Professor universitário é demitido por denúncia de crimes sexuais
Rafaela Polo e Camila Brandalise
de Universa, em São Paulo
Procurada, a advogada das vítimas, Lise Póvoa, não quis comentar o processo da universidade nem a decisão, pois o caso é sigiloso. Mas afirmou que vai se reunir com as mulheres na próxima semana para decidir se vão denunciar o ex-professor na polícia. Pelo Código Penal, segundo a decisão da UFV, o caso pode ser entendido como assédio sexual, com pena de um a dois anos de prisão. A universidade não se posicionou sobre a denúncia de estupro.
Procurada pela reportagem, a advogada de Martins, Marinês Alchieri, afirma, por meio de nota, que ele não cometeu qualquer crime e que "ele foi afastado da funções só com o que elas [as mulheres] falaram. A defesa derrubou uma por uma as acusações apresentando provas da inocência". Diz ainda que um grupo de professores, alunos e ex-alunos "orquestraram" as denúncias contra ele para construir uma imagem de "psicopata, uma pessoa perigosa".
O que dizem as mulheres
Angela* soube da fama do professor de "adorar as novinhas" logo que chegou à universidade. Segundo ela, esses eram boatos comuns que circulavam pelo campus. "Fiz uma disciplina com ele e vi que me dava muita atenção durante a aula", conta.
Um dia, quando estava chateada com questões pessoais, o professor notou e lhe ofereceu uma carona para casa. No carro, ela se abriu com ele, ficou emotiva, o professor parou para comprar umas cervejas e lhe perguntou se queria ir à casa dele conversar.
"Quando chegamos, a conversa continuou. Ele fez mais um copo de bebida, e não demorou muito até ele começar a tentar me beijar. Eu me senti acolhida e vista por um professor do meu departamento. Então gostei de estar com ele naquela noite", conta Angela. Os problemas só começaram no terceiro e último encontro.
"Discordei dele em algum assunto, era algo bobo, mas ele se sentiu questionado e começou a gritar comigo. Lembro que ele dizia: 'Não te trouxe aqui para isso'. Ele só gritava, se levantou de onde estávamos deitados, e ameaçou me expulsar da casa dele", conta. O professor morava em um sítio afastado da cidade. Com medo de sair sozinha à noite, Angela implorou para que ele não a expulsasse.
"Deitei na cama comecei a chorar, pois estava com medo e confusa com o que estava acontecendo. Em alguns minutos a gritaria parou, ele foi até onde eu estava e me viu trêmula e chorando. Veio por trás de mim, tirou minha roupa e iniciou o ato. Continuei no mesmo lugar, ainda chorando e trêmula. Ele continuou e foi como se eu não estivesse ali. Não me movi e nem reagi, fiquei com medo de falar algo", conta.
Ela nunca o denunciou por medo. "Também tive vergonha do tratamento que eu poderia receber na delegacia e de conhecidos", explica.
Helena* também se diz vítima de Martins. Ela manteve um relacionamento com ele por quase um ano. O primeiro contato foi por Facebook. "Ele disse que via as minhas postagens sobre um autor que pesquisava e perguntou se eu tinha interesse na conversa, porque eu era uma ótima aluna", diz. Helena conta que foi assim por cinco meses, até ele convidá-la para almoçar.
"Achei que me levaria pra um restaurante, mas ele me levou pra casa dele. No almoço, ele fez a comida, me deu uma cerveja. Almoçamos com um vinho. Disse que tinha se esquecido da sobremesa e voltou com um copo de vodka com açaí", diz. "Depois, subiu em cima de mim e me beijou, e não lembro mais nada. Acordei muito tarde, era um domingo, e ele falou para eu dormir lá, que no dia seguinte me levava pra casa porque ele morava em um sítio afastado. Me senti um pouco estranha, mas quando falei com as minhas colegas da faculdade, todo mundo achou muito legal. Ele era o professor descolado."
"Só percebi que fui vítima de violência moral e sexual quando ouvi outras mulheres contarem, pois achava que era só comigo. Ele proibia o uso de camisinha, então eu me entupia de pílula do dia seguinte. Como era mais velho, achava que ele sabia o que estava fazendo. E ele dizia que eu não podia fazê-lo passar aperto com uma gravidez", conta.
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✅*os nomes foram alterados a pedido das entrevistadas
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