Raiva, ansiedade e pânico: ela tem super TPM
Simone Machado
Colaboração para VivaBem, em São José do Rio Preto (SP)
03/08/2023 04h00 Trinny conta que desde a primeira menstruação, aos 10 anos, percebeu que seu humor e seu comportamento mudavam nos dias que antecediam o ciclo. Ela relata que sentia falta de vontade de fazer as atividades habituais e sentia sua ansiedade em alta, com pensamentos e sentimentos incapacitantes, de medo e pânico. Além de alterações físicas, com muito inchaço, dores nas pernas e o aparecimento de espinhas. ✅Havia meses tão complicados que me sentia como se fosse outra pessoa, totalmente fora de mim. E, após o fim do período da menstrual, sentia muita culpa, dor e vergonha pelas atitudes que eu tomava. Eu não me entendia e via minhas relações interpessoais e até mesmo profissionais, sendo prejudicadas." Foi após ter notado esse padrão de comportamento diferente que acontecia próximos aos dias da menstruação que Trinny passou a anotar em um caderno todos os seus ciclos menstruais e o que sentia em cada um deles. Com as informações em mãos, ela buscou ajuda médica para tentar entender melhor seu corpo e seu humor nesses dias.
Com o diagnóstico, a comunicóloga passou a tratar o transtorno com antidepressivos da classe dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), em conjunto com atividade física e alimentação saudável.
" O diagnóstico me deu a oportunidade de buscar tratamento para ter mais qualidade de vida e melhorar as relações interpessoais, uma vez que agora tenho informação sobre o meu transtorno".
Hoje, Trinny fala sobre TDPM em suas redes sociais e conversa com mulheres que também compartilham os mesmo sintomas. "É importante falarmos sobre o assunto e as redes sociais dá essa abertura. Depois que comecei a falar a minha experiência, muita gente passou a enviar perguntas por terem sintomas semelhantes. Quanto mais falarmos, mais vai ajudar no diagnóstico."
✅Ter com quem contar, com quem conversar, se sentir parte, faz muita diferença. Por causa da TDPM ser ainda uma condição de difícil diagnóstico, é muito comum a sensação de solidão e isolamento diante dos sintomas."
O que é esse transtorno
O Transtorno Disfórico Pré-Menstrual, ou TDPM, é uma forma mais grave da TPM (tensão pré-menstrual) e como o próprio nome já diz, ele atinge mulheres de cinco a sete dias antes da menstruação e pode durar, no máximo, até sete dias depois. Desde o ano passado, o Código Internacional de Doenças (CID) passou a classificar o TDPM como uma enfermidade.
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O transtorno atinge cerca de 2% das mulheres e traz prejuízos para a paciente como a diminuição na capacidade de se concentrar e trabalhar, falta de energia, alteração no apetite e falta de vontade de se relacionar com as pessoas, gerando alta irritabilidade e tristeza.
A diferença entre o TDPM e a TPM é que no primeiro os sintomas são mais graves, e é necessário ter pelo menos cinco sintomas, sendo um deles psíquico, como humor deprimido, ansiedade, sensação de forte tensão ou instabilidade afetiva.
Já na TPM, os sintomas são de leves a moderados e o diagnóstico é feito quando a paciente apresenta no máximo quatro sintomas.
"É importante que a mulher anote em um diário seus sintomas e o calendário menstrual, por pelo menos três ciclos, assim temos um bom panorama. Algumas outras condições podem ter sintomas parecidos, como a alteração hormonal do hipotireoidismo e os diagnósticos psiquiátricos de depressão e ansiedade. Mas aí não vão ter essa periodicidade bem demarcada. Nessas condições, os sintomas até podem oscilar com o ciclo menstrual, mas não se resolvem completamente durante o período esperado para a melhora da TPM e do TDPM", detalha Helga Marquesini, ginecologista do Hospital Sírio-Libanês.
Segundo os especialistas, as causas do TDPM ainda não são conclusivas, o que se sabe é que existe uma relação com a alteração hormonal natural que atua ao nível cerebral causando as mudanças emocionais e físicas. Por ter sintomas parecidos, o TDPM pode ser facilmente confundido com uma crise de ansiedade ou de depressão.
"Muitas vezes o diagnóstico é tardio porque os sintomas são semelhantes a outras doenças psiquiátricas, ou porque os sintomas femininos são subjugados pela sociedade. É comum, ao ver uma mulher em estado alterado de humor, dizerem que ela "está na TPM", como se fossemos destinadas a ter esses sintomas e a não procurar tratamento", acrescenta Juliana Schablatura Vera, ginecologista e obstetra da Clínica Parto com Amor.
O diagnóstico do TDPM é clínico e não há a necessidade de realizar exames. E o tratamento, geralmente, é com medicação, variando conforme a necessidade de cada paciente.
"O tratamento medicamentoso passa pelo uso de antidepressivos e tratamento hormonal, para evitar a oscilação natural hormonal do ciclo menstrual, que desencadeia os sintomas", acrescenta Marquesini.
Outras medidas, como psicoterapia, atividade física e mudanças na alimentação também podem ser aliadas no tratamento.
"É importante haver conscientização para que todos entendam que é uma condição que pode gerar grande prejuízo emocional e físico à mulher, e também nos relacionamentos pessoais e no trabalho. E sobretudo para que as mulheres que sofrem com esses sintomas saibam que podem e devem buscar ajuda, pois já têm tratamentos eficazes que vão melhorar muito a qualidade de vida delas", finaliza Marquesini.
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