Por que o submersível importa e os refugiados não?
Não assustam as características que fazem dessa ocasião mais um exemplo nítido da desigualdade que assombra o mundo, momento em que ideias como a visita a um navio esquecido no mar sejam valiosas, tal qual o desejo de colonizar o planeta Marte, sonho ambicioso do bilionário Elon Musk. O dinheiro gasto nessas "viagens colonizadoras" é privado, claro, e seus bilionários têm a liberdade de se fazer o que se pensa e como se quer, mas esses exemplos expressam a falta de aptidão de quem tem, um deslocamento da realidade que inviabiliza causas que deveriam tornar o mundo mais viável a quem pouco tem.
O valor pago ao passeio em busca do navio perdido, que dura oito dias, é de cerca de US$ 250 mil, o que para nossa moeda, o real, chega ao patamar de R$ 1,19 milhão. O montante não resolve todos os problemas que violentam as populações mais pobres, como a fome, a falta de acesso à saúde, bem como o acesso à educação. Mas...
''Não sou fiscal de gastos alheios e penso que cada qual investe o dinheiro privado, da forma que lhe convém, especialmente porque o sistema capitalista e a sociedade do consumo assim caminham, por escolha ou por imposição. Mas é inevitável, diante das imagens recentes, de corpos sendo resgatados, no mar Egeu, não confrontar os desejos, as prioridades e as inquietações humanas'', resumiu a advogada e escritora Andréa Pachá, em post no Instagram, fazendo referência aos milhares de refugiados invisíveis que buscam abrigo na União Europeia.
À Andréa e a quem mais sentir, choca a profundidade e relevância dada a momentos como esses, em que a comunicação tende a visibilizar atitudes insanas em detrimento de outras notícias, como por exemplo, o genocídio que acomete os refugiados em alto mar.
No fim, só nos cabe perguntar: ''Quantos refugiados lançados ao mar, por desespero, seriam resgatados, com bilhões lançados ao mar, por frivolidade, no submersível desaparecido?''
A vida não é justa.
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