É possível enxergar beleza nas nossas rugas e pelancas?
Na semana passada, participei do programa "Sábia Ignorância", no canal GNT, com a apresentadora Gabriela Prioli e com a atriz Paula Burlamaqui. "É possível envelhecer bem?" foi o tema do programa e, ao apresentar os dados das minhas pesquisas sobre a "bela velhice", busquei apontar os caminhos para combater a "velhofobia" em uma cultura na qual existe extrema violência física, verbal e psicológica contra os mais velhos, dentro das nossas próprias casas e famílias.
O programa começou com Paula, aos 57 anos, dizendo que "envelhecer é uma merda": a perda do colágeno, os problemas de saúde, a dificuldade para dormir, a decadência do corpo, a invisibilidade social entre tantas mazelas que ocorrem com o passar do tempo. "Ficou tudo muito difícil, estou sofrendo muito. Envelhecer é uma merda em todos os sentidos."
Apesar de nossa conversa ter sido incrível, fiquei péssima quando vi minha imagem na tela da televisão. Fiquei imaginando todos os que estavam assistindo pensando: "Nossa, como a Mirian está velha. Por que ela não fez nenhum procedimento para ficar mais jovem? Será que ela não tem vergonha de estar cheia de rugas e pelancas?".
Perguntei ao meu marido: "Você acha que estou uma velha enrugada?".
"Amor, você sempre se acha horrorosa quando se vê na televisão. Isso é uma doença, só você está prestando atenção nas suas rugas. As pessoas estão prestando atenção no conteúdo do programa. E você está dando um show."
Fiquei preocupada com o olhar e com a opinião dos outros sobre a minha aparência envelhecida.
"Amor, já filmei mulheres lindas que se acham horrorosas na televisão. Qualquer mulher que é filmada com tanto foco no rosto, ainda mais de perfil, vai se achar horrorosa. A televisão amplifica as imperfeições, mas alguns ângulos desfavorecem ainda mais."
Perguntei ao meu marido o que achava de eu colocar botox e fazer preenchimento ao redor dos lábios para suavizar as rugas.
"Amor, você quer ficar toda esticada? Você sempre teve essas ruguinhas, só que antes não te incomodava. Você está sofrendo à toa. É maluquice da sua cabeça."
Antes da pandemia, eu não tinha tantas rugas e pelancas como tenho agora.
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"Amor, você realmente vai desperdiçar seu tempo com essa obsessão boba? Você não defende, o tempo todo, a importância de enxergar a beleza da própria velhice, a necessidade de cada mulher aceitar que é perfeitamente imperfeita, a revolução da bela velhice, a libertação grisalha e o tesão na alma, da Rita Lee? Como pode ser tão contraditória e ficar sofrendo com essas bobagens?"
Desde jovem, nunca gostei de me ver na televisão. Agora, depois de velha, estou sofrendo mais ainda.
"Amor, você conseguiu convencer a Paula Burlamaqui que envelhecer não é uma merda, que pode ser uma libertação. Você está sendo totalmente incoerente com o que disse sobre aceitar e amar as transformações que inevitavelmente acontecem com a passagem do tempo. Você precisa combater a velhofobia que mora dentro de você mesma."
O que eu disse no programa é que envelhecer pode ser, ao mesmo tempo, uma merda e uma libertação. Como resolver essa contradição? Como parar de sofrer com as marcas da velhice? Como parar de se preocupar com o olhar e a opinião dos outros? Como combater a velhofobia, o pânico de envelhecer, que mora dentro de nós?
"Amor, você sempre diz que quer ser uma velha sem vergonha, não diz? Você não é a rainha do foda-se? Não ensina às mulheres a ligarem o botão do foda-se? Liga o foda-se! Rir é sempre o melhor remédio."
Meu marido pegou meu livro "A Arte de Gozar: amor, sexo e tesão na maturidade" e leu o trecho final do meu "Manifesto das Velhas Sem Vergonhas".
"A velha sem vergonha aprendeu a ligar o botão do foda-se para o que os outros pensam, e — talvez o mais importante de tudo — passou a ter a coragem de dizer não. Nós, velhas sem vergonhas, convocamos todas as mulheres que estão cansadas de sofrer com os próprios medos, preconceitos e inseguranças a se unirem ao nosso grito de guerra: velhas sem vergonhas unidas jamais serão vencidas. Fodam-se as rugas, as celulites e os quilos a mais!"
A epígrafe do meu livro "A invenção de uma bela velhice" é um pensamento do escritor Mark Twain: "Rugas deveriam apenas indicar onde os sorrisos estiveram". Será que, algum dia, irei conseguir ligar o botão do foda-se e dar risadas dos meus próprios preconceitos, medos, inseguranças e vergonhas de envelhecer?
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