Universidade de Coimbra diz que não sabia do acordo de colaboração com docente russo 24
Vladimir Pliassov foi acusado de “propaganda russa” por dois ativistas ucranianos, num artigo de opinião publicado no Jornal de Proença e depois replicado pelo jornal Observador, tendo sido demitido pela Universidade de Coimbra (UC), após essas denúncias terem vindo a público.
Numa nota de imprensa enviada à agência Lusa, a Universidade de Coimbra explicou hoje que, no contexto da guerra na Ucrânia, a UC decidiu cessar o protocolo com a fundação Russkyi Mir (sancionada pela Comissão Europeia) e que optou por garantir “com base em recursos próprios” a continuidade do Centro de Estudos Russos, liderado por Vladimir Pliassov.
O contrato de trabalho do professor russo “foi cumprido pontualmente até à data da sua aposentação”, referiu.
A UC afirmou que Vladimir Pliassov, após a sua aposentação, “continuou a dirigir” o centro, atividade que se fez com base num acordo de colaboração voluntária, a título gracioso, com data de início a 01 de setembro de 2022, sem explicar se o acordo foi celebrado com a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), reitoria ou outra unidade orgânica da instituição.
“A reitoria, ao tomar conhecimento efetivo deste acordo, cessou-o de imediato no quadro jurídico aplicável”, concluiu a UC numa nota de esclarecimento em que não refere quais os factos que estão na base dessa cessação.
A questão da demissão do professor foi abordada a 22 de maio, na reunião do Conselho Geral da Universidade de Coimbra, órgão que solicitou informações e esclarecimentos ao reitor, Amílcar Falcão, sobre o caso, refere a comunicação enviada à comunidade académica a que a agência Lusa teve acesso.
“A reitoria prestou informações sobre os antecedentes do caso, seguindo-se debate”, refere a comunicação, sem dar conta do conteúdo desse mesmo debate.
Na quarta-feira, foi entregue à reitoria um abaixo-assinado subscrito por cerca de 60 docentes da FLUC que critica a forma como o ex-diretor do Centro de Estudos Russos foi demitido e defende um processo de averiguações pela reitoria.
Num documento intitulado “Pelo direito ao contraditório e à presunção da inocência”, os docentes afirmam que “foi com perplexidade” que tomaram conhecimento do “despedimento sumário” do diretor do Centro de Estudos Russos, Vladimir Pliassov, sem a realização de um inquérito “que lhe permitisse responder às acusações de que foi alvo”.
“Independentemente de outros aspetos envolvidos, consideram os/as subscritores/as deste documento que a situação cria um precedente inaceitável, suscetível de comprometer a relação de respeito e confiança entre a Universidade de Coimbra e os/as seus/suas funcionários/as, para além de pôr em causa princípios nucleares de direito e de cidadania”, afirmaram os docentes, no abaixo-assinado a que a agência Lusa teve acesso.
Entre os subscritores, estão incluído vários diretores de cursos (de licenciatura, mestrado e doutoramento) da FLUC, assim como da subdiretora da Faculdade de Letras, Ana Peixinho, da subdiretora do Departamento de Filosofia, Comunicação e Informação, Inês Amaral, da diretora do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas, Paula Barata Dias.
Os antigos vice-reitores Joaquim Ramos de Carvalho e Clara Almeida Santos, o escritor e tradutor Frederico Lourenço (que codirige o curso de Estudos Clássicos), o antigo diretor da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, João Gouveia Monteiro, o vice-coordenador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, Luís Trindade e os subdiretores do Centro de Línguas da FLUC, Rute Soares e Alberto Sismondini, são alguns dos nomes que subscreveram o abaixo-assinado.
Um dia após a demissão de Vladimir Pliassov, o reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, recusou divulgar os alegados factos que levaram à demissão daquele professor russo, referindo que o processo não teve nem teria de ter associado qualquer processo disciplinar.
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