Mundo a caminho de aumento de 2,4ºC nas temperaturas globais, bem acima do limite máximo definido no Acordo de Paris - Executive
O novo relatório World Energy Outlook 2024 da Agência Internacional de Energia (AIE) revela que, embora as emissões globais de dióxido de carbono estejam prestes a atingir o seu pico, o mundo ainda se encontra “muito acima do objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5°C”. O documento alerta que, com base nas políticas atuais, as temperaturas globais podem aumentar até 2,4°C, um cenário preocupante para a luta contra as alterações climáticas.
O relatório sublinha que as tensões geopolíticas e os conflitos regionais têm vindo a expor as fragilidades significativas no sistema energético global. Esta situação reflete a necessidade urgente de políticas mais robustas e de investimentos em larga escala para acelerar a transição para tecnologias de energia mais limpas e seguras. As projeções indicam que o mundo está prestes a entrar num novo contexto energético, marcado por riscos geopolíticos persistentes e uma abundância de diferentes combustíveis e tecnologias.
Entre as previsões do relatório, destaca-se o facto de que, na segunda metade da década de 2023, poderá haver um excedente significativo no fornecimento de petróleo e gás natural liquefeito (GNL), bem como uma capacidade de produção excessiva em tecnologias-chave de energia limpa, como a solar fotovoltaica e as baterias.
Fatih Birol, diretor-executivo da AIE, destaca que este possível excedente de petróleo e gás natural traria um impacto considerável no mercado. “Na segunda metade desta década, a perspetiva de fornecimentos mais amplos, ou mesmo excedentários, de petróleo e gás natural, dependendo de como evoluírem as tensões geopolíticas, poderá levar-nos a um cenário energético muito diferente do que vivemos nos últimos anos durante a crise energética global”, disse Birol. Este cenário poderá aliviar a pressão sobre os preços, oferecendo algum alívio aos consumidores que têm sido duramente atingidos pelos aumentos dos custos energéticos.
Com a possibilidade de uma redução nos preços dos combustíveis, Birol salienta que este contexto pode abrir espaço para que os governos se concentrem em aumentar os investimentos nas transições energéticas e eliminar subsídios ineficientes a combustíveis fósseis. “As políticas governamentais e as decisões dos consumidores terão consequências enormes para o futuro do setor energético e para o combate às alterações climáticas”, afirmou.
O relatório prevê que, até 2030, mais de metade da eletricidade mundial será gerada a partir de fontes de baixas emissões. No entanto, adverte que, apesar do rápido avanço da energia limpa, o crescimento não tem sido uniforme em todas as tecnologias e mercados. Embora a procura pelos três principais combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás) deva atingir o seu pico até ao final da década, ainda há muitos desafios a superar para garantir uma transição eficaz.
Segundo Birol, o futuro do sistema energético mundial será cada vez mais elétrico. “Em edições anteriores do World Energy Outlook, a AIE deixou claro que o futuro do sistema energético global será baseado na eletricidade, e isso já é visível para todos”, afirmou. Esta “Era da Eletricidade”, como o responsável a denominou, será caracterizada por uma maior dependência de fontes limpas de energia elétrica e deverá moldar o sistema energético global nas próximas décadas.
Birol também sublinhou o papel central da China neste cenário energético global. “Seja em termos de investimento, procura por combustíveis fósseis, consumo de eletricidade, energias renováveis, mercado de veículos elétricos ou fabricação de tecnologias limpas, estamos agora num mundo em que quase todas as histórias energéticas são, em grande parte, uma história sobre a China”, referiu. A expansão solar da China está a avançar tão rapidamente que, até ao início da década de 2030, a produção de energia solar no país poderá exceder a atual procura total de eletricidade dos Estados Unidos.
O relatório da AIE, da mesma forma, projeta um crescimento significativo na procura global de eletricidade nos próximos anos, adicionando o equivalente à procura do Japão ao uso global de eletricidade a cada ano, de acordo com as políticas atuais. Em cenários mais ambiciosos, que procuram atingir as metas nacionais e globais de zero emissões líquidas, a procura poderá crescer ainda mais rapidamente.
No entanto, para que as energias limpas continuem a crescer a um ritmo adequado, o relatório conclui que serão necessárias maiores e mais rápidas injeções de investimento em novos sistemas energéticos, com especial foco nas redes elétricas e no armazenamento de energia. Apesar de os países mais desenvolvidos estarem a avançar neste campo, a AIE alerta que a distribuição do financiamento continua extremamente desigual, deixando o Sul Global sem as necessárias injeções de capital para a transição para energias limpas. O relatório sublinha que, sem um investimento adequado nas regiões mais pobres, o mundo poderá falhar os seus objetivos de mitigação climática.
Este cenário traçado pela AIE destaca os desafios que o mundo enfrenta para alcançar um equilíbrio entre a necessidade urgente de descarbonização e as crescentes pressões geopolíticas e económicas
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