ESA estuda viagens espaciais com submarino da Marinha Portuguesa

Naquilo que parece ser um passo extremamente óbvio, a ESA está a trabalhar com a Agência Espacial Portuguesa e a Marinha Portuguesa para utilizar a vida a bordo de um submarino naval para aprender mais sobre os efeitos do isolamento durante missões espaciais de longa duração.

Imagem do submarino tridente da marinha portuguesa

Submarino da Marinha Portuguesa usado para simular missões no Espaço

Durante décadas, várias agências espaciais e organizações de investigação têm tido um interesse compreensível nos problemas que os astronautas terão de enfrentar durante longas missões a lugares como Marte.

Para isso, têm financiado todo o tipo de substitutos de naves espaciais e bases de exploração planetária, incluindo pseudonaves espaciais e habitats criados em laboratórios, no fundo do mar, no subsolo ou em desertos.

Mas a única coisa que parece ter sido constantemente ignorada é o único lugar onde temos séculos de dados sobre exatamente o tipo de viagens para as quais os futuros viajantes espaciais se estão a preparar - navios e, especialmente, submarinos.

SubSea para estudar o stress do isolamento

Durante mais de quinhentos anos, as viagens oceânicas que transportavam pessoas em missões que duravam meses ou mesmo anos, sem se avistar terra ou outros seres humanos, foram uma rotina.

Uma expedição baleeira pode durar até quatro anos e os navios de bloqueio naval podem passar o mesmo tempo ou mais a navegar à frente e atrás de um porto inimigo para impedir a saída de qualquer embarcação.

Jantar a bordo de um submarino português. ESA/Marinha Portuguesa

No século XX, as coisas tornaram-se ainda mais parecidas com uma viagem espacial com a invenção do submarino nuclear. Atualmente, as principais marinhas do mundo têm continuamente submarinos a navegar sob as ondas em patrulhas que duram três meses ou mais, sem nunca verem o sol ou as estrelas, ou sentirem o ar livre.

Escusado será dizer que estas marinhas passaram décadas e gastaram milhões de dólares a estudar os efeitos deste isolamento, com o objetivo de manter as tripulações no seu máximo rendimento e saúde mental, num ambiente que combina tédio e grande stress.

No entanto, a ESA quer pisar sozinha este mesmo terreno, pelo que reuniu uma equipa de universidades da Alemanha, Itália e Portugal para estudar o stress, o estado de espírito e a dinâmica da tripulação de 25 voluntários durante um cruzeiro de 60 dias a bordo de um submarino convencional da classe Tridente da Marinha Portuguesa, não identificado, no âmbito do programa SubSea da agência espacial.

Durante a primeira expedição, que regressou a terra esta semana, foram combinados questionários com amostras de cabelo e saliva para medir marcadores de stress como o cortisol, bem como a saúde imunitária da tripulação.

O SubSea é uma iniciativa essencial para compreender a resiliência humana em ambientes extremos. A investigação sobre a vida e o trabalho em ambientes confinados, seja no fundo do mar, no espaço ou em locais remotos na Terra, fornece informações valiosas sobre a forma como os seres humanos se adaptam física e mentalmente ao isolamento e ao stress.

Afirmou o astronauta da ESA Andreas Mogensen.

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