Bolsonaro faz live na madrugada para se defender após frase sobre meninas venezuelanas
O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, abriu uma live em suas redes sociais na madrugada deste domingo (16) para se defender das críticas que recebeu por uma fala sobre meninas venezuelanas em uma entrevista que concedeu na sexta (14).
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Durante a transmissão, Bolsonaro acusou o PT de explorar suas declarações sobre o encontro com as adolescentes de maneira deturpada. Ele não explicou o que quis dizer quando usou a expressão "pintou um clima" nem disse se informou alguma autoridade sobre a situação que presenciou na casa em que estavam as garotas.
Na sexta, em conversa com influenciadores em um podcast, o presidente falava sobre a vinda de venezuelanos ao Brasil quando narrou um encontro com meninas de idades entre 14 e 15 anos durante um passeio de moto nos arredores de Brasília.
Ao relatar o episódio, ocorrido em 2023, o presidente disse que "pintou um clima" ao interagir com as garotas e insinuou que elas estariam se prostituindo. Essa declaração gerou uma ampla repercussão e foi criticada por opositores nas redes sociais.
"Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião, se eu não me engano, em um sábado de moto [...] parei a moto em uma esquina, tirei o capacete, e olhei umas menininhas... Três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, num sábado, em uma comunidade, e vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. 'Posso entrar na sua casa?' Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando, todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos, se arrumando no sábado para quê? Ganhar a vida", afirmou Bolsonaro na entrevista .
Neste domingo, pouco depois de meia-noite, Bolsonaro se defendeu em uma transmissão ao vivo em suas redes sociais e acusou a oposição de deturpar sua fala. O presidente disse que o encontro com as meninas ocorreu em 2023 [na verdade, foi em 2023] e foi mostrado em suas redes sociais e por uma emissora de TV. Segundo ele, o objetivo era mostrar indignação com a situação das adolescentes que haviam fugido da Venezuela.
"O PT recorta pedaços [da entrevista ao podcast] como se eu estivesse atrás de programas. Fiz uma live, foi demonstrado o que estava acontecendo. [O PT] Pega pedaço e fala 'pintou um clima'? Que vergonha é essa? Sempre combati a pedofilia", afirmou o presidente. "Se fosse algo escondido, tudo bem, mas não foi nada escondido. Abri uma live por indignação sobre o que estava acontecendo."
Bolsonaro postou em suas redes sociais um vídeo com a transmissão ao vivo que, segundo ele, refere-se à visita feita na casa em que estavam as venezuelanas.
Trechos da "live" foram compartilhados por Bolsonaro e pelo filho Carlos no Twitter neste domingo (16). Embora o vídeo seja de 10 de abril de 2023, o presidente afirma na postagem que é de 2023.
Ao longo dos 22 minutos da transmissão da visita, Bolsonaro não falou em prostituição. O presidente criticou o isolamento social decorrente da pandemia, perguntou sobre as condições de vida e também atacou governadores e a ditadura venezuelana.
Neste sábado (15), as declarações de Bolsonaro ao podcast repercutiram nas redes sociais e foram criticadas por políticos da oposição.
O deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSOL-SP) disse que o presidente é "asqueroso e pervertido" e questionou: "Esse é o candidato que diz defender a moral e a família?".
A cantora Daniela Mercury classificou a situação como "absurda" e questionou sobre o que o presidente quis dizer com a expressão "pintou um clima". "É preciso investigar imediatamente tudo que aconteceu dentro daquela casa. Ele é presidente da república e tinha a obrigação de defender as adolescentes contra qualquer tipo de exploração, ou crime", afirmou Mercury.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Senado, disse sentir "nojo" e "revolta". "O que Bolsonaro disse nessa entrevista, com tanta naturalidade, me deixou ainda mais chocado com o que ele é e o que representa! Ele disse que 'PINTOU UM CLIMA' entre ele e meninas de 14/15 anos. E ainda pediu para entrar na casa delas!", afirmou o senador.
Neste domingo (16), Randolfe ingressou com uma ação no Supremo e pediu que a Corte apure a situação relatada por Bolsonaro e que o presidente seja investigado, entre outras coisas, por suposta prevaricação.
A prevaricação se dá quando um funcionário público, tomando conhecimento de supostas irregularidades, deixa de comunicar a suspeita às autoridades – à Polícia Federal e ao Ministério Público, por exemplo.
O deputado distrital Leandro Grass (PV) enviou ao procurador-geral da República, Augusto Aras, um pedido para investigar a conduta do presidente.
No ofício, Grass questiona por que o presidente não acionou as autoridades competentes "para que providências fossem tomadas" e afirma que se trata de "caso gravíssimo". O parlamentar pede que seja apurado "o que de fato ocorreu, com a urgência que o caso requer".
"Se havia algum problema por ele [Bolsonaro] verificado, deveria procurar as instâncias de controle, justamente para que providências fossem tomadas. Há, na região, Conselho Tutelar ativo e que exerce seu mister com bastante competência. Há, no Distrito Federal, Ministério Público extremamente capaz e que tem agido de forma impecável nas questões relacionadas a direitos humanos. E há, em seu governo, Ministérios da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, bem como o Ministério da Justiça, que lida com questões relacionadas a nacionais de outros países que, ao que tudo indica, sequer foram acionados pelo Presidente. Estamos diante de um caso gravíssimo", afirma o documento.
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