Bloqueios de internet dificultam apoio de iranianas no exterior aos protestos em seu país
Um homem anda de bicicleta na frente de um mural, em um túnel de Paris, que retrata mulheres cortando o cabelo para mostrar apoio aos manifestantes iranianos. A população do Irã enfrenta o regime de Teerã após a morte de uma jovem sob custódia policial — Foto: AP - Francois Mori
Por quase três semanas, apesar da repressão, homens e mulheres iranianos vêm desafiando o regime e apontando o uso obrigatório do véu para as mulheres como um símbolo de opressão. No exterior, iranianas expatriadas ou exiladas também estão se mobilizando com manifestações e uma forte presença nas redes sociais, mas esbarram em obstáculos ligados à distância e dificuldades de comunicação.
Mahya Ostovar está envolvida em campanhas contra o uso obrigatório do véu há oito anos. Ela agora vive na Europa, de onde tenta participar dos protestos ao lado de outras ativistas, com a campanha “Segundas brancas”. Essas mulheres iranianas no exterior querem fazer ecoar no resto do mundo a voz de suas compatriotas.
“Para nós, provavelmente é mais fácil ser porta-voz delas, porque aqui fora você tem mais liberdade, acesso gratuito à internet. Você costuma falar outros idiomas, como inglês ou francês. Você pode participar de entrevistas. São coisas difíceis de se fazer no interior do país”, afirma.
Porém, os bloqueios de internet tornam as comunicações com o Irã complicadas, além de dificultarem a veracidade das informações vindas de lá, acrescenta Mahya Ostovar. “Tentamos verificar o máximo possível, por diferentes fontes. Por exemplo, se você conhece alguém neem tal cidade, confere se algo realmente aconteceu. Mas eu sei que em alguns casos não é tão fácil. Vimos vídeos enviados, mas nossos contatos disseram que não estavam naquela cidade ou não naquela data", exemplifica.
Ser porta-voz é um trabalho que Mahya Ostovar considera importante e um tanto irrisório. Para a jovem, o verdadeiro compromisso é o dos iranianos que permaneceram no país, onde muitos temem se expressar.
É o caso de uma jovem iraniana ouvida por Nicolas Falez, da redação internacional da RFI. Para contatá-la no Irã, foi preciso contornar as restrições de internet que o governo colocou em prática, nos últimos dias. "É um bloqueio completo do Instagram e do WhatsApp e essas restrições não devem ser suspensas tão cedo", disse ela, sob condição de anonimato.
A jovem não participa das manifestações, mas acompanha as notícias do movimento há quase três semanas. “Muda de forma o tempo todo. Um dia nas ruas, depois nas universidades, depois nas escolas. Não se pode prever nada. Todos com quem eu falo estão assustados ou perdidos. Não podemos realmente saber como tudo isso vai acabar”, revela a jovem.
Segundo ela, a reação do poder de Teerã é sem surpresa. “Eles repetem tudo o que sempre disseram em situações comparáveis. Por exemplo, que esse movimento é incentivado pelos Estados Unidos e pela Inglaterra”, diz.
Ela também comenta sobre o seu espanto com as reações que esse movimento desperta no mundo. “Não é a primeira vez que esse tipo de coisa acontece no Irã, mas é a primeira vez, até agora, que chamou tanta atenção”, afirma.
Quase três semanas após a morte do jovem Mahsa Amini, muitas estudantes iranianas retiraram seus véus em protesto contra a obrigação imposta às mulheres de usar o hijab no Irã.
É difícil saber o preço exato da repressão às manifestações. O balanço varia entre 60 mortos, incluindo 12 membros das forças de segurança, de acordo com Teerã; e pelo menos 92 mortos, segundo a ONG Iran Human Rights, sediada na Noruega.
Na França, cerca de 50 atrizes e cantoras estão se mobilizando através de um vídeo no Instagram, no qual aparecem cortando o cabelo em apoio às mulheres iranianas, cao som da famosa música italiana de revolta "Bella Ciao", em versão persa.
“Bella Ciao” se tornou viral em sua versão persa gravada por uma jovem iraniana, vista mais de três milhões de vezes no Twitter, em poucos dias.
É um apelo à liberdade lançado diante das câmeras por algumas das maiores estrelas francesas: Juliette Binoche, Isabelle Huppert e Marion Cotillard, mas também belgas, como a cantora Angèle, ou britânicas, como Charlotte Rampling e Jane Birkin. Com uma tesoura na mão, eles cortam uma mecha de cabelo.
"Ela morreu por deixar alguns fios de cabelo à mostra", diz o texto que aparece no vídeo em que as atrizes e cantoras afirmam sua indignação com a situação das mulheres no Irã.
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