SUS faz 300 mil laqueaduras em 4 anos, mas mulheres citam dificuldades e falta de apoio; nova regra diminui exigências

Diane sempre soube que não queria ser mãe e, desde os 25 anos, tenta fazer uma 💥️laqueadura, 💥️a 💥️cirurgia que corta as tubas uterinas para impedir uma gravidez. Hoje, poucos meses de completar 30 anos, a pesquisadora já contabiliza quatro tentativas frustradas na busca pelo procedimento, ainda não realizado.

“É muito chato isso. Eu mesma não posso cuidar da minha saúde e do meu planejamento familiar", conta ao 💥️g1 a moradora do Rio de Janeiro (RJ), que preferiu não revelar o sobrenome.

Ao longo dos últimos quatro anos, ao manifestar interesse em fazer uma laqueadura, ela afirma que foi ignorada por profissionais de saúde nas redes pública e particular. "A enfermeira pegou a lei da minha mão para mostrar para a supervisora dela e, quando voltou, disse que eles não estavam reconhecendo essa lei”, relata Diane.

Após muita insistência, Diane foi colocada na fila de cirurgias eletivas do SUS no final de 2022. Mas, dois meses depois, o status apareceu como negado, e nenhuma explicação foi dada a ela.

Já a professora Fabiane Pereira esperou seis anos até entrar na sala de cirurgia, em novembro de 2023, quando fez a chamada salpingectomia .

Sistema reprodutivo feminino — Foto: Freepik/Divulgação 1 de 3 Sistema reprodutivo feminino — Foto: Freepik/Divulgação

Sistema reprodutivo feminino — Foto: Freepik/Divulgação

A legislação brasileira regula a esterilização no Brasil.

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Apesar de ser claro, o texto ainda é mal interpretado. Reunidas em grupos nas redes sociais, mulheres que não querem ser mães trocam experiências sobre a realização da laqueadura e fazem listas compartilhadas com nomes de médicos que fazem o procedimento, além dos estados em que atuam.

Nos grupos, também incentivam mulheres a levar a legislação "embaixo do braço", assim como fez Diane e Fabiane, para evitar qualquer manifestação contrária à cirurgia.

A lei não incentiva a esterilização, mas autoriza quem quer fazê-la. Médicas ginecologistas ouvidas pelo💥️ g1 explicam que o papel dos profissionais de saúde é informar e aconselhar a pessoa sobre a laqueadura e a possibilidade de adoção de outros métodos contraceptivos, com base em evidências científicas e no quadro de saúde da paciente.

Mayra Boldrini, ginecologista do Hospital Vergueiro (SP), explica que a paciente, quando manifesta o desejo de fazer uma laqueadura em uma consulta, precisa ser informada pelo médico sobre os detalhes envolvendo o procedimento, além das alternativas a ele.

Para a ginecologista e sexóloga Rayanne Pinheiro, quando uma mulher está convicta de que não quer ter filhos, isso precisa ser validado. "Se ela diz que é uma decisão própria e que tem certeza disso, não cabe ao profissional (de saúde) fazer nenhum tipo de discussão, não cabe a ele descredibilizar essa mulher”, completa.

O que é a laqueadura — Foto: Wagner Magalhães/Arte g1 2 de 3 O que é a laqueadura — Foto: Wagner Magalhães/Arte g1

O que é a laqueadura — Foto: Wagner Magalhães/Arte g1

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Desde pequena, Julia Vitoria sabe que não quer ter filhos. Na infância, viu de perto casos de gravidez na adolescência e de mães que tiveram que criar os filhos sozinhos após o abandono paterno. Com 21 anos, a jovem foi beneficiada com a recente mudança na lei que alterou a idade mínima para fazer a laqueadura e está no processo para fazer o procedimento.

"Tentei adiantar a papelada e os 60 dias obrigatórios antes de a lei entrar em vigor, mas não consegui", conta. “Não é porque foi dado o encaminhamento que tudo vai ser tranquilo. Posso ser barrada daqui para a frente. Estou com uma expectativa de 70%”, afirma Julia, que tenta fazer a cirurgia pelo SUS.

Moradora de Campinhas (SP), Talita, de 31 anos, decidiu fazer a laqueadura pois diz ter certeza de que não quer ser mãe e após usar outros métodos contraceptivos, como o DIU hormonal (mais conhecido como Mirena).

Em janeiro desde ano, ela procurou o posto de saúde para dar entrada no procedimento e disse que ficou surpresa - mas de uma forma positiva. "Cheguei lá com a lei embaixo no braço e com 20 pedras na mão depois dos relatos que eu li. Não teve nenhum questionamento", diz.

Os dados foram levantados pelo Ministério da Saúde a pedido do 💥️g1. No caso de mulheres sem filhos ou com o status não informado, o número de laqueaduras praticamente dobrou nos últimos quatro anos: em 2023, foram 653 cirurgias. Em 2022, o número saltou para 1.241. A quantidade de cirurgias é maior entre mulheres com dois filhos: foram mais de 43 mil procedimentos no ano passado.

Há também relatos de mulheres que nem sequer conseguiram abrir o processo. "Me disseram no posto que é muito difícil conseguir pelo SUS", afirma uma moradora de Maricá (RJ) que não quer se identificar.

A quantidade de laqueaduras feitas no SUS é muito maior do que a inserção de dispositivos intrauterinos, os DIUs: foram mais de 70 mil procedimentos desse tipo em 2022.

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Outro procedimento adotado por mulheres que buscam a esterilização é a 💥️salpingectomia. A diferença é que, nesse caso, há 💥️a retirada das trompas, e não a estrangulação do canal tubário, como acontece na laqueadura. O método escolhido vai depender da paciente e do andamento da cirurgia.

"A abordagem cirúrgica é determinada pelas condições do corpo de cada uma. Às vezes, nos programamos para uma laqueadura e há varizes na pelve ou um sangramento não programado que podem justificar a necessidade de retirar a trompa, por exemplo", afirma a ginecologista Ana Teresa Derraik, que também é diretora da Maternidade Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias (RJ).

Tanto a laqueadura quanto a salpingectomia são procedimentos irreversíveis.

Parte da resistência médica em fazer o procedimento também passa por um 💥️possível arrependimento no futuro da paciente, que pode ser questionado na Justiça.

"Muitos médicos acabam evitando esse tipo de procedimento por insegurança e medo de um processo, já que a esterilização causa uma perda definitiva de função”, coloca a ginecologista Rayanne Pinheiro.

A laqueadura é uma cirurgia na trompa, o canal que liga o ovário até o útero — Foto: Profissão Repórter 3 de 3 A laqueadura é uma cirurgia na trompa, o canal que liga o ovário até o útero — Foto: Profissão Repórter

A laqueadura é uma cirurgia na trompa, o canal que liga o ovário até o útero — Foto: Profissão Repórter

Apesar de ser irreversível, mulheres que fazem laqueadura ou salpingectomia ainda podem gestar de outras formas, após uma inseminação artificial ou uma fertilização in vitro.

Ou também podem engravidar 💥️sem querer. A taxa de eficácia da laqueadura fica 💥️acima de 99%, mas há uma mínima chance de falha: a cada mil mulheres, cinco podem engravidar pela forma natural, mesmo esterilizadas, algo que também virou processos na Justiça.

💥️DIUs possuem taxas de eficácia parecidas com a da laqueadura. Eles são pequenos dispositivos em forma de T colocados no interior do útero, com o objetivo de evitar uma gravidez, e 💥️são reversíveis.

De acordo com ginecologistas, não existe um método contraceptivo perfeito: depende muito da fase da vida que a mulher se encontra, do estado de saúde e dos fatores de risco.

Segundo a médica Ana Tereza Derraik, a laqueadura é recomendada para mulheres que decidiram fazer o procedimento depois de serem informadas sobre as complicações, os efeitos colaterais e as possíveis falhas, além de serem esclarecidas sobre todos os métodos contraceptivos disponíveis.

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