HomeTiltArticleFlip: youtubers convivem com dinossauros acadêmicos, e isso é bom16/10/202416 Dunker na Flip 2024 Imagem: Rafaela Araújo/FolhapressQuando participei da Bienal do Livro em São Paulo, pela primeira vez, em 2016, fiquei espantado com o fato de que todos os grandes lançamentos e as mesas de referências eram compostas por youtubers. O público infantil e juvenil parecia ter vindo para ficar e, com ele, a cultura digital e o ebook. O formato livro ficaria reservado para os antigos que frequentariam a Flip como uma espécie de balneário de aposentados falando do passado.Voltando da Flip este ano e tendo participado das Bienais de São Paulo, Rio e Salvador percebo que não poderia ter estado mais enganado.Continuamos a ver grandes youtubers, como Felipe Neto ("Como enfrentar o Ódio?"), uma massa de sucessos juvenis e infantis, mas agora eles convivem com os dinossauros acadêmicos e pterodátilos digitais.Ronilso PachecoDar mídia a Malafaia é um desserviço à democracia Josias de SouzaSão Pedro dá as cartas em São PauloElio GaspariO preço da privataria na saúde no caso de HIVCarolina BrígidoProtegida de Lira cresce na briga por vaga no STJAo mesmo tempo, percebe-se um maior entranhamento da literatura com temas sociais e políticos, mas o discurso da disputa pelos lugares parece ter se arrefecido.Isso acontece tanto porque as mesas hoje estão mais diversificadas em termos de raça, classe e gênero, quanto pelo fato de que os debates se arborizaram de fato, na academia, nas instituições e na vida real.Nas mesas que participei, com Tati Bernardi ("Desculpe o Transtorno"), Tatiana Paranaguá ("Arte de Amar"), Evandro Cruz e Amara Moira ("Ser Brasileiro?"), o nível de lacração e declarações lacanianas (feitas para o corte) foi baixo.Senti de novo aquele sentimento bom de poder contrapor argumentos sem ser arrastado para polêmicas de ocasião.Em regra geral, a denunciação convivia com a enunciação, e os enunciados circulavam sem tanta marcação de propriedade.Gostei quando Geni Nunes falou das caravelas epistêmicas e de que "Humano é tão inventado quanto Brasil", pensando na inexistência de termos indígenas para o conceito de "humano" em vez de simplesmente gente ou pessoa.Continua após a publicidadeGostei quanto ela se referiu ao nomadismo como primeiro pecado e que disso se se deduz a crítica jesuítica da monogamia.Por isso, a recepção de sua mãe à sua orientação sexual poder ser elevada à dignidade de um novo universal, em sentido lacaniano: Eu não quero entrar no céu onde você não possa ir.Escutei o Simas, o curador cambono, contar de seu gosto pelas histórias do Rio nas conversas sobre João do Rio. Concordei com ele que personagens não são tipos sociais, e que afinal todas as famílias têm história, ainda que algumas sejam mais coletivas que outras.Escrevendo este relato lembrei ainda que: "Crônica, se não for aguda é crônica".As Flips passadas eram academicistas, agora a escolha de João do Rio é uma retomada da anti-Flip.Se o Rio Janeiro foi fundado para espantar franceses, depois quis se tornar parte da França, para agora não termos nem mais sobreviventes, mas "sobras viventes".Continua após a publicidadeNewsletter Um boletim com as novidades e lançamentos da semana e um papo sobre novas tecnologias. Toda sexta.Quero receberEstamos em uma encruzilhada com a nossa dimensão civilizacional, entre a festa da periferia que é o centro e os bulevares da periferia do centro, que não levam a lugar nenhum.O centro é o lugar onde você está, pois o centro é onde está a encruzilhada.Essa foi também uma das ideias circulantes na mesa de Silvana Tavana ("Ressuscitar Mamutes"), um romance entre luto e gravidez, narrado por uma criança de 11 anos Mariana Carrara ("A Árvore mais Triste do Mundo"), Karla Madeira ("Tudo é Rio").Para a primeira, a memória é um elemute, cruzamento de elefantes com mamutes.Para a segunda, a encruzilhada passa pela genealogia dos personagens, onde sempre se alterna o amor, presente ou ausente.Para o terceiro, a encruzilhada é entre passado e presente, o perdão é lembrar o suficientemente para não esquecer, e esquecer, mas não a ponto de que aquilo volte a se repetir.Continua após a publicidadeOs dois convidados internacionais mais proeminentes, Édouard Louis ("História da Violência") e Mohamed Sarr ("A Mais Recôndita Memória dos Homens"), trouxeram testemunhos pungentes sobre a violência, mas sobretudo a potência da literatura em transformar a violência em outra coisa: memória, história, perdão e até mesmo justiça.Ao que tudo indica a distância geracional, racial e digital, que nos impedia de ver os verdadeiros cruzamentos, parece desenhar-se sob a neblina.OpiniãoTexto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do.O que você está lendo é [Flip: youtubers convivem com dinossauros acadêmicos, e isso é bom].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.Links
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