A Bíblia justifica a guerra em Gaza?

Depois de nove meses de guerra em Gaza, ainda não há no horizonte uma perspectiva de paz. Desde o início do conflito, muitas lideranças evangélicas brasileiras vêm defendendo a retaliação massiva de Israel contra o território palestino, apoiadas em uma visão fundamentalista da Bíblia.

Um dos argumentos bíblicos para justificar a ocupação de Gaza foi a suposta inclusão desse território em um grande reino unificado de Salomão, conforme está escrito no Primeiro Livro de Reis ou no Segundo Livro das Crônicas. No entanto, a história e a arqueologia têm más notícias para quem pensa dessa forma.

A Bíblia apresenta Salomão como um rei sábio, extremamente poderoso e rico, dono de um harém de centenas de mulheres e construtor do Templo de Jerusalém. Seus domínios se estendiam desde o atual Iraque até o Egito, e vários reis vizinhos lhe pagavam pesados tributos. A partir daí, certa leitura teológica da Bíblia estabeleceu uma continuidade inquestionável entre os "tempos bíblicos" e o moderno Estado de Israel, legitimando sua ação em Gaza.

Mas um reino unificado de Davi ou Salomão como descrito na Bíblia jamais existiu. A opulência do reino de Salomão é uma miragem criada pelos autores bíblicos. Nas últimas décadas, a arqueologia tem demonstrado que as construções monumentais antes atribuídas a Salomão foram realizadas mais tarde, pelos reis da dinastia de Omri, do reino de Israel.

Na Antiguidade, Gaza nunca pertenceu aos reinos de Israel ou de Judá. Durante o segundo milênio a.C., o território esteve sob influência ou controle direto dos egípcios. A partir de 1.200 a.C., com a chegada dos chamados "Povos do Mar", Gaza tornou-se um dos principais centros dos filisteus, ao lado de Ascalon, Ashdod, Gath e Ekron.

Por que, então, os redatores bíblicos criaram as narrativas lendárias de uma Idade do Ouro de Salomão?
Dois momentos distintos explicam o processo de escrita desses textos. Quando o reino de Israel foi destruído pelos assírios, o reino de Judá passou a ocupar o vazio, crescendo economicamente e se fortalecendo politicamente. Além disso, Judá buscou reinventar as tradições sobre o seu passado, criando algumas das narrativas que acabariam compondo a Bíblia que conhecemos. A invenção de uma monarquia unificada com sede em Jerusalém e seu templo esteve no centro desse novo discurso.

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