Juntos há 30 anos, eles têm vida sexual ativa

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Ana Canosa

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Pedro me mandou mensagem pedindo um horário, não explicando muito bem a demanda. Ia com a mulher, Fernanda, mas me deu a entender que ela não sabia sobre a consulta. Não era psicoterapia, só um "papo". Confesso que fiquei preocupada, pois há todo tipo de fantasia sobre uma terapeuta sexual, não é mesmo? Me incomodava o fato de a esposa não saber — isso nunca dá certo. Mas resolvi arriscar porque sou dessas.

Pedro e Fernanda estão casados há mais de 30 anos. Já viveram vários tipos de conflitos, comuns às adaptações do ciclo vital de um casal. Estão enfrentando o envelhecimento de maneira esplendorosa, cuidando da saúde, da estética e do lazer. Mas é óbvio que precisaram de ajustes ao longo da jornada e também recentemente, quando adentraram a tão desejada-indesejada maturidade. Fernanda contou sobre o impacto da menopausa e o tempo que Pedro levou para compreender seus sintomas — principalmente a fadiga.

Enquanto Fernanda foi querendo mais e mais sossego e cada vez foi mais e mais tocando o Foda-se (palavras de Pedro) e se recusando a fazer o que não tem vontade, Pedro é o tipo de pessoa que sentou no formigueiro, adora estar com pessoas e detesta fazer qualquer coisa sozinho. Nessa etapa da nossa conversa, eu já estava sentada com os pés metidos na poltrona e só não abri um vinho porque não tem bar no meu consultório. Fernanda do céu, Pedro também é inimigo do fim? Rolou uma identificação tão grande que só faltou fazer uma chamada de vídeo para o Paulo —meu marido— entrar na conversa.

Falamos sobre o impacto da maturidade na resposta sexual, na percepção dos anos que temos pela frente, no envelhecimento de nossos pais, na necessária independência dos filhos, no luto pela morte de amigos queridos. A necessidade de compreender momentos individuais que parecem convergir cada qual para um lado diferente, a resiliência, as personalidades diferentes, a importância da individualidade e também da manutenção do projeto comum.

Pedro me disse que estava ali só para me contar que sim, é possível viver bem e feliz em um casamento de 30 anos. Que o sexo vai bem, obrigado, e que eles estão cuidando da relação. Por acompanharem meu trabalho, entram em contato com tantos conflitos das pessoas que chega a ser um alento olhar para a relação deles e dizer "Ufa, que bom que temos um ao outro."

Eles me trouxeram um mimo que prontamente retribuí com o que podia: um livro e lubrificantes — sorry, pessoal, ossos do ofício. Nos abraçamos e nos desejamos sorte, saúde, amor e alegria. Como não os conheço a fundo, não entrei em contato com os seus dilemas existenciais ou dinâmica relacional — mas certamente há em Pedro e Fernanda um orgulho pela história construída que emociona. Consideram que a vida em comum é preciosa, o que os fez se escolherem muitas vezes e terem vários casamentos em uma mesma união.

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