Voo 3054: por que maior tragédia da aviação brasileira acabou sem culpados

Antes, fariam uma escala aproximadamente no horário da colisão do avião.

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Por desencargo de consciência, Carmem conferiu o número do bilhete e, por um instante, sentiu-se aliviada: os números dos voos anunciados na TV não batiam e, a princípio, as três estariam a salvo. Não havia celular, então, sentou e esperou por um telefonema com a confirmação.

Mas a cobertura televisiva era caótica e, após alguns minutos, uma repórter corrigiu a informação divulgada anteriormente. A aeronave que havia caído era a mesma onde estavam a avó e as duas netas, o 3054 da TAM.

Nesse momento, eu não consigo mais ficar em pé. 💥️Carmem Caballero.

Maior tragédia da aviação brasileira

💥️Em 2023, o acidente completa 16 anos. As 187 pessoas a bordo morreram, entre passageiros e tripulação, além de doze pessoas próximas ao prédio, em um total de 199 mortes. É a maior tragédia da aviação brasileira.

💥️O Brasil passava pelo chamado "apagão aéreo" que, entre 2006 e 2007, provocou cancelamentos, atrasos e filas devido a uma "greve branca" de controladores de voo ocorrida após os desdobramentos da queda do avião da Gol, que fazia o voo 1907, em setembro de 2006.

Apesar de acordos em dinheiro fechados entre as famílias, companhias aéreas e fabricantes, nunca houve condenações ou prisões pelo que aconteceu. Não por falta de tentativas. Na época, a imprensa buscava especialistas que apontassem hipóteses, que sugeriam problemas com o tamanho da pista, a pouca área de escape e a chuva que caía no dia. As autoridades e as famílias também tentavam encontrar responsáveis: o governo federal, falha humana ou da aeronave, negligência de representantes de instituições áreas e a desorganização do setor aéreo no Brasil.

💥️Com a conclusão, os familiares começaram a se perguntar: afinal, quem deveria ser responsabilizado? A polícia e o Ministério Público de São Paulo indiciaram onze pessoas da Infraero, da Anac e da TAM. A Polícia Federal, no entanto, indiciou apenas os dois pilotos como os responsáveis pela tragédia. A Airbus também empurrou a responsabilidade para os pilotos mortos e para a Infraero.

"Foi uma conclusão covarde, conveniente: os mortos são os culpados. Os familiares nunca aceitaram essa versão de que os pilotos eram os culpados. No máximo, que eles foram induzidos ao erro", defendeu o jornalista Roberto Corrêa Gomes, em entrevista à Agência Brasil em 2022. O irmão dele, Mário Corrêa Gomes, foi uma das vítimas.

Em 2015, a Justiça Federal absolveu a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu, o então vice-presidente de operações da TAM, Alberto Fajerman, e o diretor de Segurança de Voo da empresa Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Castro, denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) por "atentado contra a segurança de transporte aéreo". Para a Justiça, os réus não agiram intencionalmente.

💥️Segundo Christophe, vice-presidente do grupo de familiares de acidentes aéreos, o maior legado do voo da TAM 3054 foi a criação de uma câmara de indenização para reparar as famílias e acelerar as perdas financeiras. O modelo para acelerar compensações pode ser usado em possíveis acidentes de grandes proporções. "Quanto seria a compensação, por exemplo, para a vida de uma vítima? Era essa a pergunta feita para as indenizações", explica.

De acordo com ele, foi calculado o cargo ocupado pelas vítimas e a defasagem econômica causada nas famílias enlutadas, muitas delas com problemas de saúde mental que se arrastam até hoje ou que perderam os principais provedores. Entre as vítimas, existiam de executivos a professores.

No meio da aviação e entre parte dos familiares, a explicação mais aceita é a de que uma série de erros e contextos causaram o acidente com o voo 3054 da Tam, em maior e menor escala, como indicava o relatório do Cenipa. Como acontece em todo acidente aéreo ao redor do mundo, a conclusão técnica buscou explicações e direcionamentos para evitar novos acidentes e vítimas.

Compensações

Procurada por💥️ Ecoa, a Latam Airlines (antiga TAM) afirma, em nota, se solidarizar "com todos aqueles que foram afetados por este acidente" e que, "embora consciente de que nada poderá compensar as perdas, a companhia se empenhou, desde o primeiro momento, em apoiar os familiares de todas as maneiras e concluir o mais rápido possível o procedimento de indenização". 💥️O valor das indenizações é mantido em segredo pela companhia aérea, que garante que todos os acordos já foram concluídos. Em 2017, dez anos após o acidente, após rodadas de negociações com os familiares, a Airbus anunciou um acordo de R$ 30 milhões com 93 parentes de 33 vítimas do 3054.

No final de 2022, a Infraero entregou a extensão de uma rampa para aumentar a área de frenagem das aeronaves em Congonhas, 15 anos depois do acidente.

💥️Ali na frente, onde ficava o prédio da TAM, foi erguido o memorial em homenagem às vítimas, inaugurado em 2015 pela Prefeitura de São Paulo. A praça possui uma árvore, a única sobrevivente do impacto, e bancos. No meio da obra, há um espelho d'água onde, no fundo, foram gravados os nomes das 199 vítimas do voo 3054, entre elas os de Elizabete, Júlia, Maria Isabel, Rebecca, Mario, Kleyber e Henrique.

💥️Reportagem Marcos Candido | 💥️Edição Fred Di Giacomo |

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