Profeta do apocalipse, João Gordo canta sobre crise e apoia povo da rua

em entrevista recente para o. João Francisco Benedan, 59, rodou o underground mundial como vocalista (e principal letrista) da icônica banda Ratos de Porão. Ficou mais conhecido do público mainstream, no entanto, por seus trabalhos como apresentador e entrevistador - primeiro na Mtv, depois na Record e no YouTube.

Enfrentando alguns problemas de saúde e tentando deixar o consumo de álcool de lado, João foi se aproximando do "vício do outro" por meio do projeto Solidariedade Vegan, criado por sua esposa Viviane Torrico, com a sua ajuda, no auge da pandemia de covid-19. Através do ativismo 'na prática', ele começou a mudar sua forma de ver o mundo, em especial, a visão que tinha das pessoas em situação de rua.

Eu realmente não conseguia enxergar o povo da rua e comecei a ver esse tipo de ação, mudou muito a minha visão. Eu era frio como qualquer paulista, e não estava nem aí, hoje em dia já é uma coisa que me toca. Sempre tenho um saco de feijão no carro. 💥️João Gordo

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O projeto de solidariedade que leva comida a pessoas em situação de rua surgiu depois que a Central Panelaço, misto de restaurante vegano e loja alternativa, criado por Gordo e Vivi fechou no auge da pandemia de covid-19.

"No começo da pandemia fechamos o restaurante e sobrou muita coisa. Resolvemos pegar o que sobrou e levamos para um pessoal debaixo do Viaduto do Glicério, os caras não tinham nem água para beber e no meio disso tudo tinha o Magrão que era um amigo nosso, um catador de papelão, isso tocou muito a Viviane, que chegou em casa chorando e toda a família se uniu para ajudar", conta João Gordo em entrevista para 💥️Ecoa.

66 - André Horta/Brazil News - André Horta/Brazil News

Como você vai dar carne que vem cheia de maldade e crueldade para pessoas que também estão passando por maus-tratos? A comida vegana é muito mais barata.

💥️Viviane Torrico.

Fazer parte da cena de punk rock e heavy metal ajudou com que João Gordo e Torrico estimulassem bandas a participarem de iniciativas para ajudar pessoas em situação de rua - como com a ação 'Bandeirões contra o frio".

A iniciativa começou no inverno do ano passado. A ocupação Alcântara Machado tinha um grande problemas com pombos que entravam para defecar. As pessoas em situação de rua colocavam cobertores sujos, pesados e que não permitiam a entrada de luz nem ventilação.

💥️Viviane Torrico.

Agora, o local está protegido e decorado com os chamados backdrops das bandas. "Algumas bandas não usam [mais os bandeirões] e deixaram o local mais bonito e coberto, tendo como primeiras doações os bandeirões de Ratos de Porão, Sepultura, Krisiun, Torture Squad, Nervosa e Dead Fish. Atualmente, recebemos backdrops de algumas bandas do underground paulista", afirma Torrico.

João Gordo ajuda a 'instalar' bandeirões na ocupação Alcântara Machado debaixo do viaduto. - Viviane Torrico/ Arquivo Pessoal - Viviane Torrico/ Arquivo Pessoal o Pagode na Lata, que trabalha a redução de danos com usuários de crack e foi uma conexão importante para João Gordo compreender as pessoas nessa situação.

Uma das maiores experiências foi tocar pagode no fluxo com essa política de redução de danos. Na hora que estão tocando com a gente eles não estão fumando crack. É possível entender que é uma comunidade de pessoas doentes.

💥️João Gordo.

1 -  Andre Porto/ysoke -  Andre Porto/UOL
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No projeto, olhavam a gente de outra maneira, não como todo mundo olha, como um drogado, um vagabundo, muita gente passava pela gente e tapava o nariz, tinha um olhar indiferente. Há três anos que não bebo.

💥️Marco Aurélio Bini.

Punks sempre vigiaram destruição da natureza

"Morte pra quem defende o verde e os animais/Doenças, misérias, queimadas, devastação/Por que ninguém faz nada para os deter?/Cuidado, senão, Amazônia nunca mais!", Ratos de Porão, "Amazônia Nunca Mais" (1989)

rdp - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram

Recentemente, em suas redes sociais o músico relembrou a composição "Extinção em Massa", que fez em parceria para a banda Krisiun, lançada no álbum de 2011, que já alertava para o que o muito difundido antropoceno, era geológica marcada pelas ações do homem na natureza.

No movimento punk sempre fizemos letra de apocalipse nuclear nos anos 80, sempre teve essa paranoia com o fim do mundo e com a preocupação com a natureza e o que o homem branco faz para destruir, explorando sem preocupação. Fiz essa letra após ver um documentário em que era evidente a participação do homem na sexta extinção em massa. O homem e o capitalismo em si sugam as condições naturais sem pensar em nada.

💥️João Gordo.

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