Após transplante de coração, ela virou atleta e ganhou medalha olímpica

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É tão emocionante receber o sim de uma doação de órgão, a pessoa escolheu te salvar sem nem te conhecer. É um gesto de amor muito grande, e você é contagiado por isso",💥️ Patrícia Fonseca.

Recuperando o tempo perdido

Com um coração novo batendo no peito, a vida de Patrícia começou a mudar. Se na infância e adolescência ela não conseguia participar da educação física ou ir a alguns eventos com amigos por causa da saúde delicada, após a cirurgia, ela viu novas possibilidades.

"Em minha vida toda nunca pude fazer exercícios físicos. Mas logo no primeiro mês de transplante estava na academia do hospital me reabilitando", conta Patrícia, que depois de um ano e meio com coração nove começou a correr, pedalar e nadar com frequência.

Patrícia Fonseca e Priscilla Pignolatti na prova de ciclismo em Perth - Austrália  - Arquivo pessoal/Patrícia Fonseca  - Arquivo pessoal/Patrícia Fonseca

Patrícia foi a única transplantada de coração em sua categoria, ciclismo em equipe e triatlo, e teve de vencer além dos adversários um desafio da própria condição física dela:💥

"Quando o meu coração foi transplantado, cortou ao redor e não tem como religar todos os nervos. Então, ele demora mais para bater mais rápido, e atingir o batimento ideal em uma prova por conta da denervação. Sinto que o fato de ter me tornado atleta ajuda a desmistificar e inspirar outros transplantados mostrando que existe muita qualidade de vida depois do transplante".

Para Priscilla Pignolatti, gerente de projetos, 47, transplantada renal e que foi dupla de Patrícia na prova de ciclismo, foi um trabalho em equipe e estratégico. "O ✅staff ajudou na criação da estratégia e comunicava como estávamos em cada volta, o que fez termos ainda mais guerra para conquistar essa medalha", lembra.

369 pessoas esperam por um coração

A vida ativa e a possibilidade de mais autonomia fizeram Patrícia pensar em quem está na espera na fila de trasplante esperando um doador compatível ou em quem já realizou a cirurgia e agora mantém incertezas sobre como é viver com um órgão transplantado.

Por isso, Patrícia criou a ONG Soudoador em 2016, que luta pela conscientização da doação de órgãos e reúne histórias de pessoas que passaram e esperam pelo transplante.

Apesar do Brasil ainda ser uma referência internacional no procedimento, 45% dos casos em que a doação não é concretizada se dá pela recusa da família em doar, segundo os últimos dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos — um aumento de 3% em relação ao ano anterior.

Hoje, 369 pessoas esperam por um coração, assim como Patrícia. 💥️No geral, 56.453 pessoas que aguardam por algum tipo de órgão, de acordo com o último RBT (Registro Brasileiro de Transplantes).

Fazendo virar lei por alguém que não teve tempo a esperar

Em abril de 2023, Tatiane Penhalosa, que assim como Patrícia esperava por um transplante de coração, morreu. Em dois anos na fila, o órgão nunca chegou. No mesmo ano, 218 pessoas morreram esperando por um coração enquanto mais de 5.400 famílias disseram não à doação de órgãos.

Tatiane era amiga pessoal de Patrícia, que transformou a perda em força para ajudar outras pessoas, criando a Lei Tatiane (PL 2839/2019), com o objetivo de levar o assunto da doação e transplante de órgãos e tecidos nas escolas e faculdades do país.

"Desenvolvemos nos últimos anos, junto a pedagogos, um material didático sobre doação e transplante de órgãos e tecidos inédito e autoral, que será disponibilizado gratuitamente para as escolas e faculdades de todo Brasil".

O projeto de lei agora aguarda aprovação no Senado.

'Me mostrou que não era meu fim'

O engenheiro de produção Luis Pereira,49, atleta praticante de diversos esportes desde a infância, se tornou amigo de Patrícia no ápice na pandemia de covid-19, mesmo momento em que descobriu que teria que passar por um transplante de coração e um de medula óssea, e pensei que não seria possível continuar suas atividades físicas.

Luis Pereira correu junto com Patrícia na Olimpíada Dos Transplantados e viu nela uma inspiração. - Créditos: Arquivo pessoal/Patrícia Fonseca  - Créditos: Arquivo pessoal/Patrícia Fonseca

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