Produzir mais carne em menos tempo melhora negócio da genética bovina & Parte 2

ÉRIKA BANNWART

Meio sangue angus, como os de Érika Bannwart, são valorizados no segmento de cruzamento industrial (Imagem: ÉRIKA BANNWART)

Os tourinhos de dois anos negociados agora foram emprenhados em 2016 e a bezerrada, vendida pós-desmana, em 2017. Os anos de crise não indicavam melhora relativa das condições verificadas em 2023, portanto os criadores não investiram tanto em dar mais volume de animais de boa genética para reprodução. Daqui para frente, com base nos preços mais altos da atual temporada e nas possíveis tendências positivas para a carne nos próximos anos, é que poderão manejar investimentos no aumento da produção de animais para melhoramento do plantel do boi gordo.

Érika Bannwart, com seus bezerros machos e fêmeas meio sangue angus, concorda. Dos 500 animais de 2018 ofertados na Fazenda do Engenho, o número deverá ser semelhante este ano, mas a preços médios de R$ 100,00 acima a cabeça (machos R$ 1,650 e fêmeas R$ 1,430). Com o segmento da reposição aquecido – quando o recriador e invernista vendem o boi e compram animais mais jovens para recompor a boiada olhando os ciclos futuros -, a expectativa de que “é possível deslanchar “ já entra no planejamento da fazendeira de Pirajuí (SP).

Detalhe: são animais cruzados entre touros britânicos angus e matrizes nelores, classificados de cruzamento industrial, modelo da pecuária que cresce consideravelmente pela qualidade da carne, bem apreciada no mercado externo & inclusive para a venda de animais vivos & e nos nichos das butiques das grandes cidades brasileiras.

No caso da oferta de animais PO (puro de origem) angus, por exemplo, a Casa Branca Agropastoril prevê crescimento este ano, segundo o criador Paulo de Castro Marques. No leilão de abril, o faturamento foi de R$ 451,9 mil, com touros a R$ 11,9 mil e vacas a R$ 7,6 mil, na média. Juntando com os animais simental e brahman também ofertados no remate (faturamento total de R$ 900 mil) e no próximo, de setembro, a empresa avalia aumento de 10% sobre a geração de R$ 2,5 milhões de 2018. Entram também touros leiloados para as centrais de inseminação artificial, focadas na venda de sêmens.

Puxando a fila

“O ano está positivo para a pecuária. Apesar das oscilações dos preços da arroba do boi gordo, o desempenho das exportações é muito bom. Além disso, esperamos para breve a retomada do crescimento econômico. Todos esses fatores são favoráveis à carne bovina e contribuem para o fortalecimento de toda a cadeia produtiva, incluindo a venda de genética para reprodução”, destaca Castro Marques, cujo criatório está em Silvianópolis (MG).

O fortalecimento dos vendedores de genética também é o fortalecimento natural de quem está na cria do nelore, o fornecedor daqueles que vão recriar e/ou terminar para abate. Aldoardo Pereira, da Agropecuária Paulete, de Goiás, não tem visto seus clientes venderem bezerros nelores machos abaixo de R$ 1,8 mil – e já soube de negócios em até R$ 2 mil. Os touros para reprodução da Paulete podem alcançar preço base a partir de R$ 9,5 mil no único leilão próprio de 2023, em setembro, às portas da estação de monta, de acordo com a expectativa do empresário.

O ano passado, nos dois certames de venda e na porteira da fazenda, Pereira já havia sentido melhora, tanto que os animais vendidos a R$ 8 e R$ 8,5 mil, “foram de fundo de leilão”.

Na maior vendedora de touros CEIP (certificado de garantia de programa de melhoramento garantido pelo Ministério de Agricultura e Pecuária) nelore, a Agropecuária CFM, o gerente Tamires Miranda Neto não oferece previsões de números, mas estima melhor desempenho que no “megaleilão” de 2018, quando a média superou R$ 10 mil /cabeça, resultando numa receita bruta de R$ 5,8 milhões. O próximo será em agosto, onde cerca de mil reprodutores, nascidos em 2017, irão ao tatersal e também no online.

“As exportações estão crescendo, especialmente com o fator China, e há expectativa de melhora da demanda interna, e os pecuaristas analisam o seu investimento a médio prazo, uma vez que os touros comprados agora vão gerar os primeiros animais em dois anos”, explica o executivo de pecuária do grupo, nascido sobre a forte e extinta marca Anglo, que no geral acredita manter os 1,350 animais fornecidos até dezembro.

Marca é negócio

Na temporada passada, a CV Nelore Mocho negociou cerca de 800 touros, sendo uma parte animais de repasse acima de 30 meses de idade. Nesta, a empresa, com propriedades em Paulínia e no Pontal do Paranapanema, em São Paulo, entregou ao mercado 250 reprodutores de 21 meses, de 600 kgs, no leilão de março e deve manter a marca nos dois próximos, de agosto e setembro.

De acordo com o diretor Ricardo Viacava, animais MGTE médio top 5% (índice genético criado pela Associação Nacional dos Criadores e Pesquisadores, ANCP). Nada abaixo de R$ 9,5 mil, entre R$ 1 e R$ 1,5 mil por cabeça sobre 2018, estima.

No Norte do Mato Grosso, sem o peso China prevalecendo, mas com o aumento da integração da pecuária-lavoura oferecendo comida mais barata (especialmente milho) para animais de semi-confinamento e confinamento, a procura por gado de boa qualidade para gerar mais carne em menor tempo também é sentida pela Marca 40, de Sinop/Alta Floresta. Carlos Eduardo Dias negociou recentemente, em leilão conjunto com outras marcas, mais de três mil bezerros e bezerras, com os machos alcançando média de R$ 6,67/kg.

O valor não foi tão diferenciado sobre o ano passado, mas a seleção genética de suas crias deu peso mais elevado para os animais, de 231 kgs. E a liquidez igualmente compensou.

O aquecimento da genética reprodutora, principalmente para aqueles mais novos no negócio, vai também exigir um trabalho de identificação e consolidação das marcas no mercado. “Os produtores vão ter que mostrar aos compradores por que devem confiar nelas e comprar o ‘meu’ touro”, acentua Argeu Silveira, diretor-técnico da ANCP.

Ou seja, os recriadores, terminadores e os que estão no ciclo completo vão querer pagar por um produto que terão certeza que vai entregar.  E isso pode diferenciar estratégias, como é o caso da CV, que apenas oferta em 10 parcelas (1 + 9), contra a média nacional que chega a até 30 meses.

*Amanhã, 11/7, segue a terceira parte desta reportagem.

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