Carmo Dalla Vecchia fala sobre paternidade e combate à homofobia: ‘Orgulho é antídoto da vergonha’
Aos três anos, Pedro é uma criança descrita como alegre, vivaz, comunicativa e conectada com o mundo ao seu redor. Os pais se revezam para levá-lo para a escola, no Rio de Janeiro, e ele ainda conta com ajuda de uma rede de apoio cheia de amor. Mas o fato de Pedro ser filho de dois homens – o ator Carmo Dalla Vecchia e o autor João Emanuel Carneiro - foi motivo suficiente para um comentário homofóbico nas redes sociais.
Ao g1, uma semana após divulgar a fala preconceituosa, Carmo conversou sobre a importância do diálogo para combater a homofobia e a repercussão positiva que tem ao compartilhar a experiência da 💥️paternidade de primeira viagem.
Seja tomando um chimarrão, seja brincando com bichinhos de pelúcia, Carmo faz vários vídeos ao lado de Pedro, compartilhando a rotina deles. Por ser mais reservado, o marido, João, não aparece tanto nas postagens, mas divide as tarefas e a rotina da paternidade com Carmo.
A chegada de Pedro foi muito planejada e aguardada pelos dois, que contaram com uma barriga de aluguel. Aos 51 anos, Carmo divide o aniversário, no 21 de agosto, há 3 anos com o pequeno.
Porém, falar abertamente sobre sua sexualidade não foi sempre um tema fácil na vida do ator. Ele descreveu as dificuldades de se assumir gay enquanto interpretava, em sua maioria, papéis de “galãs” heterossexuais. À época, ele e o relacionamento com João eram alvo de sites de fofocas.
"Cada um sabe os socos que levou, cada um sabe onde dói, então não cabe a ninguém obrigar ninguém a se posicionar de uma maneira como que a pessoa às vezes não está pronta, não está preparada, não se aceita, não reconhece o seu próprio preconceito, porque ele há”, enfatiza.
O artista definiu como uma das maiores descobertas o fato de ele próprio ter preconceito sobre si mesmo e que falar abertamente sobre a sexualidade o ajudou nesse processo.
E Carmo não se ajudou apenas. Com muitos comentários positivos nas redes sociais, o artista é visto como exemplo para outras famílias LGBTQIAPN+.
“Fico muito feliz de um dia, duas mães me pararam e disseram: ‘Esse aqui é o nosso filho, também é filho de duas mães. A gente fica tão feliz quando vê o seu filho no Instagram’. Eu achei bonito porque eu me senti representativo e de uma maneira importante para muitas pessoas que durante muito tempo tiveram que ficar caladas, ou com vergonha, ou sem saber como proceder diante de uma situação como essa”, relembra.
Até por isso, Carmo diz que o questionamento de “como explicar” sobre casais gays para crianças é uma preocupação apenas dos adultos.
“É um ‘grilo’ que a gente coloca na cabeça das crianças, não faz parte do mundo dela. Você não tem que explicar isso para uma criança, porque para ela não existe um questionamento avesso ainda”, diz o ator.
Foi em um dos registros da rotina de Carmo e Pedro que uma internauta comentou que “normalizar para a criança que ela tem dois pais” seria uma imposição e que Carmo e João estariam mentindo para o menino.
Segundo o ator, a fala representa uma minoria: “uma célula única dispersa ali em meio a sei lá quantos mil comentários bacanas, positivos e legais”. Com uma rotina que concilia ensaios para um espetáculo, gravação de uma novela, aulas de piano e sapateado, além da criação de Pedro, Carmo pediu que os seguidores respondessem ao comentário por ele.
O ator descreveu que, logo após a postagem, a internauta tornou a conta dela privada no Instagram e removeu o nome da empresa em que ela trabalhava – o que chamou a atenção do ator.
“A pessoa precisa sentir no bolso às vezes, na carne, que preconceito não pode ser manifestado dessa forma. Você não precisa me aceitar, mas você tem que me respeitar”, enfatiza.
Carmo decidiu não denunciar a mulher à polícia, mas conta que, em outras vezes em que foi xingado, foi até a delegacia. Porém, ele não recebeu qualquer retorno ou pedido de desculpas da internauta.
O ator destaca que, apesar de as pessoas acharem que podem dizer o que quiserem por trás de perfis anônimos, é possível encontrar esses indivíduos e penalizá-los.
“As nossas leis nesse sentido não são muito severas, mas causam um incômodo para a pessoa. Ela vai ter que pagar algumas cestas básicas, fazer algum trabalho voluntário. Incomoda você ter seu nome divulgado, ter que pagar cesta básica, ser chamada na delegacia”, define.
Em 2023, o STF decidiu que falas homofóbicas podem ser enquadradas no crime de racismo - que é inafiançável. A pena é de 1 a 3 anos, podendo chegar a 5 em casos mais graves.
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