Dark web: entenda como funciona o 'paraíso' do cibercrime
O cibercrime é um negócio extremamente lucrativo – e ilegal. Segundo dados apresentados durante o 7º Fórum ESET de Segurança Cibernética, que aconteceu nos dias 25 e 26 de outubro, de 2018 a 2023 os valores movimentados por essa indústria no mundo saltaram de US$ 1,5 bilhão para US$ 6 bilhões. Os números representam um crescimento de 300%, e a expectativa é que, em 2025, eles cheguem à marca dos US$ 10,5 bilhões. O palco para a realização de tantas transações ilícitas é a dark web, fatia da Internet ainda mais obscura que a deep web. Nas linhas a seguir, o 💥️TechTudo explica em detalhes como funciona esse "paraíso" do cibercrime e como os criminosos operam.
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Anonimato proporcionado pela dark web favorece a atuação de quadrilhas de hackers; saiba mais — Foto: Getty Images
Anonimato proporcionado pela dark web favorece a atuação de quadrilhas de hackers; saiba mais — Foto: Getty Images
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O que é dark web e como ela se difere da deep web?
Para entender essa diferenciação, é interessante pensar na Internet como um iceberg. Na ponta, a camada visível, está a Internet de superfície, onde acessamos redes sociais, portais de notícias e e-commerces. Na parte submersa estão a deep e a dark web, que abrigam sites que não podem ser indexados por mecanismos de busca da superfície. Em outras palavras, o Google e outros buscadores não conseguem descobrir, nem exibir resultados para páginas nessas camadas da web. Além disso, elas também não são acessíveis via navegadores tradicionais, como Chrome e Firefox.
Na deep web é possível encontrar, por exemplo, bancos de dados com arquivos protegidos e intranets para empresas e governos. Os conteúdos estão ocultos, mas geralmente são seguros e legais. Logo, quem navega nessa parte da web não necessariamente está interessado em cometer crimes.
2 de 6 Representação da Internet da superfície, deep web e dark web — Foto: Reprodução/ESETRepresentação da Internet da superfície, deep web e dark web — Foto: Reprodução/ESET
Mergulhando mais fundo, chega-se à dark web, camada bastante oculta da deep web. Essa fatia da Internet, por sua vez, é comumente acessada por quem quer cometer delitos, comprar mercadorias ilegais e baixar conteúdos ilícitos.
Para Sol Gonzales, pesquisadora em segurança digital da ESET, a estrutura da dark web a torna ideal para os criminosos desenvolverem mercados ilícitos. Isso porque, além de não indexar páginas da web e não ser acessível via navegadores tradicionais, a dark web usa ainda "túneis virtuais" para distribuir o tráfego por meio de uma rede aleatória e, assim, dificultar a identificação do usuário.
Como atuam as quadrilhas da dark web
Por ser um "paraíso do anonimato", a dark web favoreceu a complexificação das estruturas do cibercrime, cujas quadrilhas são altamente especializadas e incluem desde programadores e engenheiros de TI a recrutadores de mulas de dinheiro. "Há uma equipe de trabalho com funções muito específicas, assim como acontece em grandes empresas", explica Sol.
3 de 6 Organograma do cibercrime na dark web ilustrado com fotos geradas por inteligência artificial — Foto: Reprodução/ESETOrganograma do cibercrime na dark web ilustrado com fotos geradas por inteligência artificial — Foto: Reprodução/ESET
Entre os produtos oferecidos pelos cibercriminosos estão softwares maliciosos, kits de exploits, bases de dados e contas roubadas, cartões de crédito e até passaportes. Os serviços são igualmente variados: distribuição de spam, ataques DDoS, ransomware como serviço (RaaS), espionagem cibernética e serviços de hacking.
O que oferecem os hackers da dark web
Em demonstração para jornalistas, a pesquisadora da ESET fez um breve "passeio" pela dark web e mostrou como são as páginas que fornecem esses serviços ilícitos. Para hackear um computador corporativo ou pessoal, os criminosos cobram, em média, de US$ 500 a US$ 3.500 (de R$ 2.646 a R$ 18.524, em conversão direta). Eles também fornecem serviços de hacking de celular, que vão de US$ 300 a US$ 600 (de R$ 1.588 a R$ 3.176). Para invadir um e-mail, por sua vez, é preciso desembolsar de US$ 500 a US$ 800 (de R$ 2.646 a R$ 4.234).
4 de 6 Página hacker na dark web oferece serviço para "destruir a vida de alguém" — Foto: Reprodução/ESETPágina hacker na dark web oferece serviço para "destruir a vida de alguém" — Foto: Reprodução/ESET
Outro serviço oferecido pelos cibercriminosos é o hacking de redes sociais e aplicativos de mensagem. A partir de US$ 300 (R$ 1.588, na cotação atual da moeda), é possível invadir contas de WhatsApp, Instagram e Facebook. Já alguns kits de exploits, programas ou códigos projetados projetados para explorar vulnerabilidades de software, podem ser encontrados de graça.
Navegando pela dark web, é possível ainda encontrar hackers que prometem "destruir a vida de alguém". "Seu alvo terá problemas legais ou financeiros. Métodos comprovados, incluindo pornografia infantil, que sempre funciona", diz a descrição do serviço, que custa US$ 1.700 (R$ 8.998, em conversão direta).
Para os que não podem desembolsar tanto dinheiro, os criminosos fornecem o serviço de espalhar informações falsas sobre alguém nas redes sociais por US$ 450 (cerca de R$ 2.382). "Não arruina a vida da pessoa, mas ainda é desagradável", afirmam os hackers.
5 de 6 Página em site hacker na dark web detalha experiência dos cibercriminosos — Foto: Reprodução/ESETPágina em site hacker na dark web detalha experiência dos cibercriminosos — Foto: Reprodução/ESET
Os sites são bastantes profissionais, assim como os e-commerces legítimos que vemos na superfície da Internet. Eles têm páginas dedicadas ao suporte ao cliente e contam com seções do tipo "Sobre nós", nas quais os criminosos apresentam sua experiência no mercado ilícito e enumeram os serviços já feitos. Uma das organizações exibidas durante a demonstração, por exemplo, afirma ter 15 anos de atuação e contar com 26 profissionais ao redor do mundo.
Movimentação financeira e lavagem de bitcoins
A contratação dos serviços ou compra dos produtos é feita da mesma forma como nas lojas virtuais comuns: adicionando os itens ao carrinho. O pagamento, por sua vez, é feito com bitcoin, criptomoeda que dificulta o rastreamento do dinheiro. Acontece que, ao contrário do que muitos pensam, não é impossível obter o IP do dispositivo onde a transação foi realizada – embora esta seja uma tarefa mais complexa.
6 de 6 Funcionamento dos mixers de criptomoedas — Foto: Reprodução/ESETFuncionamento dos mixers de criptomoedas — Foto: Reprodução/ESET
Para tentar “lavar” os criptoativos obtidos em atividades ilícitas, os criminosos recorrem aos chamados "mixers de criptomoedas". São serviços que misturam as criptomoedas e fazem inúmeras combinações com as transações realizadas, de forma que se torna impossível detectar a origem e o destino do dinheiro. Apesar de serem usados para fins criminosos, os mixers não são ilegais e nasceram com um propósito benéfico: melhorar o anonimato das transações.
Como se proteger
As quadrilhas de cibercriminosos que atuam na dark web são muito experientes. Ainda assim, é possível tomar algumas precauções para dificultar a ação dos hackers e se proteger de ataques ou golpes virtuais. Em primeiro lugar, mantenha sempre o sistema operacional atualizado e com um bom antivírus instalado. Além disso, evite armazenar dados pessoais, bancários ou senhas no navegador e opte por usar gerenciadores de senhas, programas específicos para esse fim.
Outra boa prática é redobrar a atenção a e-mails ou links enviados via WhatsApp que solicitam informações como nome completo, CPF e dados bancários. Mensagens que pedem o download de arquivos suspeitos também devem ser motivo de alerta. Verifique o remetente da mensagem para se certificar de que não se trata de um golpe de phishing ou malspam. Se necessário, entre em contato com a instituição em questão.
Tenha também cuidado com as informações que você expõe em redes sociais e na Internet de forma geral. Lembre-se de criar senhas fortes e habilitar a autenticação de dois fatores para proteger a sua conta.
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