Consumidores europeus têm alimentação segura mas há desafios



O especialista em segurança alimentar Carlos Gonçalo das Neves diz que os consumidores europeus estão hoje mais seguros, mas alerta para o aumento de “desafios e ameaças” no setor.

“Apesar de termos cada vez mais desafios e mais ameaças, estamos mais preparados para que o nosso consumidor saiba que aquilo que está na prateleira e o que traz para casa para comer, na Europa, é seguro”, diz Carlos das Neves em entrevista à agência lusa.

Carlos das Neves é cientista chefe da Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA, na sigla original), com sede em Itália, e está em Portugal para participar nas “Conferências do Estoril”, que durante dois dias reúnem na Universidade Nova (Nova School of Business & Economics) de Carcavelos conferencistas de todo o mundo para debaterem os grandes desafios da humanidade.

A EFSA é uma agência da União Europeia (UE) criada em 2022 para promover informação e aconselhamento científico para os decisores europeus sobre os riscos associados à cadeia alimentar.

Questionado pela Lusa, o professor e cientista português diz não ter dúvidas de que hoje os consumidores estão mais protegidos do que estavam há 20 anos, quando foi criada a EFSA, na altura da chamada “crise das vacas loucas”.

Hoje, com mais conhecimento em áreas específicas e mais inovação, é possível ter-se mais informação e mais tecnologia para dar melhores respostas sobre a segurança alimentar, afirma.

E a proliferação de alimentos ultra processados? Carlos das Neves salienta que é preciso distinguir o que é seguro do que é saudável, acrescentando que a função da EFSA é aconselhar sobre aspetos de segurança.

Há questões que competem às autoridades de saúde de cada país, como aconselhar os consumidores sobre o que é mais saudável, sobre as quantidades que se devem comer de determinados produtos para se ter uma alimentação saudável.

Ainda assim, a EFSA também aconselha os parceiros sobre estas matérias. Quando a EFSA diz que um produto é seguro até determinado valor, que não deve ser usado mais do que determinadas gramas por dia, a informação tem relevância para as autoridades decidirem sobre se é saudável ou não.

“Avaliamos nos produtos processados a segurança de diversos alimentos, as vitaminas, os nutrientes que lá estão. A escolha sobre a quantidade de alimentos ultra processados ou não que devemos comer compete às autoridades dos Estados membros e à Comissão Europeia (CE)”, resume Carlos das Neves.

A EFSA tem “uma função clara” que é, com a melhor ciência disponível, a cada momento aconselhar os decisores políticos, a CE e os Estados membros, sobre a segurança dos produtos alimentares.

“E não é só a segurança do que pomos na boca”, diz, explicando que se por exemplo os alimentos estão em contacto com embalagens de plástico esse plástico tem de ser seguro, é preciso que seja seguro o processo de produção, o uso de pesticidas por exemplo.

Carlos das Neves participa na sexta-feira, com Meghan Sapp, do “Savory Institute” (regeneração em larga escala de pastagens), num debate sobre como corrigir o sistema alimentar enquanto ainda é possível, discutindo por exemplo a contribuição da biodiversidade ou da agricultura regenerativa.

À Lusa, antecipando o debate, o cientista fala dos grandes desafios da humanidade, alterações climáticas, secas, incêndios, as novas doenças no espaço europeu, mas também guerras ou migrações, que têm impacto na capacidade de produzir alimentos e que afetam a segurança desses alimentos.

“É preciso pensar como é que vamos conseguir gerir estas mudanças, que parecem ser difíceis de parar, para que consigamos continuar a pôr na mesa dos consumidores uma alimentação saudável, com boa nutrição e que não nos ponha em risco”, diz.

Mas se existem ataques à biodiversidade ou às florestas, existem também novas tecnologias, novas formas de produzir alimentos que têm de ser desenvolvidas, para que não se destrua o planeta nem as espécies que nele habitam.

E no meio de tantas incertezas sobre o futuro, Carlos das Neves deixa uma certeza, um “princípio fundamental” para a União Europeia: “A nossa comida é segura”.

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