Felipe Miranda: Como eu ganhei dinheiro com ações?
💥️Por Felipe Miranda, CEO da Empiricus Research
Sabe por que eu ganhei dinheiro investindo em ações? Por uma razão muito simples: porque estou nessa há bastante tempo.
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Não tem mérito pessoal, competência particular, um saber diferenciado. Nada disso. Por influência do meu pai, lá estava eu com 13 anos em frente a um terminal Enfoque especulando com aquelas Globo Nabo – fiel à etimologia, deu nabo, óbvio. Comecei cedo nos reclames do PLIM4, PLIM4 e, após vários prejuízos, pude me beneficiar da passagem de 20 e poucos anos.
Você se expõe de maneira diversificada em ações por muito tempo e, uma hora, a sorte o atinge. Eu só acredito nisso.
O diabo é sábio não porque é diabo, mas porque é velho.
O que os bilionários brasileiros ligados ao mercado de capitais têm em comum? Eles são velhos. Pode conferir. Com todo o respeito, claro. Exceções que confirmam a regra são André Esteves e Guilherme Benchimol e, talvez por isso, candidatos naturais a homens mais ricos do Brasil no futuro. Ficaram bilionários muito cedo, aí é outra história.
Veja o Buffett. Obviamente, é genial e tudo mais. Mas estou aqui na dúvida sobre quem tem mais idade: ele ou a Muralha da China. Ah, não, estou certo de que seu sócio Charlie Munger (também multibilionário) supera ambos nessa corrida. Bom, melhor dizer caminhada, porque corrida mesmo acho que não rola mais.
Hoje o posto de homem mais rico do Brasil é ocupado pelo Sr. Joseph Safra. Ele foi chefe do papai por muito tempo e, portanto, sou enormemente grato ao sujeito. Falo de coração. Sem o Safra, certamente eu não estaria aqui. Devo muita coisa a ele – embora, claro, reconheça minha insignificância e saiba que o “Seu José” não faz a menor ideia da minha existência. Sei bem meu lugarzinho no mundo. Agora, sendo bem sincero aqui, segredo nosso, suspeito que se somar o Buffett, o Munger e a Muralha da China não dá a idade dele.
Vão lhe contar várias histórias sobre a necessidade de se investir em ações pensando no longo prazo. Confesso que também sou adepto da proposta em termos pragmáticos. Ação sem longo prazo é Buchecha sem Claudinho, futebol sem bola, Piu-Piu sem Frajola. Mas discordo totalmente dos argumentos tipicamente usados para convencê-lo da prática.
Alguns vão dizer que o preço dos ativos financeiros obedece a um processo chamado passeio aleatório no curto prazo. Ou seja, o preço amanhã equivaleria ao preço hoje mais um ruído aleatório de média zero e variância constante. Em português, isso quer dizer que não teríamos qualquer capacidade preditiva sobre os preços no curto prazo, de tal modo que comprar ações pensando em lucros rápidos implicaria sujeitar-se por completo à aleatoriedade. Nada diferente de um cassino.
Eu concordo com isso. Mas o problema é que não me parece haver muita diferença para o longo prazo. A incerteza e a aleatoriedade não desaparecem pela mera dilatação do horizonte temporal do investimento.
Para combater esse meu contra-argumento, a tréplica usual afirma que, no longo prazo, o preço (a cotação de uma determinada ação no momento) converge para seu valor intrínseco (quanto efetivamente deveria valor a respectiva ação a partir dos “fundamentos econômicos”, em tese, materiais, concretos e tangíveis, daquela empresa), como se o mercado de capitais fosse regido pelas mesmas leis do magnetismo, sendo esse valor intrínseco o polo atrator dos preços.
Se existe esse tal valor intrínseco, alguém precisa me apresentar para esse cara, porque eu nunca vi mais gordo. Pela descrição acima, parece um camarada bem importante e influente. Quero conhecê-lo.
Segundo o arcabouço clássico da chamada Escola Fundamentalista (seria um fundamentalismo do tipo religioso? Tipo “fundamentalista islâmico”? Esse me parece menos radical do que o adotado pelos analistas de bancos e corretoras), o valor intrínseco é definido pela soma dos fluxos de caixa de hoje até o infinito, trazidos a valor presente por uma taxa de desconto apropriada.
Daí pergunto: como conhecer hoje os fluxos de caixa futuros se, por definição, eles estão no futuro? A incerteza e a aleatoriedade permanecem, entende? Não adianta você dilatar o horizonte temporal para tentar tirar a aleatoriedade do processo. Na verdade, pelo contrário. Quanto mais tempo envolvido, maior a chance de dispersão causada pela aleatoriedade.
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(O leitor não técnico pode pular o parágrafo a seguir.)
E qual é a tal taxa de desconto apropriada? Ah, tá. A resposta técnica seria: o WACC, o custo médio ponderado do capital. Mas, se fôssemos rigorosos, também precisaríamos estimar esse cara período a período, pois ele varia no tempo (embora, na prática, adota-se um único WACC para todos os momentos). De novo, caímos no problema de penetrar o futuro.
Ainda combatendo a ideia de valor intrínseco, recorro a Tony Judt em “O Peso da Responsabilidade”: “(…) os seres humanos têm crenças e são movidos por elas de várias maneiras, e isso é tão parte da realidade quanto a disposição de armamentos e as forças de produção”. E como muito bem lembrou Raymond Aron, o realismo seria irrealista se “ignorasse os julgamentos morais que os cidadãos fazem sobre os governos, ou os interesses dos atores em uma sociedade”.
A realidade está também sujeita às crenças, às expectativas e aos interesses dos agentes econômicos. Assim sendo, não há nem pode haver um valor intrínseco de determinada empresa, pois a empresa, sendo parte da realidade, está sujeita às crenças, às expectativas e aos interesses de terceiros. Intrínseco é inerente, inapartável, indissociável, algo que tem importância e significado próprios, independentemente da relação com outras coisas. Definitivamente, não é o caso das ações e das empresas, que sofrem influência externa. Logo, só pode haver valor extrínseco, não intrínseco.
Seria lindo se houvesse um preço de tela e um valor intrínseco facilmente identificável a partir de uma técnica qualquer, dominada pelos financistas de plantão. É uma história bonita, crível e cirurgicamente desenhada para acalentar nosso desejo de controle, como se a realidade fosse bem-comportada e mapeada. Que força gravitacional – e platônica – é essa?
Como muito bem sintetizou Alberto Dines, “há situações verossímeis que não são verdadeiras. E vice-versa”. A história pode ser bonita e crível, mas simplesmente não é verdadeira.
Você precisa do tempo para investir em ações apenas porque é justamente ele que vai fazer a mais atraente característica da renda variável – a antifrágil convexidade – se manifestar.
Se você comprar 100 ações hoje e vendê-las amanhã, qual deve ser seu resultado? Sei lá, um terço vai cair em média 1%; outro terço vai ficar mais ou menos parado e o restante vai subir 1%. Você empata a princípio. Ao pagar corretagem, sai perdedor (mas a corretora agradece, claro).
Agora, se você comprar 100 ações hoje e vendê-las daqui a 50 anos, qual deve ser seu resultado? Um terço vai quebrar (perda de 100% em cada investida), outro terço vai ficar no zero a zero e o restante vai se multiplicar por várias vezes (ganhos muito maiores do que 100% em cada investida).
Em outras palavras, você precisa do tempo para ter retornos extremos. E retornos extremos são positivos para o investidor em Bolsa, porque o extremo negativo é -100%. E o extremo positivo é infinito.
Tudo que se beneficia de valores extremos ganha com o tempo. Para mim, essa é a prova quase aritmética do porquê você deve investir em ações pensando no longo prazo. Use a sorte e a aleatoriedade a seu favor. Com sorte, você atravessa o mundo. Sem ela, você não atravessa a rua.
Encerro com dois comentários finais. Primeiramente, parabenizando todas as mulheres investidoras, ainda minoria no difícil mercado de capitais, dominado por níveis elevados de testosterona. Parabéns pelo dia e pelos lucros superiores àqueles apurados pelos homens (sim, há estudos provando isso). Fica o registro especial às mulheres da Empiricus, com particular carinho a Beatriz Nantes, Luciana Seabra e Olivia Alonso – é um real privilégio tê-las como sócias.
Depois, deixo uma pergunta: “Optou pela renda fixa? O melhor curso você encontra aqui! Se você quer desenvolver seu conhecimento em renda fixa, o curso Formação no Mercado de Renda Fixa é pra você. Entre outras coisas, ele apresenta formas de imunização de riscos para investir em renda fixa. Ficou interessado? Vem com a gente!”. Talvez você tenha achado que essa é uma comunicação da Empiricus para ofertar um novo curso ou uma nova assinatura; na verdade, é uma oferta da B3 Educação. Marketing digital, com imunização de riscos, a gente vê por aqui.
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