Angela Bittencourt: “O Itaú quebrou!” — mas se o Itaú quebrar, acabou o Brasil

Mercados

“O Itaú é um dos maiores pagadores de dividendos do mercado brasileiro”, afirma colunista (Imagem: Pixabay)

O Itaú quebrou, o Itaú quebrou!” Gelei ao entrar em casa, tarde da noite, e ouvir o meu caçula, Julio, desesperado, colado à janela da sala. O garoto, de 4 anos (se tanto), repetia a frase que, para mim, era uma sentença de morte: precisaria voltar correndo para a Redação, encarar uma madrugada de apuração urgente que deixaria, quase certamente, a desejar.

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Enquanto o Parris, meu filho mais velho, distraía o pequeno, eu tentava manter a calma e organizar as ideias. Naquele momento, lamentei profundamente ser a editora de finanças da Gazeta Mercantil — função que aceitei desempenhar porque só assim poderia ganhar um pouco mais e bancar as despesas de casa… Espero que você não tenha tido essa experiência, mas quem já terminou um casamento sabe o quanto evitamos pedir qualquer coisa ao “ex”. Era o meu caso.

Mas não havia tempo para lamúria, arrependimento ou remorso. À caça da agenda com os telefones dos executivos do “bancão” — o Itaú era o segundo maior do país em meados de 1980 — me perguntava como teria acontecido tamanha desgraça.

Pior, como nós, na Redação, não ficamos sabendo! Cabeças iriam rolar… inclusive a minha. Pensando em conter o prejuízo, me ocorreu perguntar ao caçula como ele ficara sabendo da “quebra” do Itaú. Ele era muito pequeno. Foi a TV, imaginei, mas a resposta me deixou furiosa e com a cara no chão. “Apagou! Não funciona mais”, decretou o Julio, apontando para o relógio do Itaú, um ícone da Avenida Paulista.

Jurei que nunca mais daria ouvidos a uma criança tagarela — muito menos à noite.

O tempo passou, o meu caçula cresceu. O Itaú também. E 32 anos depois daquela noite “do barulho”, em 2016 o Itaú tornou-se o maior banco privado do Brasil. A fusão com o Unibanco, em 2008, ajudou a empurrar a instituição ao topo, e o relógio instalado no Conjunto Nacional, na Paulista, segue sob o patrocínio da instituição há 44 anos.

Assim como o Itaú, o relógio diz muito sobre a economia brasileira. Em 1962, o “relógio do Itaú” foi instalado originalmente pela Willys Overland e com ela ficou até 1967, quando a companhia e o relógio passaram para os domínios da Ford Motor Co. Em 1975, o Itaú adquiriu o espaço publicitário da montadora que, neste 2023, anunciou o fechamento da fábrica no ABC paulista e uma redução brutal das operações no Brasil.

Empresas maduras

O Itaú é um dos maiores pagadores de dividendos do mercado brasileiro. E, por essa razão, faz parte da série Vacas Leiteiras, da Empiricus. “O Itaú é uma das poucas empresas brasileiras que consegue gerar tanto valor para os acionistas por tanto tempo”, explica Sergio Oba, editor da série que reúne uma elite de 10 ações pagadoras de dividendos e 4 “Bezerras” — empresas ainda em maturação.

“As Vacas Leiteiras são uma elite de empresas consolidadas e com um longo histórico de remuneração aos acionistas, sendo a distribuição de dividendos sua prioridade. As empresas maduras são resilientes. Já fizeram investimentos consistentes. Os dividendos são, na prática, o retorno desses investimentos compartilhados com aqueles que apostaram em sua expansão”, diz Oba, que compara o Itaú a um elefante que se movimenta como um leopardo. “É um banco comercial, talvez o único do mundo que também tem o melhor banco de investimento. E que opera com o olhar no futuro. Não à toa, comprou a XP.”

O meu colega aqui na Empiricus, David Cardoso é editor-assistente de Sergio Oba na série Vacas Leiteiras e explica que as Bezerras são empresas em fase de maturação. Ainda não estão consolidadas. Portanto, têm espaço para crescimento. E isso pode significar necessidade de aumentar seu endividamento para ampliar o negócio, ainda que por meio de aquisição de outras companhias. A prioridade das Bezerras não é pagar dividendos, mas amadurecer, avançar, na sua atividade. No tempo, sua expansão será relevante para os investidores de renda.

A distribuição recorrente e sustentável de proventos emite sinais de que (possivelmente) as empresas possuem baixa necessidade de capital, têm baixo endividamento e estão consolidadas em seus setores. E essas características garantem qualidade na distribuição dos proventos, descreve David, para lembrar que as Bezerras ainda estão a caminho desse estágio. Não chegaram lá.

A estratégia de dividendos em um ambiente de juros baixos cai como uma “luva” para o investidor, lembra Sergio Oba, que dá um exemplo: “Em um cenário de Selic a 6,5 por cento ou em direção a 5 por cento em algum tempo, um dividend yield [rentabilidade do dividendo de uma empresa em relação ao preço da ação] de 7 ou 8 por cento vale muito. É algo a considerar”.

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