Gabriel Casonato: Já ouviu falar em “melt-up”?
💥️Por Gabriel Casonato, Editor do Agora Financial
Caro leitor,
As ações americanas voltaram a ficar “quentes”. Depois de uma surra no final do ano passado, os principais índices de ações em Wall Street retomaram sua rotina de recordes.
A rápida e intensa recuperação encontrou no discurso mais dovish dos bancos centrais e nos resultados corporativos seu combustível necessário. Mas será que estes dois fatores de fato justificam a melhora de sentimento entre os investidores?
Ou este extraordinário desempenho do mercado desde o início do ano é mais um ingrediente de preocupação para o futuro? Os mais desconfiados acreditam que estamos vendo o sprint final antes de uma correção definitiva no preço das ações. Algo que por lá eles chamam de “melt-up”, termo ainda sem tradução no Brasil.
O principal executivo da BlackRock, a maior gestora de recursos do planeta, é um dos que estão adotando a linha mais pessimista.
Para Larry Fink, as Bolsas ainda têm folego para subir um pouco mais no curto prazo, mas as condições da economia dificilmente sustentarão um rali mais longo.
Vamos então à diferença entre algo genuinamente bom e algo que é bom demais para ser verdade.
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Nem aqui nos EUA existe uma definição consensual para o chamado “melt-up”. Você não encontrará no dicionário. Os grandes gestores costumam dizer que está nos olhos de quem vê.
Em linhas gerais então, é um termo usado para descrever um evento específico de mercado: um forte rali impulsionado puramente pelo sentimento dos investidores, com grandes volumes e alta volatilidade.
Ou seja, o otimismo do mercado se desvinculou dos fundamentos, e os investidores estão perseguindo retornos saltando em um movimento ascendente.
Um “melt-up” não dá a quem está de fora a chance de comprar na baixa – tudo é baseado no momento e no medo de perder o rali. Não há critérios exatos para classificá-lo, mas o termo é usado quando um mercado passou de ganhos constantes para ganhos crescentes.
Considere o início de 2018… Depois de um ano em que o S&P 500 caminhou a passos lentos, com apenas um punhado de ganhos diários acima de 1 por cento, ele passou a disparar logo em janeiro alimentado pelo otimismo em torno do corte de juros pelo Fed.
A valorização de 5,6 por cento naquele mês impulsionou o índice acima do que muitos analistas previram que terminaria o ano, com uma variedade de métricas sinalizando que as ações estavam em território tecnicamente esticado.
A euforia terminou com um estrondo: o dia 5 de fevereiro trouxe o maior salto diário em muito tempo para o VIX, o “índice do medo” que mede a volatilidade do mercado acionário. Um exemplo clássico de “melt-up” que temos vivo na memória é o caso da bolha pontocom em 1999/2000.
Os preços das ações dispararam e os volumes aumentaram à medida que os investidores compraram, enquanto o crescimento dos lucros não acompanhou.
Não havia uma base sólida justificar as expectativas exageradamente otimistas, o que significava o prenúncio de uma bolha no mercado – e a consequente queda. Então, um “melt-up” é o mesmo que uma bolha?
Não, eles não são sinônimos. E, novamente, os fundamentos – ou a falta deles – são a chave.
Um “melt-up” pode empurrar os preços para o território da bolha se a onda compradora não estiver em sintonia com coisas como resultados corporativos e indicadores econômicos. Mas se os fundamentos embasarem a boa performance do mercado em um período de tempo razoável, é possível que uma bolha seja evitada.
Na verdade, em retrospectiva, o “melt-up” seria algo como um rali justificado, o dinheiro inteligente se antecipando a uma tendência. Se for o caso agora, seria a última grande onda de valorização antes de uma correção mais duradoura em Wall Street, que viria principalmente a partir dos impactos da desaceleração da atividade global.
O problema é que ninguém sabe ao certo quando essa virada vai acontecer.
E enquanto ela não chega, a maioria dos investidores aproveita para injetar mais dinheiro e alimentar ainda mais o atual bull market em vigor nos EUA. De minha parte, como tenho reiterado diversas vezes aqui, no curto prazo permaneço otimista com as ações de um modo geral.
E mesmo se a maré mudar, sempre existirá a possibilidade de encontrarmos boas opções de ativos no maior mercado do planeta.
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