Telegram é seguro? Entenda polêmicas sobre app quase bloqueado no Brasil
O Telegram quase foi bloqueado em todo o Brasil na última sexta-feira (18), por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão, no entanto, foi revogada no domingo (23), após o aplicativo de mensagens cumprir determinações judiciais que estavam pendentes. A suspensão do mensageiro atendeu a um pedido da Polícia Federal e se deu pelo descumprimento de ordens quanto ao bloqueio e à aplicação de sanções ao canal do blogueiro Allan dos Santos, em um escândalo relacionado ao compartilhamento de .
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Mesmo após a liberação, o Telegram ainda segue cercado de suspeitas com relação à segurança dos conteúdos compartilhados na plataforma, as quais envolvem indícios de divulgação de desinformação e de outros conteúdos criminosos. Ainda que existam ferramentas de segurança disponíveis para controle, o grande alcance dos grupos do mensageiro — que podem ter até 200 mil membros — facilitaria a disseminação desse tipo de mensagem.
1 de 2 Telegram quase foi banido no Brasil, mas teve funcionament liberado após cumprir determinações judiciais — Foto: Marvin Costa/TechTudoTelegram quase foi banido no Brasil, mas teve funcionament liberado após cumprir determinações judiciais — Foto: Marvin Costa/TechTudo
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Por isso, muitos usuários se perguntam: o Telegram é realmente seguro? Essa segurança está associada apenas aos quesitos técnicos da ferramenta, ou consegue ser aplicada também ao conteúdo publicado no app? E ainda: a empresa consegue ter controle de tudo que é compartilhado na plataforma? Para tirar essas dúvidas, o 💥️TechTudo explica a seguir as questões polêmicas sobre a segurança dentro do Telegram.
Funções que prometem segurança no Telegram
Apesar de se autointitular “mais seguro do que os mensageiros de massa do mercado”, o Telegram não oferece por padrão um dos recursos mais importantes para a segurança da troca de mensagens online: a criptografia de ponta-a-ponta. Por padrão, o app utiliza uma criptografia chamada “cliente-servidor”. Nesse caso, a mensagem não é cifrada do início ao fim: ela sai do celular do remetente de forma criptografada, é decodificada ao passar pelo servidor do aplicativo, e volta a ser embaralhada na saída para o destinatário.
Segundo a empresa, essa criptografia é utilizada para que o usuário consiga acessar suas mensagens em múltiplos dispositivos ao mesmo tempo. Nesse modelo, as mensagens são armazenadas em nuvem para poderem ser recuperadas em outros aparelhos nos quais a conta estiver logada, o que disponibiliza o histórico completo ao usuário. O Telegram garante que, apesar de permanecerem arquivadas nos servidores, as mensagens possuem proteção e não podem ser decifradas caso sejam interceptadas.
Entretanto, é possível habilitar a criptografia de ponta-a-ponta no Telegram ao ativar manualmente o “chat secreto” por meio das configurações do app. O recurso evita que as mensagens sejam guardadas nos servidores do aplicativo, o que mantém a codificação durante todo o processo de envio e recebimento de mensagens. Em outras palavras, as conversas permanecem armazenadas apenas nos dispositivos em que foram efetuadas.
2 de 2 Chat secreto do Telegram no iPhone — Foto: Reprodução/Marvin CostaChat secreto do Telegram no iPhone — Foto: Reprodução/Marvin Costa
Durante o uso do recurso, as conversas secretas bloqueiam o encaminhamento de mensagens para outros usuários do aplicativo, e impedem a captura da tela com prints — apesar de ser possível fazer um registro da tela usando outros meios, como ao tirar uma foto. A criptografia de ponta-a-ponta usada nos chats secretos também é aplicada às chamadas de voz e vídeo feitas no app.
Outro recurso de segurança presente no Telegram é a verificação em duas etapas. Ao ativar a função, o login no mensageiro passa a depender de um código dinâmico enviado via SMS e de uma senha criada pelo usuário, o que estabelece uma segunda camada de proteção contra invasões. É possível indicar um e-mail de recuperação para o caso de esquecer o código.
O mensageiro também oferece a opção de ativar mensagens autodestrutivas, eliminadas automaticamente dos dois dispositivos após um tempo pré-determinado. A opção é aplicada tanto para textos quanto para imagens e outras mídias enviadas na conversa no período estabelecido.
Polêmicas sobre a segurança do Telegram
💥️Vazamento de conversas entre Moro e Dallagnol
Em 2023, o Telegram ganhou espaço na mídia nacional devido ao vazamento de conversas entre o então Ministro da Justiça Sérgio Moro e o então procurador do Ministério Público Federal em Curitiba Deltan Dallagnol. O conteúdo das mensagens foi revelado em reportagem do site .
Na ocasião, o Telegram descartou a possibilidade de invasão nos seus servidores. Segundo o aplicativo, as conversas podem ter sido roubadas por hackers, com o furto tendo ocorrido por meio de invasão da conta com interceptação de SMS de verificação, ou por infecção dos celulares das autoridades com malware.
💥️Críticas do criador do Signal
Em dezembro de 2023, o desenvolvedor Moxie Marlinspike, criador do mensageiro rival Signal, conhecido por ser “ultrasseguro”, fez críticas ao Telegram justamente por armazenar as conversas em seus servidores — devido à criptografia “cliente-servidor” citada anteriormente.
“O Telegram armazena todos os seus contatos, grupos, mídia e todas as mensagens que você já enviou ou recebeu em texto simples em seus servidores. O aplicativo em seu telefone é apenas uma "visão" em seus servidores, onde os dados realmente residem. Quase tudo que você vê no aplicativo, o Telegram também vê”, disse em uma série de tuítes.
Ele afirma também que a criptografia de ponta a ponta utilizada nos chats secretos usa um protocolo de segurança considerado “duvidoso”. Marlinspike diz que o Facebook Messenger usa o mesmo tipo de criptografia e, mesmo assim, não é considerado pelo grande público como efetivamente seguro. Para ele, nenhuma das duas plataformas são, de fato, mensageiros criptografados.
💥️Compartilhamento de conteúdos criminosos e descontrole sobre circulação de desinformação
Além disso, uma reportagem exibida no Fantástico, da TV Globo, em 13 de março, mostrou que vários grupos brasileiros do Telegram são usados para compartilhar pornografia infantil, tráfico de drogas, venda de armas sem registro, propagandas neonazistas, entre outras atividades criminosas — o que evidencia a falta de controle da plataforma sobre o conteúdo que circula nos canais do país.
Também no início do mês, as regras menos rígidas do Telegram também foram motivos de preocupação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na ocasião, o ministro Edson Fachin, do STF, buscou o aplicativo para formar um acordo com o tribunal para cooperar no combate às fake news, tendo em vista o cenário de eleições deste ano.
Bloqueio do Telegram: entenda determinação e o que o app fez para revertê-la
A recente polêmica do Telegram, a qual ocasionou a suspensão do app no Brasil, está relacionada ao escândalo que envolve notícias falsas disseminadas pelo canal do blogueiro Allan dos Santos, apoiador do presidente Jair Bolsonaro. A justiça determinou que o Telegram bloqueasse três perfis ligados a Santos, com a acusação de estarem compartilhando desinformação, propagando discursos de ódio e servindo de “escudos protetivos para a prática de atividades ilícitas”, conforme citado na decisão do STF.
O bloqueio do aplicativo se deu porque, segundo a decisão do ministro Alexandre de Moraes, o Telegram estaria se recusando a cooperar com o cumprimento das decisões judiciais solicitadas pela Polícia Federal (PF). Além do bloqueio das contas de Allan dos Santos, o pedido exigia que o aplicativo entregasse à Justiça informações cadastrais dos perfis citados e bloqueasse o repasse de recursos — o que não foi cumprido. Segundo a PF, a atitude do aplicativo o torna "um terreno livre para proliferação de diversos conteúdos, inclusive com repercussão na área criminal”.
Após a ordem de suspensão no Brasil, o Telegram cumpriu as determinações judiciais que estavam pendentes e teve o bloqueio revogado pelo ministro Alexandre de Moraes no último domingo (20). O aplicativo cumpriu quatro ordens: indicou um representante oficial no Brasil; relatou sete medidas para combater na plataforma; excluiu um post do presidente Jair Bolsonaro que permitia baixar documentos de um inquérito sigiloso e não concluído da Polícia Federal, e bloqueou o canal “Claudio Lessa”.
Entre as medidas para combater notícias falsas na plataforma estão o monitoramento manual diário dos 100 canais mais populares do país; acompanhamento diário das principais mídias brasileiras; capacidade de marcar postagens específicas em canais como imprecisas, e restrições de postagens para usuários banidos por espalhar desinformação.
Além de cumprir as decisões, o Telegram se desculpou pelo atraso na efetivação das determinações do STF e se comprometeu a colaborar com o tribunal brasileiro, garantindo que os problemas não se repetirão no futuro e que terão uma operação considerada melhor para seguir em funcionamento no Brasil.
Com informações de Telegram e G1 (1, 2, 3, 4 e 5)
Telegram: quatro funções curiosas
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