HomeEcoaArticleSobre os acontecimentos mínimos, e a distância que instauram entre nós07/08/202434 O que um viu, o outro jamais verá. Cada um de nós não passa de uma ilha Imagem: iStokDizem que andamos cada vez mais afastados, que trocamos esta infinidade de palavras porque cada vez mais nos estranhamos. Não são poucos os que sentem findo o tempo das amizades reais. Sentem que estamos fadados à condição de espectros que falam demais, avatares que trocam afagos abstratos sem nunca alcançar o abraço veraz, feito do choque entre os torsos, das mãos espalmadas nas costas.Chega, no entanto, o dia inesperado que contraria tantos medos vagos, o dia em que somos muitos ao redor de uma mesa farta, e os copos estão cheios, e os risos são sonoros, e as almas engordam de alegria e entusiasmo. Em nosso caso éramos trinta numa ilha remota, sob um sol cálido que a brisa fresca aliviava. Amigos de distintas décadas e cenários, e os pequenos amigos que tomávamos de empréstimo e passávamos a conhecer melhor: seus filhos vivazes, ternos, cômicos em suas teimosias e alardes. Por uns dias, estar entre pessoas queridas era acreditar na doçura da vida e esquecer qualquer amargor da realidade. Assim descansávamos dos terrores e iniquidades do mundo, na paz embriagada dos iguais.Mas o caso é que todo equilíbrio é tênue, toda harmonia é delicada, e o mínimo acontecimento pode refundar a distância entre os próximos. Éramos muitos, eu dizia, e naquele pôr do sol fomos obrigados a nos dividir: precisaríamos de dois barcos para retornar do extremo da ilha onde a tarde fora boa e calma, como todas aquelas tardes. Com a serenidade dos desavisados nos cindimos. Metade subiu-se ao bojudo barco do mais velho pescador da comunidade; a outra metade meteu-se sem pressa no esguio barco turístico que parecia mais confortável.O que você está lendo é [Sobre os acontecimentos mínimos, e a distância que instauram entre nós].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.Links
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