Sem opção, pobres no Líbano são obrigados a beber água contaminada com cólera

Hospital de campanha em Bebnine, no norte do Líbano, trata pacientes com cólera. — Foto: Ibrahim CHALHOUB / AFP 1 de 2 Hospital de campanha em Bebnine, no norte do Líbano, trata pacientes com cólera. — Foto: Ibrahim CHALHOUB / AFP

Hospital de campanha em Bebnine, no norte do Líbano, trata pacientes com cólera. — Foto: Ibrahim CHALHOUB / AFP

Marwa Khaled sabe que a água contaminada deixou seu filho doente com cólera, mas continua a beber porque em sua cidade no norte do Líbano a maioria dos habitantes não tem água potável.

"Todo mundo vai pegar cólera", declara, acompanhando o filho de 16 anos ao hospital de campanha de Bebnine, que abriu suas portas no final de outubro.

O cólera foi detectado no Líbano no início de outubro, o primeiro caso em quase 30 anos, em um momento em que o país vive uma crise econômica sem precedentes e luta com infraestruturas antigas e precárias.

Na segunda-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a epidemia está se espalhando rapidamente no Líbano, onde 18 pessoas já morreram e há cerca de 400 casos registrados.

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Como muitos dos habitantes da cidade, Marwa Khaled, de 35 anos, e seus seis filhos bebem água contaminada porque não podem comprar água engarrafada. "As pessoas sabem, mas não têm escolha."

No hospital de Bebnine, Malek Hamad, de dez anos, está doente há duas semanas e perdeu quinze quilos. Sua mãe está apavorada que seus outros dez filhos tenham sido infectados.

Hospital de campanha em Bebnine, no norte do Líbano, trata pacientes com cólera. — Foto: Ibrahim CHALHOUB / AFP 2 de 2 Hospital de campanha em Bebnine, no norte do Líbano, trata pacientes com cólera. — Foto: Ibrahim CHALHOUB / AFP

Hospital de campanha em Bebnine, no norte do Líbano, trata pacientes com cólera. — Foto: Ibrahim CHALHOUB / AFP

Mais de um quarto dos casos registrados no Líbano estão concentrados na cidade de Bebnine, onde abundam famílias numerosas que vivem na pobreza.

De acordo com Nahed Saadeddine, diretor do hospital de campanha, localizado a cerca de 20 quilômetros da fronteira com a Síria, 450 pacientes chegam todos os dias.

A cidade tem 80 mil habitantes e um quarto são refugiados da cidade síria de Rihaniyye, nas proximidades.

A maioria dos habitantes é obrigada a comprar água bombeada por caminhões-pipa de poços, que às vezes também estão contaminados.

A cidade é atravessada por um afluente do rio Nahr el-Bared, que está contaminado com cólera, segundo Saadeddine.

A água "irriga todas as terras agrícolas e contamina poços e lençóis freáticos" de Bebnine, lamenta.

O cólera, cuja disseminação é facilitada pela ausência de saneamento básico e água potável, é facilmente tratável. Mas também pode matar em poucas horas se o paciente não tiver acesso ao tratamento, segundo a OMS.

Para combater a doença, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) distribuiu cloro solúvel para alguns moradores.

"O coronavírus não me assustou tanto quanto o cólera", diz Sabira Ali, supervisora escolar de 44 anos que perdeu dois parentes para a doença em outubro.

O diretor do hospital de campanha de Bebnine considera que, para travar a propagação, "é necessário mudar as infraestruturas, melhorar os poços e as fontes de água".

"Queremos uma solução de longo prazo, caso contrário teremos mais desastres", alerta Saadeddine.

"Água de esgoto, as fraldas, o lixo (...) tudo acaba no rio. É nojento! O que o município está fazendo?", questiona Jamal al-Sabsabi, 25 anos, apontando para a água escura que corre a poucos metros de sua casa. "Claro que a doença vai se espalhar!"

jos/at/tp/aoc/an/mr

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