Felipe Miranda: Ideias do contra, lucros a favor
“Não espero rigorosamente nada de seu governo e passarei a torcer contra ela um dia depois da posse. Sou um homem simples.” Assim começava texto de Diogo Mainardi às vésperas das eleições de 2014, de título “Sou Marina (até a posse)”. Há muito tempo, Diogo é um antagonista. É motivo de orgulho tê-lo como sócio.
Aquele que considero o maior provocateur brasileiro continuava assim:
“Sou um homem simples: acredito que, a cada quatro anos, é necessário trocar o bandido que nos governa. Tira-se um, bota-se outro qualquer em seu lugar. Nunca votei para presidente e, por isso mesmo, nunca me arrependi por ter votado num determinado candidato.
O voto nulo é sempre o melhor — o menos vexaminoso, o menos degradante. Isso não quer dizer que não me interesse pelas eleições. Ao contrário: acompanho fanaticamente todas as campanhas e, no tempo ocioso, que corresponde a mais ou menos quatro quintos de meu dia, pondero sobre a fanfarronice daquela gente pitoresca que pede nosso voto. Além de ponderar sobre a fanfarronice daquela gente pitoresca que pede nosso voto, sou um especialista em torcer contra.
Torci contra Fernando Henrique Cardoso em 1998. Torci contra Lula em 2002. Torci contra Lula — e torci muito — em 2006. Torci contra Dilma em 2010. Agora estou torcendo novamente contra ela. Como se nota, além de ser um especialista em torcer contra, sou também um especialista em derrotas eleitorais. E quem se importa? Com tanto tempo ocioso, aprendi a esperar.”
Verdade é que já havia me encantado por Mainardi em junho de 2013, tocado pela sua coluna “Meu pequeno búlgaro”, em que ele relata o diagnóstico de paralisia cerebral de seu filho. Reli o texto hoje de manhã para poder escrever isto aqui — voltei a me emocionar. Mas não é esse meu foco.
Volto à questão do antagonismo, que é mais a minha praia, uma certa empatia pelo marginal (no sentido de quem está à margem do central), pelo perdedor, pelo azarão, como se pudéssemos transfigurar a opressão por liberdade, a derrota por aprendizado, o desprezo por busca de reconhecimento.
Na obra de Jean Genet, até mesmo os elementos mais degradantes podem se tornar sublimes. Fezes viram flores, celas de prisão transformam-se em templos sagrados, prisioneiros mais facínoras ganham contornos de ternura. Ok, ok. Jean Genet pode assustar. Fácil formular uma imagem de pária, para alguém que chegou a aceitar para si mesmo o rótulo de ladrão.
Querendo ou não, a verdade, porém, é que temos em todos nós um caráter “do contra”. A Empiricus mesmo nasceu para antagonizar com o sistema financeiro conflitado, oligopolizado e careiro, que condena a pessoa física a uma espécie de Série B, em que são oferecidas taxas altas e produtos ruins ou desalinhados a seu real interesse.
Por mais que cresçamos e nos institucionalizemos (sim, isso está acontecendo, com suas coisas boas e ruins), certa rebeldia e oposição ao sistema marcam o caráter da Empresa — é uma de suas características de essência e concepção, da qual nos orgulhamos, inclusive.
Pensando de forma mais abrangente, toda disrupção é uma forma de antagonismo, uma proposta de superação do modelo anterior vigente — ou, ao menos, de apresentação de alternativa ao modelo anterior vigente —, com atributos diferentes ou até mesmo contrários à proposta pregressa.
Assim evolui o capitalismo, a partir da destruição criativa de Schumpeter, em que o novo insurge rebelde e irresponsavelmente contra o velho, trazendo ganhos de produtividade e desenvolvimento econômico (ainda que possa vir com custos distributivos de curto prazo).
E se você ainda resiste à ideia, sinto lhe informar, mas, no final do dia, somos apenas uma poeira cósmica resultante de uma sequência de eventos aleatórios derivados de erros que se voltaram contra o anterior, consensual e aparentemente adequado sequenciamento do DNA. A mutação genética não seria também um antagonismo à correta carga anterior?
É da oposição contínua e gladiadora entre tese e antítese que evolui a história a partir da dialética hegeliana, formando-se uma nova síntese (ao menos supostamente) superior à prévia. Exige-se uma tese contrária à vigente para haver progresso, entende? É por isso que deveríamos valorizar a perspectiva contrária — e até mesmo nos colocar na posição contrária, pois muitas vezes ela é a vencedora do embate dialético.
Para piorar as coisas, há ainda a perspectiva individual de falta de saída para uma divergência constante entre forças dionisíacas e apolíneas que vigorariam dentro da gente, numa eterna e insuperável disputa interna, cujo resultado final só poderia ser uma tentativa de equilíbrio, em que essas coisas conviveriam apenas razoavelmente bem-comportadas.
E já estaria bom demais, pois a verdade é que não há saída para esse labirinto do Minotauro — estamos condenados a conviver com nós mesmos e nossas ambivalências.
Sabe, todos querem me convencer que os juros longos — os longões, bem loooongos mesmo — não oferecem a mesma combinação risco-retorno das Bs 24. Não quero eu desafiar os deuses, mas a verdade é que penso que eles estão errados.
Talvez receba como punição ter de subir uma montanha interminável com uma pedra pesada nas costas pelo resto da vida. Paciência. O que me parece que lhes escapa é que estamos diante de uma distribuição condicional de probabilidade. A princípio, a combinação risco-retorno da B24 pode ser superior à da B55 (ou 50, ou 45 — a mais longa disponível, qualquer paixão me diverte nesse inferninho; como diria Sérgio Reis, panela velha é que faz comida boa).
No entanto, dado que a Previdência vai passar robusta e com folga de votos (o que oferece belo readthrough para reformas posteriores), que o Copom vai reduzir a Selic em 1 ponto (o juro longo pode não cair tanto, mas o efeito da duration é brutal) e há efeitos estruturais no mundo inteiro empurrando a curva de juros para baixo, daí a história muda de figura.
Condicionado a essas coisas, então a B5X é a minha favorita. E precisa ser condicionado a essas coisas, porque o mundo não é ceteris paribus, você não pode parar as coisas como se a realidade fosse um exercício de estática comparativa do Marshall; há dinâmica na vida real e você precisa introduzir o seu viés analítico a matrizes esterilizadas de combinações de risco-retorno.
Isso é muito mais arte do que ciência. A Economia só se afastou da História e das Ciências Sociais numa tentativa de aproximar-se do hard science e parecer tão rigorosa e formal quanto as ciências naturais.
Para fazê-lo, preciso adotar a hipótese de ergodicidade (desculpe o palavrão). Esqueceu-se do pequeno problema de que a realidade é não ergódica (oops, palavrão de novo). Não à toa, o economista ganhou a alcunha de “physics envy”.
Aí vem uma turma de equities insistindo para abandonarmos por completo os shoppings, que esse setor morreu, que tudo agora é e-commerce e que o Brasil vai passar pelo mesmo processo que os EUA, que isso vai ficar largado eternamente.
Eu acho mesmo é que é para comprar Aliansce a 13 vezes FFO, com bom crescimento de última linha e geração de valor de 650 paus no deal com a Sonae — isso sem falar que pode ter mais consolidação por vir aí na frente.
E tem a mídia dizendo que o setor financeiro voltou a ter forte presença nas carteiras recomendadas para junho, com as ações dos bancos Bradesco, Banco do Brasil — ambos com cinco indicações — e Itaú Unibanco, com três sugestões, além dos papéis do IRB, também com três.
Olha, até ok para os bancos, que me parecem ter mesmo ficado baratos diante dos temores de que não há como combater os monstros das fintechs. Agora, IRB é mais para shortear do que para comprar. Há uma esquadra de argumentos para isso, passando pelo valuation esticado e por questionamentos por aí de uma eventual agressividade contábil.
Para finalizar, existe todo esse frenesi hoje com o julgamento no Supremo sobre a possibilidade de as estatais privatizarem ativos sem a necessidade de licitação e autorização do Congresso. Isso, assim como os preços do petróleo, tem pesado bastante sobre as ações da Petrobras. Petróleo é sempre um problema, claro. Afinal, ainda é uma petroleira.
Mas commodity vai e vem, não me parecendo caro aos níveis atuais. Já, já o Trump ameaça jogar uma bomba no Irã numa retórica eleitoral e acaba com a sangria. Ou algo parecido. Sobre o STF, há a chance de vitória em favor de privatizações mais céleres. Mas, mais do que isso, se não for por aí, haverá outro jeito.
Foi igual o caso da MP do Saneamento — estava bem claro e inclusive falada aqui neste espaço a oportunidade de compra. A vibe em favor de privatizações e melhora de governança em estatais está dada, de uma forma ou de outra. Compre enquanto está barato, desafiando o consenso.
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