Bolsonaro queria radicalizar e propor adiar eleição; sem apoio, recua e antecipa terceiro turno
Bolsonaro durante coletiva — Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino
O presidente Bolsonaro passou as últimas semanas em busca de uma “bala de prata” para tentar reverter a vantagem obtida por Lula no primeiro turno das eleições – mas ele não só não conseguiu um fato novo "do bem" como foi atropelado por um combo explosivo: Paulo Guedes e o salário mínimo e as granadas e 50 tiros de Roberto Jefferson.
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Ao ver que a expectativa de passar Lula na última semana da campanha, como projetado pelo comitê, longe dos números das pesquisas, Bolsonaro voltou às origens: passou a buscar um genérico do questionamento das urnas e das pesquisas para tumultuar o processo a quatro dias do segundo turno das eleições.
Mas o Bolsonaro que convocou a entrevista coletiva da noite desta quarta (26) foi um presidente diferente do que apareceu para falar, meia hora depois, ao lado do ministro da Justiça, Anderson Torres e de Augusto Heleno.
A entrevista foi uma reação à decisão do ministro Alexandre de Moraes, do TSE, de negar pedido da campanha para investigar a alegação de irregularidades em inserções eleitorais por emissoras de rádios.
Bolsonaro, ao dizer a seus assessores que ia convocar uma coletiva para radicalizar, cogitando propor adiamento da eleição – foi demovido por aliados políticos com quem ele conversou nas últimas horas.
Esses políticos lembraram ao presidente que a eleição está em curso, que é preciso ter calma e que não há mudança significativa nas pesquisas que justificasse um discurso de ruptura. E, de longe, deixaram claro no subtexto: o de que, se Bolsonaro escalasse para essa proposta de perdedor, pedindo adiamento das eleições, seria por sua conta e risco – não teria apoio de ninguém.
E a foto no Alvorada deixou claro: não havia nenhum neoaliado, nem do centrão nem de lugar algum a não ser da cozinha do Planalto – como o general Heleno.
Anderson Torres, ministro da Justiça, ficou ao lado do presidente, mas não falou – apenas saiu na foto. Torres é visto como um nome da cota pessoal de Bolsonaro. Todos os demais políticos e ministros chamados estavam com as agendas ocupadas com absolutamente nada, já que optaram por não arriscar sair numa foto às vésperas da eleição com um presidente em vídeo e som patrocinando um golpe.
Também não participaram da entrevista coletiva os três comandantes das Forças Armadas – Carlos Baptista Júnior, da Aeronáutica, Almir Garnier Santos, da Marinha, e Marco Antônio Freire Gomes, do Exército –, que pouco antes haviam se reunido com Bolsonaro no Palácio do Alvorada.
Ao se ver em voo solo, Bolsonaro recuou da velocidade 5 da radicalização e ajustou para a velocidade 3 – ao falar que iria questionar o TSE e sugerir suposto boicote de rádios na campanha.
Nas palavras de um aliado, o discurso "podia ser pior".
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Com isso, Bolsonaro antecipa o terceiro turno da eleição, se for derrotado.
Ministros do STF já receberam informações da campanha jurídica de Bolsonaro de que, se ele perder a eleição domingo, ele vai tentar impugnar o resultado.
Tudo do jogo, dentro das regras e do direito querer questionar no TSE – assim como fez Aécio em 2014 e perdeu. Mas Bolsonaro inova ao tentar anular o jogo com a bola rolando – simplesmente por achar que pode.
Pode muito o presidente, mas não pode tudo. A regra é clara, e o plano B de Bolsonaro, caso ele perca a eleição, é cristalino: o terceiro turno vem aí.
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