Falta de Ar? Veja O Que Pode Ser Sua Dificuldade de Respirar
Cristina Almeida
Colaboração para o VivaBem
26/12/2023 15h14 A dispneia (termo médico que corresponde à sensação) é definida pela ✅American✅ Thoracic Society (ATS) como uma experiência de desconforto ao respirar que combina diferentes sensações, varia em intensidade e decorre da interação de fatores relacionados ao funcionamento do corpo e das emoções, além de situações ambientais e sociais. Ter falta de ar é a queixa de três em cada dez pessoas que procuram ajuda especializada. Apesar de ser um problema comum, o desafio dos médicos é descobrir o significado, para o paciente, dessa descrição. A dificuldade é que cada pessoa interpreta esse incômodo de forma muito pessoal. Os especialistas no assunto dizem que a maioria dos pacientes se refere a esse mal-estar como um cansaço, que também pode ser descrito como: Há um entendimento generalizado de que a falta de ar é só aquela intensa dificuldade de respirar, um episódio agudo que pede visita imediata ao pronto-socorro. É importante saber que já é sinal de que alguma coisa está errada —quando você sente um cansaço leve —como aquele que aparece ao subir uma escada ou ladeira —, e não apenas quando tem algo mais intenso. Para que você consiga respirar e se manter vivo, seu corpo possui um sistema (respiratório) composto pelo nariz, boca, garganta (faringe), a área de fonação (laringe), epiglote e traqueia. Essa se divide em túneis (brônquios), que são encarregados de levar o ar para dentro dos seus pulmões. Em geral, pensa-se que os pulmões são como balões, mas, na verdade, eles se parecem mais com uma esponja. Abaixo deles há um músculo chamado diafragma. É ele o encarregado de ajudá-lo a colocar o ar para dentro e para fora. O pulmão também possui alvéolos —pequenas estruturas parecidas com cachos de uva que permitem a movimentação do ar e sua distribuição pelos vasos sanguíneos. O sangue é oxigenado a partir dos pulmões, circula por meio das veias pulmonares até alcançar o coração. Daí, ele é bombeado para todo o seu corpo. Muitas doenças podem atrapalhar esse processo, levando à falta de ar. Frequentemente o problema se relaciona à falta de condicionamento físico e não a uma enfermidade. Nesses casos, a inclusão de uma atividade física na rotina traz de volta o fôlego perdido. Além do sedentarismo, outros fatores externos podem se relacionar à dificuldade de respirar. Confira: Com exceção do tabagismo, a solução do problema é mais fácil. Tratadas as inflamações das vias respiratórias, a sensação desaparece ou é controlada. Quanto à poluição, a menor exposição a ela pode resolver o assunto se não houver diagnóstico de uma doença avançada. A falta de ar tem outras origens, que são classificadas como causas médicas: são as doenças do sangue (hematológicas), do sistema nervoso (neurológicas), dos pulmões, do coração e as psiquiátricas. Imagine que uma pessoa teve anemia após uma perda aguda de sangue, ou devido a uma menstruação abundante, uma úlcera de estômago ou um acidente. "Ou pode ser que esta perda tenha sido lenta e progressiva, consequência da deficiência de ferro, ou de um câncer no intestino", exemplifica o médico Marco Aurélio Janaudis, clínico geral da Sociedade de Educação Médica e Humanismo (Sobramfa). Aí, a reclamação vai sempre ser o cansaço. Algumas doenças neurovegetativas podem levar a engasgos e, consequentemente, à dificuldade para respirar. Outras, mais raras e que provocam fraqueza da musculatura também. É o caso da síndrome de Guillain-Barré, esclerose lateral amiotrófica (ELA) e miastenia grave, que afetam o diafragma, músculo responsável pela respiração. Na lista das possibilidades inclui-se, ainda, a apneia obstrutiva do sono —um distúrbio associado ao ronco e que leva à interrupção da respiração durante o repouso noturno, causada por um obstáculo na garganta ou nas vias respiratórias, o que dificulta a passagem do ar. Apesar de a dispneia ser um sintoma de vários tipos de doenças, o que mais se vê no dia a dia é a sua relação com doenças do coração e do pulmão. Em pessoas com idade entre 50 e 60 anos, ela se relaciona à pressão arterial ou sequelas de um infarto do miocárdio, sem contar a doença de Chagas. Já entre pessoas mais velhas, com idade entre 70 e 80 anos, a falta de ar é mais frequente e se deve ao endurecimento natural do coração, o que leva à insuficiência cardíaca. Aqui, o órgão vai perdendo a capacidade de relaxar e ocorre um aumento da pressão interna. Para entender melhor, imagine o coração como a bomba de água de um carro que trabalha distribuindo o líquido para resfriamento do motor. No caso do órgão, o sangue é aspirado do pulmão, vem para o coração e a partir dele é distribuído para todo o corpo. Se existe algum problema —como hipertensão arterial — a pressão dentro do coração aumenta e a dispneia aparece. E atenção: não confunda esse quadro com a pressão arterial. O problema aqui é a pressão diastólica final (PD2), que dificulta a passagem do sangue do pulmão para o coração. O resultado é uma maior concentração de líquido no pulmão, o que leva à falta de ar. O que você pode sentir, nesses casos, é uma dificuldade para respirar depois de uma atividade física. Com o passar do tempo, essa sensação se apresenta com maior frequência até que, mesmo em repouso, o incômodo se manifesta. Ao perceber que a falta de ar não passa, a melhor coisa a fazer é procurar um médico. Diante dele, lembre-se de relatar todos os detalhes do que sente. Afinal, a consulta começa com uma conversa e ela pode revelar coisas importantes que o especialista precisa saber: até mesmo uma gripe, um resfriado ou uma infecção podem alterar o funcionamento do seu coração. Na sequência, o exame físico poderá mostrar sinais como maior pressão da veia do pescoço, aumento do fígado e inchaço nas pernas, que são pistas de uma insuficiência ou problema cardíacos. Veja os exames que o médico pode pedir: A terapia dependerá de cada caso. Geralmente, os medicamentos usados são os inibidores de enzima de conversão da angiotensina, betabloqueadores, inibidores de aldostorena e diuréticos, todos indicados para ajudar o coração a trabalhar melhor. Os cardiologistas garantem que, quando o diagnóstico e tratamento são benfeitos e estabelecidos, o desconforto desaparece e a vida volta ao normal. Isso porque o arsenal terapêutico disponível é bastante farto, mas o resultado dependerá do traquejo médico e de sua atualização, além da cooperação do paciente. A ordem que você deverá obedecer é controlar a pressão arterial, tomar o remédio corretamente, fazer exercícios e perder peso. Muita vez, antes da falta de ar, podem vir outros sinais que são desprezados: "Na cardiologia, os pacientes não temem adoecer. O paciente acha que aquilo que sente decorre do fato de não ter dormido bem, que comeu algo que fez mal, ou que a culpa é do envelhecimento. Na realidade, é o coração que está falho", explica Fernando Augusto Alves da Costa, o diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Problemas nos pulmões e nas vias respiratórias chamam-se doenças pulmonares, e a falta de ar é sempre o sintoma que aparece especialmente durante a realização de atividade física. A dispneia relacionada a essas doenças se classifica como: A dificuldade de respirar pode, ainda, ser do tipo aguda: aparece de repente, como em uma crise de asma que requer uma ida ao pronto-socorro. Ou crônica, que permanece ao longo do tempo (como a apneia do sono). A asma e a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) são as principais causas do problema. A fibrose pulmonar idiopática também é uma possibilidade, mas em um grau menos frequente. Entenda melhor as enfermidades respiratórias que causam falta de ar: O médico Mauro Gomes, chefe da equipe de Pneumologia do Hospital Samaritano de São Paulo, adverte que "nem sempre a procura por ajuda acontece com a rapidez desejada. Mas a consulta, em si, é simples", garante. O especialista vai ouvir sua história e fazer um exame físico. 💥️Veja os testes que ajudarão a descobrir como andam os pulmões: Ele também é personalizado, especialmente porque cada doença pede um medicamento específico, além de mudanças de hábitos e ambientais. Podem ser usados corticoide por inalação (anti-inflamatório); broncodilatador e antifibrótico. A falta de ar comum nos transtornos de ansiedade é sempre vivenciada como um sintoma de extremo desconforto. Nessas horas, além do intenso incômodo, há uma tensão muscular importante. Essa reação inclui o que os médicos chamam de ativação visceral: um estado de alerta que prepara todo mamífero para uma fuga ou luta. Os pés e mãos ficam suados, a temperatura da pele cai e ela empalidece. A "fome de ar", chamada pelos americanos de ✅air hunger , é o principal sintoma do ataque de pânico. Alguns teóricos entendem que tal reação é uma espécie de alarme de sufocação do cérebro. Os suspiros são frequentes, como se fosse necessário testar o gás carbônico do local em que a pessoa está. Por isso, elas não toleram lugares fechados e abafados. Em uma crise, todos os sintomas acontecem em menos de 10 minutos e têm a duração de meia hora. Além da falta de ar, outras sensações se manifestam: Uma vez descartadas as principais causas da falta de ar que são as doenças cardiológicas e pulmonares, e presentes os demais sintomas acima descritos, um episódio de ansiedade pode explicar o sintoma. Mas o diagnóstico não é uma tarefa fácil. O fato é que, diante desse conjunto de sintomas, muitos pacientes procuram o pronto-socorro pensando que se trata de um infarto. Se você tem asma ou DPOC, tem maior probabilidade de ter uma crise de pânico do que a população em geral. Foi o que concluiu um estudo da Universidade de Sidney (Austrália): quem sofre dessas doenças respiratórias possui 10 vezes mais chances de ter um evento de pânico. Os cuidados começam com o uso de pequenas doses de antidepressivos específicos. Tão logo as crises reduzam, parte-se com a terapia de exposição, onde o paciente enfrenta —gradual e lentamente — as situações que desencadearam o quadro: usar o elevador, andar de ônibus etc. Exercícios físicos, sensações que dão tontura também fazem parte dos estímulos que buscam devolver à pessoa a vida de antes. "Costumamos dizer que, no pânico, o paciente é como uma cebola. Quando você a corta, ela é cheia de anéis. Conforme pioram os sintomas, o indivíduo vai parando tudo até que não sai mais de casa por medo de passar mal. Do mesmo modo, a recuperação se dá assim: um anelzinho por vez", explica o médico Márcio Bernik, coordenador do Programa de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq- FMUSP). O uso do medicamento se dá por cerca de um ano, e caso o paciente possa fazer terapia cognitivo comportamental (TCC), a chance de uma recaída é bem menor. A boa notícia é que, em 98% dos casos, a resposta ao tratamento é positiva. ✅💥️Fontes: 💥️Fábio Henrique de Gobbi Porto, neurologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) e dos Hospitais Sírio Libanês e Hospital Israelita Albert Einstein (SP); 💥️Fernando Augusto Alves da Costa, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), doutor em ciências pela USP, diretor do Instituto Paulista de Doenças Cardiovasculares (IPDC) e médico da Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP); 💥️Márcio Bernik, médico psiquiatra e coordenador do Programa de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria (IPq) da FMUSP; 💥️Marco Aurélio Janaudis, clínico geral da Sociedade de Educação Médica e Humanismo (Sobramfa); 💥️Mauro Gomes, pneumologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, diretor da comissão de Infecções da Sociedade Paulista de Tisiolologia e Pneumologia (SPPT) e chefe de equipe de pneumologia do Hospital Samaritano de São Paulo. Como o sintoma é descrito
Saiba entender os sinais
A mecânica por trás da sua respiração
As várias causas
Causas médicas
Quando a origem é o coração
Uma bomba em ação
Como é feito o diagnóstico cardíaco
O que esperar do tratamento
Quando a causa é uma doença pulmonar
Doenças pulmonares mais comuns
O que esperar da consulta com o pneumologista
Como é feito o tratamento
Quando a causa são as suas emoções
Situação mais comum: ataque de pânico
O que você também pode sentir
Como é feito o diagnóstico
O que esperar do tratamento
O que você pode fazer para prevenir a falta de ar:
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