Em 2023, a Lufthansa "aceitava ser minoritária" na TAP e manter empresa nacional, afirma Diogo Lace
Durante a audição na comissão parlamentar de inquérito à TAP, que durou perto de seis horas, Diogo Lacerda Machado foi questionado pela deputada do BE Mariana Mortágua sobre uma resposta dada anteriormente em relação à privatização, quando disse não estar “certo nem seguro” que acontecesse agora “aquilo que era muito bom em fevereiro de 2023, que esteve à beira de acontecer”.
De acordo com o antigo administrador não executivo da TAP, “era naquela circunstância muito interessante a hipotética transação que esteve à beira de acontecer” com a companhia aérea alemã.
“A Lufthansa estava entusiasmada com o investimento na TAP, queria desenvolver efetivamente o ‘hub’ de Lisboa. O aeroporto era um terrível constrangimento”, começou por referir.
Mais do que isso, segundo Lacerda Machado, “a Lufthansa aceitava ser minoritária a aceitava os mesmos compromissos estratégicos”.
“Isso significa que a TAP continuava a ser uma empresa portuguesa, com a sua identidade, com a sua marca, com direção efetiva em Portugal, com emprego, com os fornecedores portugueses, a pagar impostos em Portugal e a contribuir para a balança de pagamentos e de transações e a ser a maior exportadora de serviços em Portugal”, elencou, adiantando que soube deste interesse em abril de 2023.
Foi abordada por diversas vezes na audição uma reunião com o então ministro Pedro Marques em 2015 para iniciar as negociações com vista à alteração da estrutura acionista, que nesta altura era 61% da Atlantic Gateway.
“A reunião correu o pior possível”, recordou, admitindo que “se podia estar na iminência da reversão” da privatização feita na reta final do Governo PSD/CDS-PP.
Segundo Lacerda Machado, “depois do choque inicial”, o consórcio detido por David Neeleman e Humberto Pedrosa terá medido “os riscos que corria” e os acionistas “decidiram aceitar o processo de negociação” que levou o Estado a recuperar o controlo estratégico da TAP com 50%.
Relativamente ao apoio de 3.200 milhões de euros, Lacerda Machado sublinhou que é um valor que não chega sequer ao valor médio das ajudas às companhias similares dos Estados que também prestaram auxílio e que , “das outras 20 e tal companhias”, como a Air France/KLM ou a Lufthansa, apenas uma reembolsou o dinheiro.
“Também estou convencido que a TAP, se lhe derem condições, pode levar muito tempo, mas paga de volta”, defendeu, acrescentando que a insistência no discurso de que a TAP não vai reembolsar o valor do apoio “é um péssimo serviço que está a ser prestado”.
Para o ex-administrador, essa narrativa pode ter o “efeito perverso” de sinalizar aos interessados: “compre com desconto, aproveite”.
Ainda sobre o apoio de resgate e reestruturação, o advogado disse que, sendo o problema a TAP SGPS e não a transportadora (TAP S.A.), a última é que devia ter pedido ajuda.
Já questionado sobre um “desaguisado” entre o antigo presidente executivo Antonoaldo Neves e o ex-ministro Pedro Nuno Santos, que terá levado à saída do CEO, agora à frente da Etihad Airways, Lacerda Machado admitiu ter tido “momentos muito difíceis” com o gestor brasileiro, que considera seu amigo.
Por fim, questionado sobre prémios no valor de 1,171 milhões de euros pagos a 180 trabalhadores, relativos a 2018, ano de elevados prejuízos, Lacerda Machado explicou que “não eram prémios nenhuns”, mas sim remunerações variáveis.
A relação de amizade entre Lacerda Machado e o primeiro-ministro foi por diversas trazida à audição, e o antigo administrador chegou mesmo a confidenciar que António Costa se tivesse escolhido ser advogado teria ficado rico, mas escolheu ser pobre.
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