit em transações correntes em torno de 0,8% com viés de alta em 2023 e que pode ir um pouco além das projeções se a balança comercial não confirmar as projeções.
O “entusiasmo” com as perspectivas iniciais de que o país sofreria um grande afluxo de investimentos estrangeiros promoveu projeções exacerbadas indicando que o preço da moeda americana pudesse retroceder a R$ 3,20 a R$ 3,30, mas sempre nos pareceu improvável, e admitíamos um recuo ao nível de R$ 3,50, porém sempre ressaltando que no Brasil a influência do mercado futuro é maior do que a do mercado a vista, pelo fato do país deter reservas cambiais que não sugerem risco de liquidez.
O Boletim FOCUS tem projetado a taxa cambial para o final do ano em R$ 3,70, o que não está fora do ponto, e não descartamos que este seja o padrão da taxa para o ano todo, embora neste momento a projetemos no intervalo entre R$ 3,70 a R$ 3,75, para o trimestre próximo março-maio.
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