Por toda a Europa, continuam a surgir as "pedras da memória" para lembrar as vítimas do
✅Por Pauline Curtet, com Deborah Cole em Berlim
Quase 30 anos depois do início de um gigantesco projeto para homenagear os mortos no Holocausto, o solo europeu já conta com mais de 100 mil “paralelepípedos da memória” que relembram o trágico destino das vítimas do nazismo.
Quando o escultor alemão Gunter Demnig iniciou as "Stolpersteine" (literalmente, as "pedras em que tropeçamos") na Alemanha, em 1996, não podia imaginar que, três décadas depois, esses paralelepípedos estariam presentes em mais de 20 países europeus.
Esses pequenos cubos com 10 centímetros de comprimento levam uma placa de latão que evoca uma vítima do Terceiro Reich, associada a três datas: a de nascimento, a de deportação, ou do seu exílio e, caso se conheça, a de morte.
Gunter Demnig, o fundador do projeto Stolpersteine créditos: AFP/Thomas KienzleSão colocados no chão, em frente à antiga casa da vítima. Com o seu brilho dourado, costumam chamar a atenção de quem passa.
Na sexta-feira passada, Gunter Demnig instalou o 100.000º "Stolperstein" em Nuremberg, no sul da Alemanha, onde foram adotadas leis sobre a proteção do sangue e da honra alemães que privaram os judeus do país dos seus direitos.
Na terça-feira (30), o escultor reuniu-se com a embaixadora americana Amy Gutmann na pitoresca cidade de Feuchtwangen (perto de Nuremberg) para colocar oito paralelepípedos em homenagem aos seus familiares, judeus alemães.
“Como embaixadora americana, filha de Kurt Gutmann, refugiado judeu de Feuchtwangen, tenho a sensação de fechar o círculo do trauma com esta homenagem”, declarou.
"Loucura"
Em 1934, ainda estudante, Kurt Gutmann percebeu que ele e a sua família não poderiam permanecer no seu país, então liderado por Adolf Hitler. Fugiu para a Índia, onde os seus pais e cinco outros parentes mais tarde se juntariam a ele para escapar da campanha de extermínio nazista. Por fim, estabeleceu-se em Nova York, onde Amy Gutmann nasceu.
"Com uma grande lucidez para um jovem de 23 anos, Kurt Gutmann, o meu pai, entendeu imediatamente a loucura em que a sua pátria estava a cair", observou Amy Gumann, de 73 anos.
"Foi um herói", disse ela, segurando as lágrimas.
A embaixadora norte-americana na Alemanha toca nas pedras 'Stolpersteine' que evocam membros da sua família, em Feuchtwangen, na Bavaria, no final de maio créditos: AFP/Thomas Kienzle“Nos últimos anos, aprendi muito mais sobre o que minha família viveu sob a Alemanha nazista do que qualquer coisa que eles puderam me contar antes”, afirmou, observando que, entre os sobreviventes da Shoah, ainda existe “um muro de silêncio".
Com o seu projeto, Gunter Demng quis expor a escala humana do horror do Holocausto e fez isso com as "Stolpersteine", arraigadas no Talmude, um texto fundamental do judaísmo que diz que uma pessoa cai no esquecimento apenas quando o seu nome é esquecido.
"Quando vejo como as pessoas ficam felizes ao ver os nomes dos seus pais inscritos onde viveram, acho que muitos voltam para casa com uma imagem diferente da Alemanha", disse Gunter Demnig.
Muitos descendentes de vítimas nazistas chegam do exterior para colocar "paralelepípedos", que custam 130 euros para cobrir as despesas de Demnig. Na maioria dos casos, são financiados por organizações locais.
Os "Stolpersteine" multiplicaram-se, enquanto a comunidade judaica na Alemanha também cresceu. Hoje, conta com 200 mil membros.
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