Pescadores da Figueira da Foz alertam para perigo de morte em cais da margem sul

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Pescadores da Figueira da Foz alertaram para o alegado perigo de morte por ação dos lodos e lamas que se depositam no Portinho da Gala, na margem sul do rio Mondego, caso alguém ali caia à água.

Em causa, segundo vários pescadores ouvidos pela agência Lusa, está o assoreamento daquele porto de abrigo (formalmente chamado Cais do Núcleo Piscatório da Cova-Gala) que acolhe embarcações de pesca artesanal e de recreio, e que é invadido por lamas nas marés vazantes, junto ao pequeno embarcadouro constituído por vários passadiços flutuantes e uma rampa de acesso ao rio.

A situação é, aparentemente, recorrente – os pescadores argumentam que o molhe exterior que prolonga a margem esquerda do braço sul do rio Mondego, junto à rampa de acesso, é curto em comprimento e não impede a passagem das lamas – e querem ver a situação resolvida definitivamente.

“Se a gente tem o azar de cair ali, morremos logo, a lama engole-nos”, disse Tó João, um dos 40 pescadores que utilizam, nos dias de hoje, o portinho da Gala, infraestrutura adjacente à ponte dos Arcos e Itinerário Complementar (IC) 1, inaugurado em 2004, há mais de 20 anos, e inicialmente pensado para poder acolher cerca de 300 pescadores e 80 embarcações.

Já António Pereira, outro pescador, foi mais comedido na eventual perigosidade dos lodos, embora tenha avisado que estes são “mais moles e movediços” do que as lamas negras existentes nos esteiros e canais junto às marinhas de sal e zonas de aquacultura em redor do braço sul do rio Mondego.

“É lodo solto, quem tiver o azar de cair ali, garantidamente, fica enterrado, pelo menos até à cintura e não consegue sair”, observou.

Ainda antes do pico das marés vazantes, o portinho fica quase a seco “sem pinga de água”, acrescentou Armandina, outra pescadora, numa zona junto aos passadiços de acesso aos barcos, que, se não estivesse assoreada, teria, pelo menos, dois metros de profundidade, asseguraram os pescadores.

Por outro lado, no estado atual, a infraestrutura deveria ter manutenção “de dois em dois anos”, o que não acontece.

Em agosto de 2023, numa reunião com o presidente da Junta de Freguesia de São Pedro, Jorge Aniceto, os pescadores chegaram a propor uma “solução provisória”, que passaria por retirar do porto de abrigo dois passadiços – deixando outros dois no local & e colocá-los no exterior do molhe de proteção, em pleno braço sul do Mondego, “que tem sempre água, para se poder trabalhar à vontade”, frisou Tó João.

Nessa sequência, o presidente da Junta levou a questão ao município e foram necessários mais de quatro meses para, no início deste ano, em janeiro, o presidente da Câmara, Pedro Santana Lopes, ter visitado o local, acompanhado do então vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Pimenta Machado, hoje presidente daquele organismo, outros autarcas e técnicos da Administração Hidrográfica do Centro.

Dez meses volvidos sobre a visita e sem soluções à vista, os pescadores endurecem as críticas aos políticos e dizem-se abandonados: “Vêm cá, está tudo bem, mas nunca fizeram nada”, lamentou Armandina.

“Ninguém quer saber de nada, nem presidente da Câmara, nem presidente da Junta, ninguém quer saber de nós, isto é uma vergonha”, vincou Tó João, secundado por António Pereira, que disparou, também, aos partidos políticos e candidatos eleitorais “que só se lembram disto quando há eleições”.

“Agora vêm aí eleições outra vez [as autárquicas de 2025] e, se é para não fazerem nada, escusam de cá vir outra vez”, avisou.

Jorge Aniceto corroborou a realização da visita e as reuniões anteriores, uma com os pescadores e, pelo menos, outra com a Câmara Municipal, argumentando que foi avançada a possibilidade de um protocolo entre a APA e o município, que permitisse a este último ali intervir, a exemplo do que sucedeu em 2016, quando a Câmara Municipal custeou uma dragagem dos fundos no valor de 60 mil euros.

Em resposta à Lusa, o presidente da Câmara, Pedro Santana Lopes, disse não haver novidades sobre a questão do Portinho da Gala e lembrou que os pescadores “estão à espera [de uma solução] desde muito antes de agosto de 2023”.

“Isso, obviamente, não invalida que já devesse estar resolvido há muito. Vamos insistir [com a APA]”, enfatizou.

A Lusa questionou, por escrito, a APA sobre este caso, perguntando, entre outros aspetos, qual a intervenção que ali será realizada e se o eventual protocolo com o município visa trabalhos específicos ou a cedência da gestão daquela área, mas, até quarta-feira, não obteve resposta.

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