Lula encara sua omissão

Foi necessário que Nicolás Maduro ameaçasse promover um "banho de sangue" caso seja derrotado na eleição de domingo (28), para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticar a ditadura venezuelana.

"Quem perde as eleições toma um banho de votos, não de sangue. Maduro tem de aprender: quando você ganha, você fica. Quando você perde, vai embora e se prepara para disputar outra eleição", afirmou o brasileiro na segunda (22).

Para quem insiste em qualificar como democracia o regime autoritário construído por Hugo Chávez e cimentado por Maduro nos últimos 20 anos, a fala representa um avanço. Mas retórica não basta.

Na condição de chefe de Estado da maior democracia latino-americana, Lula precisa superar sua omissão histórica diante do recrudescimento do chavismo.

Caso Maduro venha a perder, será necessário unir forças com vizinhos da região para forçá-lo a respeitar o resultado das urnas e, caso seja vitorioso, não impedir contestações da lisura da eleição.

Já que, num país onde todas as instituições do Estado respondem ao caudilho, inclusive o Conselho Nacional Eleitoral, acumulam-se evidências de interferências no pleito, como prisões políticas e coações para esvaziar a candidatura da oposição, unificada em torno de Edmundo González.

Somente o regime —no comando dos aparatos militar, policial e das milícias— detém os meios para promover um "banho de sangue".

Na verdade, a selvageria de Caracas é antiga e notória. Ao menos 125 pessoas foram mortas pelo Estado desde a onda de protestos de 2017. Em 2022, a ONU divulgou relatório com 122 casos de tortura e de violência sexual. O país está sob investigação do Tribunal Penal Internacional desde 2023.

Temendo o pior, e talvez projetando a repercussão sobre seu governo da violência de uma ditadura que apoia, Lula decidiu enviar à Venezuela seu assessor para assuntos internacionais, Celso Amorim, para acompanhar o pleito.

Conhecido por se eximir de condenar o regime, o sucesso de Amorim depende também de o Brasil de fato reconhecer o indiscutível caráter autoritário de Maduro.

benefício do assinante

Assinantes podem liberar 💥️7 acessos por dia para conteúdos da Folha.

Já é assinante? Faça seu login ASSINE A FOLHA
  • Salvar para ler depois Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

  • Leia tudo sobre o tema e siga:

    O que você está lendo é [Lula encara sua omissão].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

    Wonderful comments

      Login You can publish only after logging in...