Empresa de salmão da Bain Capital desata crise no Chile

Salmão-chile

Vários escândalos atingiram o crescente setor de salmão do Chile nos últimos anos. Por exemplo, os cerca de 900 mil peixes que escaparam para o oceano Pacífico ou a proliferação de algas (Imagem: Luis Sergio/Bloomberg)

Há uma empresa de criação de salmão localizada no extremo sul do Chile, chamada Nova Austral. A empresa, cujo metade do capital é controlado pela gigante de private equity Bain Capital, é rápida em destacar que seu salmão é livre de antibióticos.

É uma grande jogada de marketing. Os salmões criados em cativeiros cheios de antibióticos afastam muitos consumidores. Por isso, o salmão livre de antibióticos pode obter prêmios de até 30% em relação aos que possuem nos mercados internacionais. Já o salmão selvagem, pescado em seu habitat, vale quatro vezes mais do que os criados em cativeiro.

Ao clicar no site da Nova Austral, aparecerão imagens das águas geladas da Antártida, rajadas de neve e da costa da Patagônia. A marca da empresa, Sixty South, pode ser encontrada em redes como a Fresh Direct, de Nova York, entre outros estabelecimentos nos EUA. “Puro salmão, naturalmente”, afirma a empresa.

O que o site não diz é que a empresa foi forçada a reconhecer no mês passado que uma investigação publicada pelo jornal local El Mostrador era verídica: a Nova Austral havia alterado dados de mortalidade dos peixes aos reguladores. Os salmões da empresa estavam morrendo em números alarmantes, e esse dado foi escondido do público.

Vários escândalos atingiram o crescente setor de salmão do Chile nos últimos anos. Por exemplo, os cerca de 900 mil peixes que escaparam para o oceano Pacífico ou a proliferação de algas, que ambientalistas atribuíram em parte à criação de salmões e que causou estragos na costa chilena.

Não há indícios de que a Nova Austral tenha vendido peixes doentes aos varejistas, mas, ainda assim, o incidente causou uma polêmica de proporções inéditas no Chile & que responde por cerca de 25% da oferta mundial. Reguladores estão pressionando por um processo civil; parlamentares pedem por uma regulamentação mais rígida; o principal executivo da Nova Austral, Nicos Nicolaides, foi afastado do cargo; e o preço dos títulos de dívida da empresa no mercado externo caíram para 60 centavos de dólar.

“O que aconteceu com a Nova Austral é intolerável”, disse Alejandro Buschmann, biólogo e professor da Universidade de Los Lagos, com sede na principal região produtora de salmão do Chile. “Este ato desonesto lança dúvidas sobre todo o setor de salmão, porque não há provas de que isso não tenha acontecido com outras empresas.”

A diretoria da Nova Austral cooperou totalmente com os órgãos reguladores e implementou medidas para garantir relatórios precisos sobre a mortalidade de peixes, disse a empresa em comunicado enviado por e-mail. Em teleconferência em julho, Harold Meyer, membro do conselho e diretor da Bain Capital, disse que a investigação identificou “falhas inaceitáveis”. Ele acrescentou que a Nova Austral “nunca colocou em risco padrões de produção, integridade de produtos e sustentabilidade”.

A Bain e a firma de private equity Altor Funds assumiram o controle da Nova Austral em 2014, depois que uma de suas empresas pagou US$ 183 milhões pelo negócio. As duas firmas de private equity não retornaram pedidos de comentários.

A marca Sixty South é frequentemente vendida em lojas de produtos orgânicos e saudáveis, como a Lunds & Byerlys, com 27 lojas de alto padrão no estado de Minneapolis, e em muitos restaurantes e hotéis, como o Loews New Orleans. Cerca de um terço da produção da empresa foi vendida nos EUA no ano passado. A Fresh Direct, Loews Hotels e Lunds & Byerlys não responderam imediatamente aos e-mails e ligações com pedidos de comentários.

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