Barbeiro faz sucesso cortando cabelo de crianças autistas: Meu propósito VivaBem

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O que para a maioria é algo comum e rotineiro, para crianças autistas e suas famílias, cortar o cabelo pode ser motivo de grande estresse, pois envolve diversas questões sensoriais que podem desorganizar a criança, a ponto de ser aversivo e doloroso para ela, explica a terapeuta ocupacional Ellen Mendes, que atua na área de desenvolvimento infantil, síndromes, distúrbios comportamentais e transtorno do espectro autista na clínica Emedi, em Belém, no Pará.

As primeiras vezes que cortou o cabelo de crianças com TEA (transtorno do espectro autista), Mallas não sabia que elas eram autistas e muito menos o que era autismo, mas o "feito" do barbeiro gerou uma repercussão positiva entre os pais que passaram a divulgar seu trabalho e a procura pelo serviço aumentou.

Para atender a demanda, Mallas pesquisou sobre autismo na internet e passou a estudar os atendimentos que fazia para ver o que funcionava e o que não funcionava, levando em consideração as peculiaridades de cada criança. A partir daí foi criando estratégias e fazendo testes.

Não existe fórmula mágica, mas de acordo com a neuropsicóloga e psicopedagoga Luciana Garcia de Lima, o profissional deve estar preparado, saber o que a criança gosta, o que não gosta, se é verbal, se usa algum tipo de comunicação alternativa, se possui alguma alteração sensorial, se é a primeira vez que corta o cabelo ou se já teve experiências anteriores e como foram.

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Além disso, acrescenta a terapeuta ocupacional Mendes, o cabeleireiro precisa ser paciente, estar disponível e se envolver de forma lúdica com a criança, para que ela ganhe sua confiança e o veja como um amigo e não como uma ameaça.

Foi o que aconteceu com Artur, de 3 anos, que teve uma crise de choro ao chegar na porta da barbearia de Mallas devido a experiências ruins que teve em outros estabelecimentos.

"Saí do salão por alguns minutos e os deixei lá para ele se acalmar e se familiarizar com o ambiente. Depois enfileirei os carrinhos por cor que nem ele estava fazendo, ele até se aproximou, mas voltou a chorar quando mexi no cabelo dele. Demorei duas horas nesse atendimento, mas preferi não cortar o cabelo e pedi para os pais para retornarem posteriormente, porque tinha observado algumas coisas importantes. Na semana seguinte, eles voltaram e atingi o objetivo. A paciência é minha grande aliada", revela.

💥️Estratégias que fazem diferença

Entre tentativas, erros e acertos, Mallas desenvolveu algumas estratégias. Uma delas é ligar o ventilador para diminuir o barulho da maquininha e/ou esconder a maquininha atrás de um urso de pelúcia. Outra é umedecer a mão com água ou dar o borrifador para a criança, para que ela mesma borrife água no próprio cabelo ou fique menos reativa quando ele ou os pais borrifam, pelo fato de todos estarem "brincando".

Mallas  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal Mallas não cobra mais pelo corte de cabelo de crianças autistas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal Mallas não cobra mais pelo corte de cabelo de crianças autistas

A seguir, duas especialistas consultadas por 💥️VivaBem dão dicas para que o corte de cabelo seja uma experiência positiva para crianças com autismo:

Pais podem fazer uma visita ao salão sem a criança para conversar com o cabeleireiro sobre as dificuldades, sensibilidades e preferências dela em relação a brinquedos, temas, músicas, personagens.

Não leve a criança em dias e horários de grande fluxo de pessoas no salão.

Prepare a criança em casa com antecedência, não deixe para avisá-la sobre a ida ao cabeleireiro no dia. Coloque o compromisso no calendário. Previsibilidade é essencial.

Para fazer a dessensibilização, utilize ferramentas como bonecos com cabelos feitos de linha, papel ou massinha para a criança poder cortar. Isso ajuda a criar vínculo e dar segurança.

Leia historinhas criadas para preparar o pequeno para uma situação específica; neste caso, a ida ao salão.

Pais podem usar figuras de comunicação, apps e pranchas de comunicação alternativa sobre o que a criança pode encontrar no cabeleireiro.

Não deixe para cortar o cabelo da criança quando estiver muito grande, pois o tempo que o cabeleireiro levará no procedimento será maior e talvez seu filho não tolere;

Preferencialmente, leve a criança de banho tomado, talvez ela não aceite se sentar em lavatórios.

Cabeleireiro deve ser flexível em relação às regras. Pode ser que a criança não consiga se sentar na cadeira e o corte tenha que ser feito no colo dos pais, ou com ela em pé ou no chão brincando.

Nunca segure a criança à força para cortar o cabelo.

É importante atender às necessidades individuais da criança em relação às questões sensoriais e de comunicação.

Profissionais podem usar capas de super-heróis, os pequenos adoram.

Se possível, o salão deve ter um espaço mais reservado para atender crianças autistas e recursos como almofadões, cadeiras de balanço e brinquedos da preferência do cliente.

Reforce a coragem da criança ao deixar cortar o cabelo: a presenteie com brinquedos simples, medalhas, adesivos, figurinhas, certificado de campeão.

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