Aumento das áreas protegidas proposto na COP aumenta “sofrimento” indígena



A organização não-governamental Survival considera que a proposta de transformar 30% das terras do planeta em Áreas Protegidas até 2030, proposto na Conferência da ONU sobre Biodiversidade 2024, pode provocar a expulsão dos povos indígenas das suas terras.

Em declarações Lusa, a Survival Brasil, frisou que apesar do objetivo ser impulsionado por várias organizações ambientais, que argumentam que vai frear a crise climática, “na verdade transformar 30% do planeta em “Áreas Protegidas” não vai reduzir a perda de vida selvagem, aumentar a biodiversidade ou salvar o planeta”.

“Pelo contrário, irá aumentar o sofrimento humano e assim acelerar a destruição dos espaços que povos indígenas têm protegido há gerações. A criação de “Áreas Protegidas” não retarda a crise climática e, em geral, tem mostrado ser ineficiente na proteção da vida selvagem”, justificou a ONG que atua na proteção dos povos indígenas, ajudando-os a ampliar as suas vozes no cenário global.

Em causa está a adoção do Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal na COP15 (em dezembro de 2022, em Montreal, Canadá), que estabeleceu 23 metas globais orientadas para uma ação urgente ao longo da década até 2030, nomeadamente restaurar 30% dos ecossistemas degradados e proteger 30% do planeta, que está em discussão na 16.ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas para a Diversidade Biológica, a chamada COP16, que decorre desde 21 de outubro a e termina na sexta-feira em Cali, Colômbia.

Para a Survival Brasil,  a criação de Áreas Protegidas pode resultar na expulsão de povos indígenas das suas terras e não ajudará a mitigar a crise.

 “Os povos indígenas são os melhores guardiões da natureza e são parte essencial da diversidade humana, que é a chave para proteger a biodiversidade”, detalhou à Lusa a ONG, acrescentado ainda que em várias partes do mundo, as Áreas Protegidas são militarizadas e violentas.

“São criadas sem o consentimento de povos indígenas e locais que vivem lá há gerações. É o roubo de terras em nome da conservação ambiental”, resumiu ainda a organização não-governamental, denunciando o facto de alguns habitantes desses territórios serem “frequentemente despejados ilegalmente”.

A Survival Brasil denunciou ainda que os guardas florestais limitam ou negam o acesso desses povos às suas próprias terras, “privando-os dos seus meios de subsistência e identidade” e de cometerem, muitas vezes, “atrocidades contra a população local”.

“Abuso, violação, tortura e até assassínios são comuns”, sublinhou a ONG.

O plano da COP 16 prevê duplicar a quantidade de terra coberta de Áreas Protegidas “e, portanto, provavelmente dobrará a quantidade desses crimes”, prejudicando até 300 milhões de pessoas, as mesmas pessoas que são as menos responsáveis pela crise climática e de biodiversidade”, concluiu.

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