Volta do Oasis é farsa? Definitivamente. Vale a pena? Talvez

Tudo o que se lê na chamada deste texto é farsesco. Para começar, seu enunciado principal é uma adaptação livre, eufemismo para cópia descarada, do título dado para um artigo escrito pelo lendário jornalista britânico Alexis Petridis, do The Guardian, acerca da volta do Oasis para uma turnê de reunião em 2025.

Eu roubei do colega a brincadeira com o nome do primeiro e mais brilhante álbum da banda britânica, "Definitely Maybe" (definitivamente talvez), lançado há oh-meu-Deus 30 anos. Não funciona tanto em português, mas "Nevermind" (tanto faz) —sim, repeti a gracinha com o disco do Nirvana que "todo mundo" ouvia antes da emergência do britpop.

O grupo anunciou, após meses de boataria, que voltará aos palcos em uma postagem em suas redes nesta terça (27). A previsão é de uma "turnê mundial" com datas por ora anunciadas para julho e agosto de 2025, após o rompimento de 15 anos anos atrás, o que já levou o lançamento de apostas se os brigões irmãos Gallagher vão manter o trato até lá.

Se sua audiência daqueles anos de glória não era global, por que qualificar as malcriações de Noel, hoje com 57 anos, e Liam, 51, de inescapáveis? Porque sem exagero e arrogância juvenil é impossível contar para a geração (Z? já me perdi) o que foi viver no planeta Terra de 1994 a 1998, mais ou menos.

Tudo isso, farsa e teatralidade, é Oasis. Para quem tivemos o privilégio de frequentar e morar no Reino Unido por um tempo naqueles anos, o som da banda não trazia a urgência do grunge de Seattle, e sim uma certa familiaridade: pegue uma base de Beatles, adicione um bocado de Sex Pistols, tempere com o glam do Slade e outros sabores diversos.

Quando explodiu no festival de Glastonbury em 1994, o Oasis era mais uma "melhor banda de todos os tempos" daquela safra do semanário NME —sim, revistas de música traziam consigo cassetes e, depois, CDs para provar o que escreviam.

Com as melodias de altíssima qualidade, vinham polêmicas. Antigos ladrões de toca-fitas (vale um Google), os irmãos viviam às turras, deixando os tabloides britânicos fazerem o papel hoje a cargo das redes sociais para veicular suas confusões.

Dois anos depois, 250 mil pessoas ouviram o grito de Noel Gallagher na abertura de um fim de semana com dois shows em Knebworth, perto de Londres: "Vocês sabem que estão fazendo história", disse o insuportável cérebro da banda, enquanto dedilhava a abertura de "Columbia".

Um em cada 24 britânicos fez a fatídica ligação para a "hotline" que vendia os ingressos numa excruciante espera. No ano anterior, o segundo e igualmente genial álbum do Oasis, (What's the Story) Morning Glory?, vendeu como pão quente à razão de dois CDs por minuto nos templos da rede de lojas HMV.

O clima daquele evento está retratado em um morno documentário disponível nos streamings para compra, "Oasis Knebworth 1996" (Jake Scott, 2023).

Dá uma ideia, mas nada perto do que estava lá: só as bandas de abertura do primeiro dia de show, 10 de agosto daquele ano, tinha mais estrelas do que qualquer dos festivais aos quais os brasileiros se acostumaram: Prodigy, Chemical Brothers, Ocean Colour Scene e Manic Street Preachers, todos no auge de sua forma.

O britpop, assim como o grunge mastigado e cuspido pela MTV, era um produto comercial de seu tempo, mas não só. Como dissecou em 2003 o jornalista britânico John Harris no seu livro "A Última Festa", a emergência de Oasis, Blur, Suede e outros foi casada com a criação de uma marca, Cool Britannia, a tentativa de ressuscitar a Swinging London dos anos 1960.

Era um projeto político abraçado pela volta dos trabalhistas ao poder em 1997. Foi a tempestade perfeita, e evidentemente uma farsa —seja no fracasso artístico do terceiro disco do Oasis ("Be Here Now"), daquele mesmo ano, ou no transmutação do premiê Tony Blair de messias da esquerda light para poodle de George W. Bush.

Tudo o que está descrito aqui pode soar como passadismo: álbum, discos, loja de CD, linha telefônica. São reminiscências de um mundo que deixou de existir. Mas isso seria simplificador demais.

O que você está lendo é [Volta do Oasis é farsa? Definitivamente. Vale a pena? Talvez].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

Wonderful comments

    Login You can publish only after logging in...