Projeto de bar goiano é sinônimo de transformação e oportunidade

Projeto Bar-T proporciona oportunidades na coquetelaria goiana para pessoas trans, travestis e não-binários | Foto: Caju Bento

💥️Luana Avelar e Tathyane Melo

Muito mais do que um talentoso chefe de bar, Leônidas Cunha, de 29 anos, é a personificação de uma nova perspectiva na coquetelaria ao liderar o inovador projeto Bar-T, em Goiânia. Sua iniciativa vai além do simples preparo de bebidas, ele oferece um curso exclusivo voltado para pessoas trans, travestis e não-binárias, proporcionando não apenas conhecimento prático, mas também uma oportunidade de inclusão e crescimento no universo da coquetelaria.

Ao Jornal O Hoje, Leônidas conta a inspiração por trás do projeto: “Eu percebia a quantidade de pessoas trans ao meu redor precisando trabalhar e a quantidade de vagas que surgiam, mas eu não podia indicar porque exigia experiência e a maioria nunca teve oportunidade de atuar nessa área, assim como eu por anos. Então, conversando com dois amigos, veio a ideia de criar um curso para profissionalizar essas pessoas e a gente conseguir fazer as indicações e garantir um emprego minimamente digno”, destaca. 

Com oito anos de experiência no atendimento ao público, o profissional conta ter enfrentado a falta de direcionamento e incentivo, encontrando barreiras para ser reconhecido e remunerado por suas habilidades. “A dificuldade de disponibilidade para colocar pessoas consideradas marginalizadas em locais de relevância, a falta de credibilidade dada à nossa trajetória e trabalho desenvolvido, faz o amor pela função se perder pela raiva de sempre se sentir explorado”, explica.

Compartilhando sua jornada e a filosofia que impulsiona o curso, ainda enfatiza que a transição, para ele, vai muito além do corpo físico. “Aprender a me amar foi um passo essencial para minha própria evolução”, diz. Revela ainda que o nascimento de ‘Leon’ trouxe consigo uma nova perspectiva de possibilidades, um poeta que por muito tempo esteve aprisionado, e agora emerge com uma voz forte e autêntica.

Leônidas ressalta que possui uma motivação pessoal para guiar o projeto. Isso pelo fato de, após passar por sua transição, ter enfrentado uma batalha contra a depressão. “Eu transicionei e logo após eu caí na depressão, e na última tentativa de tirar minha própria vida eu fiz uma análise da minha trajetória e percebi que eu já tinha passado pelo pior, e que isso me dava as ferramentas de ajudar para que outras pessoas como eu não precisem ir pelo caminho mais doloroso”, diz.

Realizado no Espaço Furna, no Setor Central, o curso Bar-T oferece uma abordagem abrangente, indo desde a teoria até a prática. Os alunos aprendem desde os elementos mais básicos até técnicas avançadas de coquetelaria. O foco no atendimento ao público e na ética profissional é uma parte crucial do programa, preparando os participantes para a realidade do trabalho em um bar. A ideia de transformação e renovação se reflete na própria essência do Bar-T.

Os resultados já alcançados pela primeira turma são notáveis. Dos cinco primeiros alunos, dois deles agora possuem carteira assinada como chefes de bar. Outros dois estão envolvidos em diversos eventos pela cidade, levando o renome do projeto.

“Eu vejo como um passo à frente da restituição do nosso lugar! Tudo que o projeto faz é restituir as pessoas trans em locais que até então não pareciam nos caber, hoje você chega na rua 8 e tem uma travesti como chefe de bar de um lado da rua, formada no projeto, e tem eu, transmasculino atuando do outro lado, onde mais você vai que tem pessoas trans atuando nesses locais?”, enfatiza Leônidas.

Akira de Moraes Borges, uma das participantes da primeira turma do curso, destaca como a proposta de uma imersão na coquetelaria e a oportunidade de vivenciar a produção e execução de drinks foram motivadores para sua participação: “Foi uma verdadeira imersão no universo da coquetelaria, onde pude aprender a produzir e executar drinks de forma prática e eficaz. Esse conhecimento adquirido teve um impacto direto na minha carreira”.

Ela também relata que o curso abriu portas e oportunidades que antes pareciam inacessíveis, e que a iniciativa de Leônidas em oferecer um curso totalmente voltado para pessoas trans, é de grande importância, ressaltando que ‘corpos como o nosso são sempre colocados na marginalidade’ e que entender outros caminhos a partir de um movimento como esse pode salvar vidas.

Já para Vitória Almeida, o curso não apenas a reintegrou ao mercado de trabalho, mas também proporcionou a descoberta de uma nova paixão. Ela pôde compreender os fundamentos do funcionamento de um bar e estabelecer contato e compartilhar experiências com outras pessoas trans.

Para o futuro, Leônidas conta com entusiasmo que os planos do Bar-T incluem a criação de uma escola focada em capacitar indivíduos trans, originários, negros e pessoas com deficiência, garantindo uma inserção segura e eficaz no mercado de trabalho. 

“Vocês podem sim atuar em diversas áreas com salário digno, com carteira assinada, com valorização, esse lugar é de vocês e é chegada a hora da gente restituir, da gente normalizar tecnologia trans espalhada por aí nos bares. Contem com o projeto, procurem e fomentem ele!”, finaliza Leônidas Cunha, convidando todos a fazerem parte dessa transformação no cenário goiano.

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