Tenente brasileiro conta como foi lutar na Ucrânia: 'Não tinha uma noite que eu ia deitar sem medo'
O que leva um brasileiro a correr risco de vida do outro lado do mundo defendendo uma terra que não é a dele?
Para Sandro Silva, tenente brasileiro nascido e criado em Belém (PA), que lutou contra a invasão ordenada por Vladimir Putin, a resposta não é difícil: curioso e interessado por assuntos relacionados a Rússia e Ucrânia desde 2014, ele acredita ser "sua missão" defender o território ucraniano da invasão russa.
1 de 6 Tenente brasileiro Sandro Silva em atividade junto do exército ucraniano — Foto: Arquivo pessoalTenente brasileiro Sandro Silva em atividade junto do exército ucraniano — Foto: Arquivo pessoal
"Sei me comunicar bem em inglês, tenho treinamento militar e tenho todos os atributos de alguém que pode ajudar. Eu tinha essa sensação de dever", justifica.
Mesmo tendo chegado à Ucrânia somente em maio, Sandro diz que começou a buscar por oportunidades de ir ao local logo no início da guerra, em fevereiro. Ele conta que participou de um processo seletivo em março que o escolheu para liderar um pelotão de estrangeiros.
2 de 6 Tenente brasileiro Sandro Silva em ativididade com o exército ucraniano — Foto: Arquivo pessoalTenente brasileiro Sandro Silva em ativididade com o exército ucraniano — Foto: Arquivo pessoal
"Cheguei em Kiev, passei por treinamentos na capital e lutei em Kharkiv, Donbass, Severodonetsk, Lysychansk e Zaporizhzhia", conta ele.
Momentaneamente no Brasil para resolver problemas familiares, ele relembra tudo que passou enquanto lutava no front.
3 de 6 Tenente brasileiro Sandro Silva em exercício ao lado do exército ucraniano — Foto: Arquivo pessoal
Tenente brasileiro Sandro Silva em exercício ao lado do exército ucraniano — Foto: Arquivo pessoal
Sandro conta que teve que atravessar locais com corpos de diversos jovens mortos.
André Hack, brasileiro que morreu em combate na Ucrânia, era do mesmo pelotão que Sandro.
4 de 6 Tenente brasileiro Sandro Silva em atividade ao lado do exército ucraniano — Foto: Arquivo pessoal
Tenente brasileiro Sandro Silva em atividade ao lado do exército ucraniano — Foto: Arquivo pessoal
O tenente conta que quanto mais perto da linha de frente, pior ficava a logística, e a conexão de internet começava a diminuir.
Sandro afirma que muitos ataques aconteciam durante a noite. Ele lembra de estar deitado e repentinamente ter que levantar, buscar abrigo, responder de alguma maneira.
Segundo Sandro, estrangeiros contratados recebem salário e têm os mesmos direitos de um soldado ucraniano. Entretanto, houve atrasos nos pagamentos que ainda não foram resolvidos.
5 de 6 Tenente brasileiro Sandro Silva em atividade ao lado do exército ucraniano — Foto: Arquivo pessoal
Tenente brasileiro Sandro Silva em atividade ao lado do exército ucraniano — Foto: Arquivo pessoal
No início da guerra, a Rússia apresentou a invasão como uma operação especial para combater uma suposta ameaça nazista na Ucrânia. Esse argumento é repetido inúmeras vezes como forma de justificativa para a guerra.
Sandro diz que a situação é diferente: "Vieram achando que estavam combatendo nazistas na Ucrânia, chegaram lá e viram que não tinha nenhum nazista".
O tenente brasileiro diz ter ouvido de civis que quando os russos tomavam conta das cidades, eram recebidos pelas pessoas com cuidado. Mesmo contrários à invasão, eles ajudavam os militares russos com comida e água.
6 de 6 Tenente brasileiro Sandro Silva em exercício ao lado do exército ucraniano — Foto: Arquivo pessoalTenente brasileiro Sandro Silva em exercício ao lado do exército ucraniano — Foto: Arquivo pessoal
Para ele, não deixam de ser seres humanos do outro lado, fazendo o mesmo que os ucranianos --seguir ordens.
Nas últimas semanas, o exército ucraniano vem retomando alguns territórios nas regiões norte, nordeste, sul e leste do país.
"Já recuperaram coisas que pertenciam à gente... Já achamos armas com nossas gravuras", conta Sandro.
No Brasil, Sandro é oficial do exército da reserva: 2° tenente, ele já serviu em Tabatinga, região fronteiriça com a Colômbia e o Peru.
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