Vladimir Putin faz 70 anos: 7 momentos-chave que marcaram sua carreira
Vladimir Putin completa 70 anos nesta sexta-feira (7). Como ele se tornou o autocrata isolado pelo Ocidente que comanda a invasão da Ucrânia?
Sete momentos cruciais em sua vida ajudaram a moldar seu pensamento e explicar seu crescente distanciamento com o Ocidente.
1 de 1 Vladimir Putin faz 70 anos: 7 momentos-chave que marcaram sua carreira — Foto: TASS News Agency Host Pool Photo via AP
Vladimir Putin faz 70 anos: 7 momentos-chave que marcaram sua carreira — Foto: TASS News Agency Host Pool Photo via AP
Nascido em uma Leningrado (atual São Petersburgo) ainda marcada por seu cerco de 872 dias na Segunda Guerra Mundial, o jovem Vladimir era um menino mal-humorado e combativo na escola — seu melhor amigo lembrou que "ele podia brigar com qualquer um" porque "não tinha medo".
No entanto, em uma cidade invadida por gangues de rua, um menino franzino, mas briguento, precisava estar preparado. Aos 12 anos, começou a praticar o sambo, uma arte marcial russa, e depois o judô. Ele era determinado e disciplinado: aos 18 anos, era faixa preta de judô e tinha o terceiro lugar em uma competição nacional júnior.
Essa parte da biografia foi usada para ressaltar o lado "machão" da persona do atual presidente russo. Mas também confirmou sua crença inicial de que, em um mundo perigoso, você precisa ter confiança e também perceber, segundo suas próprias palavras, que quando uma briga é inevitável "você deve bater primeiro e bater com tanta força que seu oponente não se levantará".
Em geral, as pessoas evitavam ir ao 4 Liteyny Prospekt, endereço do quartel-general da KGB (a polícia política soviética) em Leningrado. Tantos haviam passado por suas celas e seus interrogatórios para seguir depois para os campos de trabalho do gulag siberiano na era Stálin que costumava-se contar uma piada ácida. O chamado Bolshoi Dom, a "Casa Grande" onde ficava a sede da KGB na cidade, era o edifício mais alto de Leningrado porque era possível ver a Sibéria mesmo de seu porão.
Mas Putin, quando tinha 16 anos, foi até a recepção com tapete vermelho da KGB e perguntou a um oficial atrás de uma mesa como ele poderia tomar parte na corporação. Surpreso e confuso, o oficial disse que ele precisava completar o serviço militar ou ter um diploma. Putin então perguntou qual seria a melhor graduação.
"Direito" foi a resposta e, a partir desse ponto, Putin ficou determinado em conseguir esse diploma. E foi assim que ele foi recrutado pela corporação soviética. Para Putin, o malandro das ruas, a KGB era a maior gangue da cidade: oferecia segurança e chance de progredir mesmo para alguém sem conexões com o Partido Comunista.
E também representou uma oportunidade de se tornar alguém que faz acontecer. Como o líder russo contou sobre a inspiração que veio dos filmes de espionagem na adolescência, "um espião pode decidir o destino de milhares de pessoas".
Apesar de depositar tantas esperanças, a carreira de Putin nunca decolou na KGB. Ele tinha um bom desempenho nas suas funções, mas os voos altos nunca aconteceram. De qualquer forma, ele se empenhou em aprender alemão e isso lhe rendeu uma nomeação em 1985 para os escritórios da KGB em Dresden, na antiga Alemanha Oriental.
Lá ele conseguiu ter uma vida confortável. Mas, em novembro de 1989, o comunismo alemão começou a entrar em colapso com extrema velocidade.
Em 5 de dezembro, uma multidão cercou o prédio da KGB de Dresden. Putin ligou desesperado para o posto mais próximo do Exército Vermelho para pedir proteção. A resposta: "Não podemos fazer nada sem ordens de Moscou. E Moscou está em silêncio".
Putin aprendeu a temer o súbito colapso do poder central — e determinado a nunca repetir o que achava ser um erro do líder soviético Mikhail Gorbachev: não responder com rapidez e determinação quando confrontado com a oposição.
Putin mais tarde deixaria a KGB, quando a União Soviética implodiu. Mas logo garantiu uma posição como intermediário do novo prefeito de sua Leningrado, já com seu antigo nome de volta: São Petersburgo.
A economia estava em queda livre e Putin foi encarregado de administrar um acordo para tentar ajudar a população da cidade com a troca do equivalente a US$ 100 milhões em petróleo e metal por alimentos.
Na prática, ninguém viu comida. Segundo uma investigação — rapidamente abafada —, Putin, seus amigos e os gângsteres da cidade, embolsaram o dinheiro.
Nos "selvagens anos 1990", Putin aprendeu rapidamente que a influência política era uma mercadoria monetizável — e que os gângsteres poderiam ser aliados úteis. Quando todos ao seu redor estavam lucrando com suas posições, sua lógica foi: por que ele não deveria?
Quando Putin se tornou presidente da Rússia, em 2000, ele esperava poder construir um bom relacionamento com o Ocidente — sob suas próprias condições, incluindo uma esfera de influência em toda a antiga União Soviética. Logo ele ficou desapontado, depois com raiva, acreditando que o Ocidente tentava isolar e diminuir a Rússia.
Quando o presidente georgiano Mikheil Saakashvili colocou seu país na rota da adesão da Otan (Aliança do Tratado do Atlântico Norte), o alarme soou para Putin. Uma tentativa da Geórgia de recuperar o controle sobre a região separatista da Ossétia do Sul, apoiada pela Rússia, tornou-se uma desculpa para uma operação de guerra.
Em cinco dias, as forças russas não deram chance aos militares georgianos e forçaram o presidente Saakashvili a aceitar um tratado de paz humilhante.
O Ocidente demonstrou indignação, mas, em um ano, o presidente Barack Obama se ofereceu para "redefinir" as relações com a Rússia. E Moscou recebeu até o direito de sediar a Copa do Mundo de 2018.
Para Putin, estava claro que o uso da força funcionava — e que um Ocidente fraco e sem direção bufaria de raiva, mas, no final, recuaria diante de uma vontade determinada.
A suspeita — com evidências — de que as eleições parlamentares de 2011 foram fraudadas provocou protestos populares. A proporção deles cresceu quando Putin anunciou que se candidataria à reeleição em 2012.
Conhecidos como os "Protestos Bolotnaya", em homenagem à praça de Moscou que serviu de palco para as manifestações, isso representou a maior expressão de oposição pública a Putin.
O líder russo disse que os atos foram incentivados e dirigidos por Washington e apontou a culpa para a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton.
Para Putin, era uma evidência de que o Ocidente flexionava seus músculos e que vinha em sua direção. Na prática, significava que agora era guerra.
Quando a covid-19 varreu o mundo, Putin entrou em um isolamento incomum até mesmo para autocratas. Qualquer um que fosse encontrar o presidente russo, teria que se isolar por 15 dias sob vigilância e depois passar por um corredor banhado em luz ultravioleta e desinfetante.
Nesse período, o número de aliados e conselheiros que conseguiam encontrar Putin diminuiu drasticamente — apenas algumas figuras mais próximas.
Exposto a poucas opiniões contrárias e quase sem contato com seu próprio país, Putin parece ter se convencido de que todas as suas crenças estavam certas e justificadas, e assim as sementes da invasão da Ucrânia foram plantadas.
Professor Mark Galeotti é um pesquiador e escritor, autor de livros como We Need To Talk About Putin (Nós Precisamos Falar sobre Putin) e Putin's Wars (As Guerras de Putin), ainda a ser lançado.
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