Para fugir do Talibã, afegãs se submetem a exílio sob conservadorismo e violência no Paquistão
"Estou em contato com ativistas de direitos humanos de diferentes países para ajudar as mulheres afegãs que estão presas no Paquistão, assim como as mulheres afegãs que perderam seus direitos, como o direito à educação", diz Muzghan Faraji.
A ONU (Organização das Nações Unidas) declarou o Afeganistão como "o país mais repressivo do mundo" em relação às mulheres. Desde que o Talibã retomou o poder, as mulheres não têm direito à educação, foram demitidas de muitos empregos públicos, não podem viajar sem a autorização de um homem e devem se cobrir completamente para sair na rua.
"Confinar metade da população do país em suas casas em meio a uma das crises humanitárias e econômicas mais graves do mundo é um ato colossal de autoflagelação nacional", disse nesta quarta-feira (8) Rosa Otunbayeva, chefe da Missão de Assistência da ONU no Afeganistão (Manua).
Mais da metade da população enfrenta uma situação grave de insegurança alimentar e três milhões de crianças estão em risco de desnutrição. A ONU estima que até 2023, "11,6 milhões de mulheres e meninas afegãs precisarão de assistência humanitária".
Ativista e vítima de violência
Para fugir desta realidade, Faraji aceitou viver em condições precárias em Islamabad ao lado de seus filhos e de seu marido violento. Apesar de uma espessa camada de base no rosto, ela não consegue esconder o hematoma que tem no olho direito.
"O médico me disse que levaria algum tempo para desaparecer", reconhece.
Para cruzar a fronteira com seus filhos, ela não teve outra escolha senão fugir com seu marido ao seu lado. Um homem abusivo que, há alguns meses em Cabul, entregou-a ao Talibã porque ela se recusava a obedecê-lo.
"O Talibã me perguntou 'por que você fala com outros homens, por que você fala com seus antigos colegas, por que você não obedece a seu marido'? Eu disse que não era verdade e lhes mostrei fotos das vezes que apanhei do meu marido", disse ela. "Eles disseram: 'Desta vez passa'. Mas eles me disseram que eu não poderia fazer nada sem a permissão de meu marido. Que eu não tinha permissão de falar com outros homens, de trabalhar ou mesmo de ver meu pai, que estava tentando me ajudar a divorciar de meu marido".
Sendo o Paquistão uma nação conhecida pela violência contra as mulheres, a ativista sabe que não terá ali suporte para lutar contra os abusos conjugais.
Mesmo uma marcha de luta pelo direito das mulheres neste 8 de março foi proibida para evitar o confronto com uma manifestação contrária, de homens que criticam a defesa do direito das mulheres como se estes fossem valores ocidentais que não cabem no país muçulmano.
As mulheres foram à Justiça e conseguiram o direito de se manifestar, mas em outro local. Apesar da tentativa de dissuasão da polícia, cerca de 2 mil mulheres saíram as ruas de Lahore para pedir o direito ao divórcio e lutar contra a violência sexual.
Quanto à ativista afegã, ela espera conseguir asilo em um país europeu ou nos Estados Unidos. Só assim ela imagina uma nova vida em que seus direitos sejam finalmente respeitados.
✅* Com informações da AFP e de Sonia Ghezali, correspondente da RFI em Islamabad
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