Irã estoca milhares de barris de petróleo em portos chineses
A China recebeu cerca de 12 milhões de toneladas de petróleo iraniano de janeiro a maio, segundo dados de rastreamento de navios
Petroleiros estão descarregando milhões de barris de petróleo iraniano em tanques de armazenamento de portos da China, criando um tesouro da commodity às portas do maior importador do mundo.
Dois meses e meio depois de a Casa Branca ter proibido a compra de petróleo do Irã, o país continua enviando o produto para a China, onde é colocado no chamado “armazenamento alfandegado”, disseram pessoas com conhecimento das operações em vários portos chineses. Esses carregamentos ainda não passaram pela alfândega chinesa nem aparecem nos dados de importação do país e, por isso, por enquanto não violariam as sanções. Embora estejam fora de circulação, a presença desses carregamentos paira sobre o mercado.
O estoque de petróleo iraniano tem potencial de pressionar para baixo as cotações globais caso as refinarias chinesas decidam usá-lo, mesmo com os cortes da produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados diante do desaquecimento das maiores economias. Além disso, com isso o Irã continua produzindo e pode estocar o petróleo para mais perto de potenciais compradores.
“As remessas de petróleo iraniano têm sido enviadas para o armazenamento alfandegado chinês há alguns meses e continuam sendo apesar do escrutínio”, disse Rachel Yew, analista da consultoria FGE, em Cingapura. “Podemos ver por que um produtor faria isso, já que um acúmulo de oferta perto dos principais compradores é claramente benéfico para um vendedor, especialmente se as sanções forem flexibilizadas em algum momento.”
Mais petróleo iraniano pode estar a caminho dos tanques de armazenamento alfandegado da China, segundo dados de rastreamento da Bloomberg. Pelo menos dez navios de petróleo de grande porte e duas embarcações menores de propriedade da estatal National Iranian Oil e seu braço de navegação estão atualmente navegando em direção à China ou à deriva ao largo da costa. Os navios têm capacidade de carga combinada de mais de 20 milhões de barris.
A maior parte do petróleo iraniano nos tanques alfandegados da China ainda é de propriedade de Teerã e, portanto, não infringe as sanções, segundo as fontes. O petróleo não atravessou a alfândega chinesa, então, teoricamente, está em trânsito.
No entanto, parte do petróleo é de propriedade de entidades chinesas que podem tê-lo recebido em troca de programas de investimento. Por exemplo, uma das empresas chinesas poderia ter ajudado a financiar um projeto de produção no Irã sob um acordo a ser pago em petróleo. Não se sabe se esse tipo de operação violaria as sanções. Por isso, as empresas estão mantendo os carregamentos no depósito alfandegado para evitar o escrutínio oficial caso fossem registrados na alfândega, segundo as pessoas.
A China recebeu cerca de 12 milhões de toneladas de petróleo iraniano de janeiro a maio, segundo dados de rastreamento de navios em relação aos cerca de 10 milhões liberados pela alfândega durante o período. A discrepância pode ser devido ao fluxo de petróleo no armazenamento alfandegado. A China divulga nos próximos dias os dados de comércio de junho, que incluirão uma distribuição por país das importações de petróleo.
A Administração Geral de Alfândegas da China não respondeu a um fax com pedido de comentário.
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