Coletando pinhão, comunidades preservam maior reserva de araucária de SC
O dia de trabalho começa cedo na Fazenda Santo Antônio do Caveiras, localizada na comunidade da Mortandade, em Painel, interior de Santa Catarina. Proprietário de um sítio no Morro do Bacheiro, que fica a poucos quilômetros dali, Jaison de Liz Rosa conta que ele e seu pai, Silvino, são extrativistas do pinhão desde que se conhecem por gente. A prática é geracional na região que abriga a maior reserva de araucária do estado.
No território que abrange o Planalto Serrano Catarinense, a ✅Araucaria angustifolia é espécie predominante. Ela é o principal componente da floresta ombrófila mista, um dos ecossistemas que constituem a Mata Atlântica, além de ser a única de seu gênero com ocorrência natural no país.
💥️Sua semente, o pinhão - símbolo da cultura e culinária regionais - movimenta uma cadeia produtiva em mais de uma dezena de municípios do sudoeste catarinense. Lages, Bocaina do Sul, Painel, São Joaquim, Urupema, Urubici e São José do Cerrito contabilizam cerca de 75% do pinhão comercializado em Santa Catarina.
💥️Na zona rural, o extrativismo do pinhão, integrado ao sistema agroecológico, gera renda para inúmeras famílias na serra e cria perspectivas para o fomento da agricultura inclusiva, consciência coletiva e preservação ambiental.
Natal João Magnanti, coordenador do Centro Vianei de Educação Popular, esclarece que boa parte das iniciativas foram sendo discutidas ao longo do tempo.
"Tudo é parte do processo de desenvolvimento sustentável do território. O crescimento é gradativo, pois estamos falando de uma cadeia que ainda se encontra em um cenário de marginalidade, dentro de um mercado que só visa o lucro", diz.
O entrave legal
De acordo com Adilsom de Oliveira Branco, auditor do movimento econômico da Associação dos Municípios da Região Serrana, os dados disponíveis para análise são difusos.
"Com base nas notas fiscais que passaram pelas prefeituras de cada município, temos o registro de 234 produtores no ano de 2022, que comercializaram 1,5 mil toneladas por uma média de R$ 3,37 o quilo, o que corresponde a um total de R$ 6 milhões", diz.
Magnanti, porém, estima que a movimentação financeira da cadeia tenha sido, na realidade, de R$ 20 milhões no ano passado. O levantamento feito pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina mostra que, em 2022, somente Painel comercializou 1,7 mil toneladas.
Por ser um alimento de época, com período de safra entre abril e julho, a renda que provém do extrativismo e beneficiamento do pinhão dificilmente mantém uma família o ano inteiro.
Uma das soluções surgiu do insight do agricultor familiar Aldo Niehues: uma máquina de descascar pinhão, cujo protótipo foi idealizado por ele. O aumento da capacidade de trabalho era um ponto a resolver, uma vez que o processamento viabiliza a comercialização do pinhão durante a entressafra. O projeto foi desenvolvido de 2014 até 2017 na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceria com a Cooperativa Ecoserra, de Lages, SC.
Em Urubici, foi implantada a primeira agroindústria de processamento do pinhão — hoje desativada. Mesmo com todo o esforço, ainda são pouquíssimas unidades legalizadas que fazem o processamento para venda. Segundo dados do Consórcio Intermunicipal Serra Catarinense, o total é de 13 com registro em municípios como São Joaquim, Lages e São José do Cerrito, onde a Agroindústria Pinhão Garcia, a maior de todas elas, processa cerca de 30 toneladas de pinhão por safra.
Antônio Milton Amarante vende pinhões em sua banca à beira da BR-282, em Bocaina do Sul (SC)(Por Carolina Pinheiro)
✅Notícias da Floresta é uma coluna que traz reportagens sobre sustentabilidade e meio ambiente produzidas pela agência de notícias Mongabay, publicadas semanalmente em Ecoa. Esta reportagem foi originalmente publicada no site da Mongabay Brasil.
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