Atmosfera sufocante de Longlegs tenta, mas não esconde fragilidades

A relação de "Longlegs – Vínculo Mortal" com seu próprio material fílmico é bastante similar à da agente do FBI Lee Harker, interpretada pela atriz Maika Monroe, com seu objeto de investigação. De um lado, há os crimes cometidos pelo psicopata do título e aos quais a personagem é direcionada após revelar talento intuitivo acima do normal na resolução de um caso anterior; de outro, Harker tem fantasmas pessoais a atormentá-la, a ponto de ela tocar a vida numa "zumbificação" à beira do colapso.

Os motivos dos traumas levam tempo para serem revelados, mas é evidente que se conectam ao misterioso Longlegs. É no encontro entre um aspecto e outro que o diretor Osgood Perkins transita. Por qual ele fica mais à vontade é um tanto explícito enquanto tudo avança.

Talentoso em criar a sensação de que o mundo é dominado por um mal sempre em vias de emergir, como nos anteriores "A Enviada do Mal", de 2015, "O Último Capítulo", em 2016, e "Maria e João", de 2023, Perkins ambiciona em "Longlegs" ampliar seu escopo e motivações artísticas.

Também autor do roteiro, ele o encena com excesso de elementos e referenciais. Vai do suspense policial noventista, em especial "O Silêncio dos Inocentes", de 1992, e "Seven – Os Sete Crimes Capitais", de 1995, passa pelo chamado "pânico satânico" dos anos 1970, quando supostos perigos do ocultismo dominavam aflições na ficção e no noticiário, e adota pendor narrativo próximo à primeira temporada da série "True Detective", exibida em 2014.

Ao mesmo tempo, ainda que ação de "Longlegs" se localize em meados dos anos 1990, Perkins insere na sua Lee Harker aproximações contemporâneas usadas como garantidoras de empatia em histórias de suspense e horror protagonizadas por mulheres que, traumatizadas, enfrentam seus medos personificados na ameaça central dos enredos.

Mas o que interessa a Perkins, de fato, ainda é a construção de atmosfera. Ao superfaturar os desdobramentos narrativos de "Longlegs", as viradas são telegrafadas muito antes de aparecerem e oportunamente encaixadas para o clima opressivo seguir em primeiro plano, mesmo que o texto lute para sobressair. O equilíbrio disso é um desafio, e a desproporção fica evidente até ultrapassar o estilo estético de Perkins, por mais que seu entusiasmo como criador daquele mundo se mantenha estável.

A principal contradição de "Longlegs" é o excesso de autoconsciência sobre os efeitos de medo e apreensão, enquanto o filme transmite uma história que não se sustenta tão bem, diferente do que a percepção sobre si mesma parece acreditar. O castelo de detalhes montado por Perkins se desmorona com facilidade quanto mais fundo mergulha nas supostas complexidades da vida e da investigação de Harker. A situação se agrava quando, no terço final, uma longa sequência explicativa é repetida minutos depois, como a insistir no quão terrível tudo aquilo é.

O choque perseguido por "Longlegs" na superfície do roteiro pouco se reflete nas imagens do filme, mais atentas a desenvolver ambiências e espaços com serena perturbação. Os efeitos desse contexto, de fato assustadores e sufocantes graças ao estilo de Perkins, são amplificados pela gelidez da fotografia, a crueza discreta da trilha sonora e a presença caótica de Nicolas Cage.

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