A viúva Clicquot revolucionou a produção de champanhe

Há cenas impressionantes no filme "A Viúva Clicquot", rodado em regiões vinícolas no nordeste da França. Algumas até rimam visualmente. Por exemplo, quando as tropas francesas se digladiam com as russas nas montanhas. A batalha acontece perto das casas produtoras de vinhos e champanhes. Buquês flamejantes brotam no horizonte com os tiros de canhão, iluminando as uvas.

Em outro momento, os camponeses comandados pela Veuve Clicquot colocam baldes com fogo junto às vinhas para diminuir o efeito congelante da geada. A luz das chamas aproxima as cenas, de contextos muito diferentes.

O filme acompanha a vida de Barbe-Nicole Ponsardin, feminista, empreendedora, visionária. Romântico, avança por rompantes e explosões, entremeados por momentos de quietude. Num dos rompantes, várias garrafas estouram como canhões de Napoleão no escuro da cave, provocando um tiroteio de rolhas. No universo de equilíbrio delicado do champanhe, esse é um dos riscos. "Eu disse para comprarem um vidro melhor!", se desespera a famosa viúva.

Seu marido, François, figura byroniana, canta baixinho para as uvas. Um carinho ao sonho da safra vindoura. Ele é um homem pouco preparado para o mundo, sempre em fuga, subindo pelas camas, mesas e móveis, querendo atingir algum ideal. Ela é uma sofredora com muita força interna. Deixa-se deslizar para o chão, lança-se à lama, rola na poeira. Mas sempre se ergue, com olhar determinado.

É assim que enfrenta o sogro, que quer vender a Maison Clicquot após a morte de seu marido. Sem pestanejar, ela declara que vai administrar a empresa. E o faz subvertendo as regras dos homens, para desconforto desses, muitos dos quais não a aceitam. Aristocrata que teve de fugir à Revolução Francesa, propõe que a hierarquia seja abolida e que todos tenham direito de opinião à mesa redonda.

Incansável, passa noites sem dormir em seu laboratório, diante de vasilhames de todos os tipos e formas, os quais manuseia, fazendo misturas como uma alquimista, em busca da etílica pedra filosofal, um sabor ao mesmo tempo familiar e estranho, que abriria fronteiras —literalmente, já que muitas rotas comerciais na Europa estavam bloqueadas pelas guerras.

A Veuve Clicquot conquista Alexandre 1° da Rússia, e seu champanhe vira um must na corte. O mais importante é que Barbe-Nicole cria a revolucionária técnica do "remuage". Consiste em deixar a garrafa inclinada com a ponta para baixo e girá-la de tempos em tempos, fazendo com que os resíduos se acumulem no gargalo e possam ser facilmente removidos, deixando a bebida límpida e também com as adoráveis bolhas pequenas, que formam caudas de espuma.

A técnica foi adotada pelas outras casas de champanhe e ainda é realizada manualmente por pequenos produtores —nas maiores empresas o processo é mecanizado.

A Viúva Clicquot é uma personagem inspiradora, e não apenas para as mulheres. Abriu caminhos. Borbulhantes. No campo cultural, além do filme e da biografia em que se baseou, virou música da banda Beirut.

Seu champanhe aparece em algumas obras. Eça de Queiroz escreveu em "Os Maias": "A mamã ao ver, depois de tantos meses de chá preto, a garrafa de Clicquot encarapuçada de ouro —quase desmaiou, de enternecimento".

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