Rodolfo Amstalden: Carteiras Livres para Investidores Livres
“Será que o mercado livre cria homens livres, ou será que são os homens livres que criam, univocamente, mercados livres?” (Imagem: Bloomberg)
Se você acha os americanos bons por terem reduzido os juros em 25 bps, saiba que somos duas vezes bons. Reduzimos em 50 bps.
A conta é de padeiro, sem prêmio por risco cambial, sem efeitos marginais, e assim é uma conta gostosa de se fazer.
Falar procê: de vez em quando, eu gosto de imitar os americanos. Ganhar deles de virada, dois a um, jogando fora de casa.
Queremos superar aqueles que mais admiramos, todo dia é Dia dos Pais.
Paulo Guedes e Sachsida, por exemplo, comemoraram um Dia dos Pais na terça passada, quando o espírito de Milton Friedman completou 117 anos.
Toda essa história de 14º salário por ano com resgate do FGTS, de IR negativo, que até parece bandeira da esquerda, descende dos vouchers do Friedman.
O que é direita e o que é esquerda, afinal, perto de uma boa ideia que sobrevive ao tempo?
Em 1974, Friedman andava escrevendo bastante. Ele sempre escreveu muito bem. Isso acabou resultando em um paper clássico, embora pouco conhecido por estas bandas: “Free Markets for Free Men”.
O texto começa desta forma, provocativa:
Será que o mercado livre cria homens livres, ou será que são os homens livres que criam, univocamente, mercados livres?
Embora a segunda hipótese pareça mais convidativa à luz do Humanismo, ela é empiricamente descartada.
Na União Soviética, homens perfeitamente livres criaram um modelo de mercado totalitário.
Então, isso pode ou não acontecer. Homens livres podem criar qualquer coisa.
A partir desse ponto — confesso —, eu estava imaginando que Milton começaria a exaltar os founding fathers americanos em detrimento aos russos.
Seria chato pra caralho.
Mas não é o que ele faz.
Primeiro, ele deixa claro que os genes humanos que ocuparam a Rússia são da mesma espécie dos que ocuparam os EUA.
Em seguida, Friedman argumenta que os mercados livres de EUA e Reino Unido podem ser facilmente interpretados como frutos do acaso, muito mais do que de um improvável berço liberal.
A ética protestante, com seu espírito do capitalismo, é estória bonita de se contar. Mas quem mandou na porra toda, como sempre, foi o Cisne Negro.
Bom, se o acaso funcionou por lá, pode vir a funcionar por aqui também. Nossas chances aumentam à medida que menos dependemos do espírito macunaímico.
De repente, a falha de tantos projetos totalitários de governo resultará em uma maior propensão tupiniquim ao genuíno liberalismo.
Ou talvez, à moda inglesa, nos revoltemos contra tarifas de importação, sei lá.
Pode dar certo, meio sem querer.
E pode dar certo apenas porque é sem querer.
Já vi muito investidor livre montar carteiras de merda nesta vida.
Por outro lado, um ETF de Bolsa de baixo custo, carregado por um bom tempo, sempre teima em produzir investidores livres.
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