CPI: mais um ex-diretor da Vale nega responsabilidade sobre tragédia em Brumadinho
Rodrigo compareceu acompanhado do advogado, contratado pela mineradora, e declarou que, mesmo afastado do cargo, continua recebendo salário ( imagem: Pedro França/Agência Senado)
O ex-gerente-executivo operacional da 💥️Vale no complexo minerário Paraopeba (MG), Rodrigo Artur Gomes de Melo, foi ouvido pela CPI de Brumadinho, nesta quinta-feira (16).
Ele tinha responsabilidade direta sobre o monitoramento da estrutura da barragem 1 da mina Córrego do Feijão, que se rompeu em 25 de janeiro, matando 238 pessoas e deixando 32 desaparecidas, segundo dados recentes da Defesa Civil de Minas Gerais.
A juíza plantonista Perla Saliba Brito, da Comarca de💥️ Brumadinho, decretou a prisão temporária de Rodrigo dois dias após a ruptura (ele ficou dez dias detido) e a força tarefa do Ministério Público que investiga as causas da tragédia recomendou seu afastamento da Vale desde 29 de janeiro.
Rodrigo compareceu à CPI acompanhado do advogado Leonardo Sales, contratado pela mineradora, e declarou que, mesmo afastado do cargo, continua recebendo salário.
Carlos Viana quis saber de quem era a decisão de mudar o refeitório da frente da mancha de inundação da barragem de Brumadinho (Presidência da República/Divulgação)
O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) disse ser difícil para os parlamentares acreditarem nas respostas dos depoentes, observando que a Vale paga os advogados de todos os investigados pela CPI.
— Nós estamos aqui fazendo perguntas sérias, mas como vamos acreditar que ele vai chegar aqui e falar a verdade, e nada mais do que a verdade, sendo contratado e tendo defesa paga pela própria Vale? É muito difícil — lamentou.
De acordo com o relator da CPI, senador Carlos Viana (PSD-MG), Rodrigo Melo também era gerente executivo do complexo Mina da Alegria, e foi investigado no inquérito da Polícia Federal que apurou as responsabilidades na tragédia de Mariana, em 2015. O depoente, no entanto, negou qualquer envolvimento sobre a tragédia.
— Não tive relação com o acidente da barragem de Fundão. Em 25 anos de profissão, posso falar que sempre cumpri minha profissão de forma verdadeira e achar uma resposta para isso é muito difícil. Eu poderia estar entre os mortos, perdi um terço da minha equipe e não tenho porque não falar a verdade.
Carlos Viana quis saber de quem era a decisão de mudar o refeitório da frente da mancha de inundação da barragem de Brumadinho. Rodrigo, no entanto, respondeu que não pode ser responsabilizado, porque não tinha a função de fazer o monitoramento da barragem.
💥️Questionamentos
A presidente da CPI, senadora Rose de Freitas (Pode-ES), se mostrou surpresa com as respostas do ex-gerente da Vale. Ela relembrou que, ao ser ouvido pelos senadores em abril, o executivo da área de Recursos Hídricos da Vale Felipe Rocha declarou que todos os diretores estavam cientes dos riscos de rompimento da barragem.
— Ele não sugeriu, ele afirmou expressamente. Então, quem, afinal de contas, está dizendo a verdade neste processo? O senhor não acha que uma declaração dessas tem um peso na lógica de raciocínio que esta CPI, o Ministério Público, a Polícia Federal estão construindo? — indagou a senadora.
Rodrigo Melo respondeu que não é responsável pelas palavras de Felipe Rocha. Declarou que tinha a atribuição de fazer a gestão operacional da lavra, do beneficiamento e do embarque de minérios, mas ressaltou que esse processo era feito a seco e, portanto, sem utilização de barragem desde 2015.
— A obrigação de fazer o monitoramento, o controle, a auditagem e a inspeção era de uma área técnica, fora da minha atribuição.
O senador Otto Alencar (PSD-BA), por sua vez, ponderou que muitas vidas teriam sido poupadas se a Vale tivesse mudado o lugar da estrutura administrativa e do refeitório da mineradora em Brumadinho. O parlamentar disse que a empresa cometeu um crime ao não realizar as modificações.
E considerou que a companhia não se interessou em fazê-las por causa dos custos, “já que os lucros sempre estiveram acima da vida das pessoas”.
Otto alertou que outras barragens, a exemplo da Gongo Soco, localizada na região central de Minas Gerais, também estão na iminência de romper. E frisou que nenhuma das respostas dadas por Rodrigo Melo à CPI o convencerá da inocência dos diretores da Vale.
— Considero o senhor um assassino. E a Vale é uma empresa assassina. Não tem como o senhor nos convencer de que não tem culpa. Não adianta fazer cara de paisagem, achar que não aconteceu nada, porque aconteceu, sim — indignou-se o parlamentar.
💥️Adiamento
Nesta quinta-feira, também estava prevista a oitiva do ex-gerente-executivo de Geotecnia Operacional da Vale, Joaquim Pedro de Toledo. Ele alegou impossibilidade de comparecimento, e a data para o depoimento será reagendada.
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